Blog do Flavio Gomes
Indy, IRL, ChampCar...

#PRONTOFALEI

SÃO PAULO (quem quiser, que fale diferente) – OK, São Paulo pescou a Indy. O Rio só fez oba-oba com seu prefeito almofadinha, comparou o Aterro a Mônaco, mas não cacifou, perdeu. Faz algumas horas que a informação foi revelada por Victor Martins no Grande Prêmio. A notícia já foi digerida. Todo mundo comemorando, feliz da vida. […]

477254_transito_marginais_500_332SÃO PAULO (quem quiser, que fale diferente) – OK, São Paulo pescou a Indy. O Rio só fez oba-oba com seu prefeito almofadinha, comparou o Aterro a Mônaco, mas não cacifou, perdeu.

Faz algumas horas que a informação foi revelada por Victor Martins no Grande Prêmio. A notícia já foi digerida. Todo mundo comemorando, feliz da vida. Oh, que bacana! Será ótimo para a cidade! A economia vai ser movimentada, um press-release da emissora oficial, no caso a Bandeirantes (Band é uma das corruptelas mais infelizes da história) fala em 250 milhões de reais, puro chute, claro, o prefeito diz que a cidade tem vocação para não sei o quê, há um certo clima de regozijo, “ganhamos do Rio”, bobagens assim.

No Twitter, quando alguém diz algo que ficou segurando por um tempo, costuma terminar o post com a tag #prontofalei. É exatamente o que farei agora.

Não dá para fazer corrida de rua em São Paulo. Conheço a cidade. Não tem onde. Não uma prova desse porte. Estamos a menos de quatro meses da data escolhida, 14 de março. A área do Sambódromo, primeira a ser falada, terá um período de uso intenso, no Carnaval. Impossível fazer qualquer obra ali perto dos desfiles. E não consigo imaginar carros de corrida na passarela do samba. O piso não é apropriado.

Montar um circuito no entorno do Anhembi significa fechar vias importantes e muito movimentadas por semanas, porque não é só cercar uma área na sexta, sábado e domingo, para treinos e corrida. Será preciso fechar para asfaltar, redimensionar, fazer zebras, quebrar calçadas, realocar árvores, são obras grandes, demoradas. “Ah, mas em Mônaco fazem”, vai dizer alguém. Mônaco tem 33 mil habitantes e, provavelmente, menos carros rodando do que os que aparecem na foto da Marginal Pinheiros aí em cima. São Paulo tem 18 milhões de almas em sua área metropolitana e mais de 6 milhões de veículos registrados. E nenhum deles vai parar de trabalhar ou deixar de circular para que se faça uma corrida. Em Mônaco, dos 33 mil moradores, uns 30 mil saem da cidade no fim de semana do GP de F-1 e deixam-na para os turistas. Voltam na segunda-feira. É outra realidade 

Usar a pista do pequeno aeroporto de Campo de Marte seria a única alternativa para não atrapalhar o trânsito, que a cada dia é pior em SP. Mas tenho lido comentários aqui mesmo no blog, e recebi alguns e-mails com o mesmo teor, sobre a pauleira de Marte, com seus helicópteros e pequenos aviões. Pauleira mesmo. É o quinto maior aeroporto brasileiro em movimento, só perdendo para Congonhas, Cumbica, Galeão e Brasília. São 70 mil pousos e decolagens por ano, a maioria, cerca de 70%, de helicópteros. Qualquer interrupção de atividades causaria um transtorno absurdo para o tráfego aéreo local.

Transtorno que qualquer área da cidade sofrerá se tiver de ser fechada para a montagem de uma pista de corrida. Conheço São Paulo suficientemente bem para afirmar isso sem medo de errar. Quem encara 100, 200 km de lentidão por dia neste inferno que é o trânsito paulistano sabe do que estou falando. Qualquer que seja o local, terá de ser recapeado, por exemplo. São Paulo tem o pior asfalto do mundo, porque as empreiteiras que asfaltam ruas e avenidas fazem merda de propósito, para ter de fazer tudo de novo a cada dois ou três anos, e aí é uma gastança permanente e absurda a cada recapeamento.

Falaram no Ibirapuera. Impossível. Moro lá perto. Esqueçam. E se inventarem de colocar carro de corrida perto do parque, vou eu às ruas para impedir. Nem vem. A USP, outra opção. Não dá. Aquilo é um ambiente universitário. Tem coisa mais importante para se fazer lá do que correr de carros. Desafio qualquer um que more aqui a me indicar um lugar, unzinho só, que possa ser fechado, interditado, por um mês, sem foder a cidade inteira.

Prova de rua, só com muito planejamento. Nas coxas, não dá. A decisão de “comprar” a Indy, pelo que estou sabendo, foi tomada às pressas. Não houve planejamento algum. Ninguém tem a menor ideia de onde fazer. Se tivesse, já teria dito. Está com jeito de “o Rio largou, pega essa merda, vamos faturar em cima e depois a gente vê o que fazer”. A CET foi consultada? Há algum estudo do impacto no trânsito da cidade, que já estará em época de aulas? Alguém que entende de corrida e que sabe quais são as necessidades técnicas de uma prova disputada por carros que chegam a 300 km/h foi consultado?

Picas. Isso vai dar merda.

E mais. Alguém precisa pagar a conta. Não será a Band, não se iludam. Nem a IRL, que não vai de graça a lugar algum. Patrocinadores? Podem pingar algum dinheirinho, mas não bancam um evento desse tamanho. A fatura será apresentada no gabinete do alcaide Kassab. Claro. Ah, mas entra dinheiro na cidade, hotéis, restaurantes, puteiros. OK, com exceção dos puteiros, quase todos fechados pelo mesmo alcaide. Só que não há estudo algum do impacto econômico de uma prova dessas aqui. Tudo que se disser é chute. Qualquer comparação com a F-1 é chute também. Na F-1, sabe-se exatamente quanto custa adequar Interlagos, quantas pessoas cabem no autódromo, quantos turistas vêm para a cidade, a prova tem um histórico de 20 anos desde a volta da categoria à cidade, em 1990.

A Indy é um mistério. Não estava prevista no orçamento do ano que vem. Os vereadores aprovarão uma verba extra? Ninguém tem a mais remota ideia de quanto vai custar essa brincadeira. E aí, como faz?

Para mim, o chato de plantão, tem cara de jogada eleitoreira, sim. Já andaram pipocando especulações de que podem usar parte das novas pistas da Marginal do Tietê perto do Anhembi (passa pouco carro ali; parece até brincadeira), maior obra do governador Serra, ainda não entregue, uma aberração urbanística, mais uma, bem a calhar para mostrar ao país, pela TV, sua capacidade empreendedora. Alguns meses antes de se candidatar oficialmente a presidente. Sei. Nasci ontem.

Como gosto de corridas, espero que os fatos me desmintam. E que seja tudo uma maravilha. Mas desse jeito, às pressas, sorry, periferia. Tenho o direito de achar o que quiser. Por enquanto, estou achando tudo uma baita irresponsabilidade. #prontofalei.