Blog do Flavio Gomes
F-1

SENNA, 50 (20)

SÃO PAULO (não gosto) – Senna tinha um fotógrafo que trabalhava só para ele. Norio Koike era um japonesinho calado, baixinho, tímido, que não me lembro bem por quê caiu nas graças do piloto. Acho que fez alguma foto legal para uma revista, Ayrton gostou e o contratou como fotógrafo particular. Era o único que […]

SÃO PAULO (não gosto) – Senna tinha um fotógrafo que trabalhava só para ele. Norio Koike era um japonesinho calado, baixinho, tímido, que não me lembro bem por quê caiu nas graças do piloto. Acho que fez alguma foto legal para uma revista, Ayrton gostou e o contratou como fotógrafo particular. Era o único que tinha acesso a alguns redutos sagrados dele e da família, como a casa de Angra, a fazenda de Tatuí, o apartamento em Higienópolis, as moradas em Mônaco e na Serra da Cantareira, o avião e o helicóptero privados.

Norio era quase invisível. Senna preferia assim. Alguém que registrasse seus passos sem incomodar. Mal falava inglês. E era bom de cliques.

Conto essa história porque recebi hoje um press-release sobre um negócio qualquer em homenagem ao Senna pelos 50 anos, um cartão de aniversário global e virtual, ou real, sei lá. Não me interessei muito pelo assunto, mas percebi que tem chancela oficial, digamos, porque as fotos que acompanham o release são do Norio. Essas três em miniatura aí no alto.

Cliquem nelas. Repararam alguma coisa? Patrocínios apagados e/ou adulterados. No carro, não aparece marca nenhuma. Na carenagem tem um “power by” sem Ford. Sem Marlboro. Sem Shell. Sem Courtaulds. Sem Good Year. Sem Boss. No capacete, nada também. Na foto dele de pé, alterações grosseiras nos nomes das marcas que sempre o acompanharam.

Não querer associar sua imagem à de cigarro, vá lá — embora Senna, em todos seus anos de F-1, sem exceção, tenha tido patrocínios tabagistas como Marlboro, John Player Special, Camel, Rothmans. E o meu “vá lá” deve ser relativizado. Afinal, essas marcas estavam estampadas em seus carros e vestimentas. Não vejo motivo forte o bastante para alterar o passado e a realidade. E as outras marcas? O Banco Nacional nem existe mais. E o que seria de Senna sem o Nacional? E sem a Honda, a Shell, a TAG-Heuer, a Hugo Boss?

Mas Norio sempre foi silencioso. Não acho que vai reclamar de terem metido o Photoshop em suas fotos.