Blog do Flavio Gomes
Diários de viagem

DIÁRIOS, BÉLGICA

SÃO PAULO (não muda nunca) – Putz, achei um texto de 1997. Que poderia ter sido escrito hoje, pelo jeito. Spa é sempre uma grande interrogação climática. Está aí embaixo, sob ordens de minha editora Alessandra Alves, que não se cansa de repetir: “Coloque seus diários no ar nas semanas de corrida, ajuda a vender […]

SÃO PAULO (não muda nunca) – Putz, achei um texto de 1997. Que poderia ter sido escrito hoje, pelo jeito. Spa é sempre uma grande interrogação climática. Está aí embaixo, sob ordens de minha editora Alessandra Alves, que não se cansa de repetir: “Coloque seus diários no ar nas semanas de corrida, ajuda a vender seus livros!”. O e-mail dela, para comprar os livros, é aalves77@hotmail.com.

Sobre os itens de vestuário citados abaixo, prometo tirar uma foto hoje de algum deles, se encontrar, e colocar aqui. 

OS CASACOS BELGAS

Tenho uns dez casacos em casa, contando jaquetas, trench-coats, capas de chuva e blusões em geral. Oito deles comprei aqui, em Spa-Francorchamps, num shopping improvisado em barracas na entrada do circuito. O problema é que sempre esqueço de trazer agasalhos, as corridas na Europa são realizadas sempre no verão do Hemisfério Norte, enfim, é problema meu se sempre esqueço que estou indo para Spa.

E a Bélgica é a Bélgica. Chove todos os anos, não tem erro, se houver uma única nuvem sobre a Europa, ela estará sobre a Bélgica, ou, mais precisamente, sobre Spa e Francorchamps, duas cidadezinhas simpáticas ligadas por uma estrada que faz parte de uma pista de Fórmula 1.

E faz frio, também. Por isso, todos os anos compro um casaco qualquer aqui, por mera questão de sobrevivência. É rotina. Saio do meu chalé (corrida meio campestre, essa aqui) congelando, debaixo de um toró, chego ao autódromo e compro a primeira coisa que encontro capaz de me aquecer um pouco.

Teve um ano em que essa primeira coisa foi uma jaqueta da Pacific Racing, o que afinal acabou virando uma peça de coleção, já que a equipe nem existe mais. Me contaram que foi a única vendida até hoje, porque naturalmente ninguém é louco de comprar sequer um boné da Pacific, o que dizer de uma jaqueta, ainda mais de lã grossa, daquelas que pinicam.

Tenho também uma capa com a foto do Nigel Mansell sem bigode nas costas, mas essa, confesso, usei um dia só e tentei trocar porque não sou palhaço. A moça que vendeu não aceitou de volta. Argumentei que não sabia da foto e ela me mandou procurar o Procon. Tive que gastar uns francos belgas a mais para comprar algo menos ridículo, um casacão preto, meio antiquado, com as cores antigas da Lotus, preto e dourado. Fiquei parecendo um agente funerário, mas era melhor que o Mansell sem bigode.

Neste ano, quando fazia a mala às pressas para embarcar rumo a Frankfurt (e de lá, de carro, 300 km até Spa), lembrei que estava indo para a Bélgica, e não para Mônaco ou Magny-Cours, lugares quentes, ensolarados. Malandrão, catei o casaco piniquento da Pacific, o fúnebre da Lotus, uma jaqueta (essa eu nem lembrava que tinha) azul turquesa da época da Leyton House e um guarda-chuva sensacional, ele não abre direito, mas tem Andrea Moda escrito num dos cantos. Cheguei aqui armado até os dentes.

Está um calor dos diabos. Mesmo na sexta, a chuva que caía vinha quente do céu, dava para fazer chá. Ontem, sábado, fez sol o dia inteiro. E eu não trouxe camisetas, nem bermudas, nem bonés, nem mesmo um tênis – só botas. Fui obrigado a comprar tudo nas barraquinhas, até uma T-shirt com o Villeneuve estampado. Perguntei se não tinha alguma pré-cabelo amarelo, mas não tinha. Ainda bem que aqui ninguém me conhece.