Blog do Flavio Gomes
Automobilismo brasileiro

BASTA?

SÃO PAULO (respondam, please) – Recebo release da Porsche Cup, assinado pelo amigo e impecável Luiz Alberto Pandini. “Assino” a autoria logo de cara primeiro para que ninguém faça ilações sobre o autor do texto, que não apresenta nenhuma mentira. Só informações objetivas, diretas, sem nenhum tom laudatório a nada. E faço questão de publicar […]

SÃO PAULO (respondam, please) – Recebo release da Porsche Cup, assinado pelo amigo e impecável Luiz Alberto Pandini. “Assino” a autoria logo de cara primeiro para que ninguém faça ilações sobre o autor do texto, que não apresenta nenhuma mentira. Só informações objetivas, diretas, sem nenhum tom laudatório a nada. E faço questão de publicar porque esse pessoal da Porsche é do bem. Conheço bem o Dener, da Stuttgart, já visitei a oficina, sei a estrutura que eles têm e os carros… Bem, os carros são carros.

Não se trata, portanto, de mandar a lenha na categoria, na Porsche, na Alemanha, nos milionários que têm nas corridas um hobby de fim de semana. Trata-se apenas de perguntar: que preparo tem o novo piloto anunciado como uma das atrações do evento para guiar um Porsche de 420 hp numa competição profissional? Ele fez algum curso? Correu de alguma coisa antes? É seguro isso?

O piloto em questão é Rodrigo Pessoa, 39 anos, medalha de ouro no hipismo em Atenas/2004, bronze em Atlanta/1996 e Sydney/2000, campeão panamericano, tricampeão mundial. Um dos maiores atletas brasileiros de todos os tempos.

Pessoa adora corridas. Nascido em Paris e radicado na Bélgica, estava todos os anos em Spa para ver a F-1.

Pergunto: isso basta? Rodrigo andou ontem em Interlagos tendo como instrutor Nonô Figueiredo. Do release:

Na primeira saída, Pessoa fez algumas voltas no banco do passageiro, ao lado de Nonô; na segunda, eles inverteram posições. “O mais difícil é encontrar a coordenação certa nas mudanças de marcha, especialmente das mais altas para as mais baixas. Dei algumas voltas com o Nonô mostrando as coisas e isso foi muito útil para acelerar o aprendizado.” (…) Nesta temporada, Rodrigo Pessoa disputará três corridas da categoria Challenge: Curitiba (20 de agosto), Rio de Janeiro (17 de setembro) e Interlagos (27 de novembro, esta disputada como preliminar do GP do Brasil de Fórmula 1). Ele já pilotou karts em provas de longa duração e fez em 2006 um teste em Hockenheim com um Mercedes-Benz pilotado por Bernd Schneider no Campeonato Alemão de Turismo (DTM). “Mas agora é diferente: vou poder conhecer o carro e os limites mais a fundo”, explica.

Pergunto de novo: isso basta? O que a CBA exige de pessoas que resolvem ser pilotos de carros? Não seria necessário, ao menos, fazer um curso? Antes que me perguntem, fiz dois e sou, digamos, “formado”. Não seria necessário se graduar em alguma categoria mais lenta antes? É correto soltar numa pista um cara que nunca guiou nada, exceto karts, ao volante de um Porsche? Quem vai emitir uma carteira de piloto para ele? A qual avaliação será submetido, por parte das autoridades esportivas?

“Ah, Gomes, como você é chato, deixa o cara se divertir.” Não quero acabar com a diversão de ninguém. Acho legal que pessoas, sem trocadilho, queiram correr de carro. É gostoso, emocionante. Não acho que Pessoa vá fazer alguma bobagem. É atleta, um sujeito sério, pode ser que aprenda rápido. Mas pergunto mais uma vez: isso basta? Não seria preciso ter alguma experiência com carros e situações de corrida antes de sentar num Porsche?

Tá, sou chato, podem malhar à vontade. O Panda pode ficar ligeiramente irritado com este post, o mesmo pode acontecer com o Dener. Mas me desculpem. Eu acho perigoso. Que Pessoa se divirta e que nada aconteça com ele. Mas que está errado, está.