Blog do Flavio Gomes
F-1

BOSFORADAS (3)

SÃO PAULO (desse jeito, acaba onde?) – Vamos lá, sendo honestos: se esse rapazinho fosse brasileiro, já imaginaram? Já seria o melhor de todos os tempos, mesmo faltando algumas dezenas de vitórias e poles, uns quatro ou cinco títulos. E iria no Faustão, no Serginho Groismann, na Ana Maria Braga e no Jô. Mas Vettel […]

SÃO PAULO (desse jeito, acaba onde?) – Vamos lá, sendo honestos: se esse rapazinho fosse brasileiro, já imaginaram? Já seria o melhor de todos os tempos, mesmo faltando algumas dezenas de vitórias e poles, uns quatro ou cinco títulos. E iria no Faustão, no Serginho Groismann, na Ana Maria Braga e no Jô.

Mas Vettel será um deles, dos maiores de todos os tempos, sendo ou não brasileiro. Tem só 23 anos, mal faz a barba, nem sei se tem pelinhos no saco, e já faz tudo isso? Moleque de tudo. Aliás, é o que faz dele um piloto legal. É moleque, jovem, não tem afetações, não atribui vitória nenhuma aos céus, ao além, dá nome de mulher aos carros. E guia pacas.

Estava cá fazendo umas contas. Nas últimas nove corridas, desde Cingapura no ano passado, ele ganhou seis e terminou duas em segundo — não foram sete porque quebrou o motor na Coreia, quando liderava com folga. Fez as últimas cinco poles da F-1, as quatro deste ano e a última de 2010. É um piloto muito, muito bom.

Pena para ele que não está podendo curtir muito a diversão que estão sendo as corridas deste ano. O GP da Turquia foi tão agitado quantos os outros três, mas ele passa ileso pela brincadeira. Não pode nem usar a asa móvel, coitado. Alguém teria visto na TV hoje, Vettel acionar o dispositivo para passar um retardatário. Não notei. Mas se ele não usar para isso, vai usar quando?

Porque quando larga na pole, Vettel costuma ganhar sem ter de passar ninguém, liderando do começo ao fim. Foram 19 poles e dez vitórias a partir da posição de honra do grid. E em mais duas, quebrou quando liderava. Ou seja, como concluiria Luciano Burti: é um piloto que facilita as coisas. Mesmo numa F-1 tão frenética quanto a deste ano.

O GP turco teve muita ação, disputas ótimas entre Hamilton e Button, Petrov e Schumacher, Alonso e Rosberg, Massa e Hamilton, Rosberg e Massa, Alonso e Webber, Heideld e Petrov, isso sem falar no pelotão da merda, com Buemi, Alguersuari, Barrichello, Maldonado e o mito Kobayashi, que largou em último e chegou em décimo, tocando rodas e trocando sopapos.

Tudo graças aos pneus degradáveis e à asa móvel, de novo. Bem-vindos, pneus e asas. Já que existem, que pelo menos funcionem. E têm funcionado, com essas novas regras. Banalizaram um pouco as ultrapassagens, mas têm dado aos pilotos e ao público algo que faltava: diversão.

A borracha foi particularmente exigida em Istambul. A maioria parou quatro vezes, por conta do inesperado calor. Com temperaturas altas no asfalto, que ainda não tinham sido verificadas nos treinos, todo mundo se viu às voltas com um desgaste acima do normal. No total, foram 82 pit stops — apenas uma para cumprir punição, de Maldonado; os demais para troca de pneus, bicos, narizes e ofensas.

Claro que com tanta parada, acaba tendo muita cagada de box. Numa delas, Hamilton perdeu uns 10 ou 12 segundos além da conta e mesmo assim chegou em quarto. Em outra, Massa atrasou um pouco porque o cubo da roda traseira estava girando com o carro já erguido  (será que ele não deixou o pé no freio e por isso as rodas não pararam?) e o pobre do mecânico não conseguia colocar o pneu novo. Não faria muita diferença em seu resultado final, porém. Felipe, de novo, começou razoavelmente bem a prova mas, depois, foi perdendo rendimento, empacou séculos atrás de carros com pneus duros (e ele com macios), foi ficando para trás, terminou em 11º. Barrichello foi o 15º e não há muito a dizer sobre sua corrida, nem sobre a Williams que, segundo meu amigo Ivan Capelli, tem seu pior início de temporada na história, com zero ponto em quatro corridas.

Alonso acabou sendo o nome da prova, além de Vettel. Buscou o primeiro troféu do ano para a Ferrari e mostrou um ritmo de corrida impressionante para quem se arrastou nos treinos. Se os vermelhos melhorarem em classificação, podem sonhar com uma ou outra vitória neste ano. Porque nos treinos, a equipe tem andado para trás. E se não largar na frente, não tem milagre.

E que mais? Foi bem a Renault, com os dois nos pontos, e mal a Mercedes, de quem se esperava, pelos treinos, uma briga pelo pódio. Não deu. Rosberguinho foi o quinto e Schumacher, que fez uma corrida estabanada e irregular, ficou fora dos pontos. Buemi também andou com dignidade e terminou em nono.

Vettel chegou a 13 vitórias na carreira e entrou na lista dos 20 maiores vencedores da história. Com mais uma, empata com Emerson Fittipaldi. Muitas virão, claro. Essa mistura de gente talentosa costuma dar muito certo no esporte: um piloto como ele, um projetista como Newey, um chefe jovem e justo como Horner, um time motivado e moderno… Não tem como não funcionar