Blog do Flavio Gomes
Futebol

VAI, LUSA, SER FELIZ*

No exato momento em que escrevo, há uma pequena bandeira pendurada na janela. Ela está lá faz alguns dias, tomando sol e chuva, ao vento. Faz frio, um frio incomum nesta época do ano. Olho a pequena bandeira e lembro de mim, e de alguns outros, tomando sol, chuva e vento em tantas tardes e […]

No exato momento em que escrevo, há uma pequena bandeira pendurada na janela. Ela está lá faz alguns dias, tomando sol e chuva, ao vento. Faz frio, um frio incomum nesta época do ano.

Olho a pequena bandeira e lembro de mim, e de alguns outros, tomando sol, chuva e vento em tantas tardes e noites naquelas arquibancadas que, a esta hora, devem estar desertas e silenciosas como quase sempre.

Minha história recente, nossa história recente, tem sido assim. Ao sol, na chuva, ao vento, em arquibancadas quase sempre desertas e silenciosas. Nossas doses semanais de vida: pequenas alegrias, grandes decepções, enormes e inabaláveis esperanças.

Esse jogo de bola nos dá tudo isso, mas é preciso sentir a arquibancada fria ou o sol na cara para compreender o quanto ele nos confronta com tudo aquilo que a vida lá fora oferece. Exultar com a vitória, aceitar a derrota. Entender que tudo é passageiro e efêmero. Só o jogo de bola faz isso.

Naquelas arquibancadas, somos todos iguais. Disso não há dúvida. Somos todos idênticos nas breves alegrias e nas tristezas duradouras. Nesse jogo de bola é assim: alegria dura pouco, tristeza parece que não acaba nunca.

Mas sempre há uma esperança, a esperança no próximo jogo de bola, e um dia a gente percebe que tudo valeu a pena, cada noite na arquibancada deserta, cada tarde solitária nos degraus silenciosos olhando para a grama verde, aquele palco onde nem tudo acontece como a gente gostaria.

E um dia acontece tudo como a gente queria. Vale a pena a espera, ô se vale. Que seja uma única vez na vida, é o bastante. E foi assim neste ano, desde o primeiro jogo do campeonato de jogo de bola, o primeiro gol, o primeiro abraço no desconhecido ao seu lado.

Não lembrarei nunca dos resultados, são muitos e a memória, ultimamente, anda recusando tanta informação. Mas lembrarei de cada abraço no desconhecido ao meu lado, de cada lágrima que tentei esconder, de cada par de olhos vermelhos meio envergonhados, de cada sorriso trocado, de cada quilômetro de estrada rumo ao estádio distante, de cada minuto num aeroporto qualquer voltando de outro estádio distante, de cada sacolejar no ônibus que nos levou a um destino que é só nosso, e só a nós cabe a busca.

Lembrarei para sempre do momento em que gritamos, todos juntos, que somos campeões.

***

* Escrevi esse texto numa noite qualquer da semana passada, para ser lido na rádio. Acho que será, mais tarde. E hoje, perdoem os blogueiros, a cabeça não está nos carros, nem nas corridas. Volto amanhã, com a taça.