Blog do Flavio Gomes
F-1

CIAO, JARNO

SÃO PAULO (esquindô) – A história de que Petrov iria acabar ficando com a vaga de Trulli já rolava havia algum tempo. Faltava apenas alguém assinar o cheque. E hoje pela manhã a Caterham anunciou a saída do veterano italiano para a entrada do russo endinheirado. Não que Petrov seja milionário pessoalmente, um czar que […]

SÃO PAULO (esquindô) – A história de que Petrov iria acabar ficando com a vaga de Trulli já rolava havia algum tempo. Faltava apenas alguém assinar o cheque. E hoje pela manhã a Caterham anunciou a saída do veterano italiano para a entrada do russo endinheirado. Não que Petrov seja milionário pessoalmente, um czar que vive em palácios nababescos. Ele tem patrocinadores de seu país, e como a Rússia vai fazer um GP muito em breve, não tem como ficar sem um piloto na categoria. É um mercado importante demais. Tem dedo de Bernie nesse negócio.

Petrov, desta forma, desaloja um decano que sai sem se despedir, assim como Bruno Senna desalojou outro, Barrichello. Com o mesmíssimo roteiro: grana para oferecer, juventude e potencial para descolar patrocínios superando experiência, bolso vazio e currículo sólido, mas não brilhante, que pode ser descrito como “já-deu-o-que-tinha-que-dar”, ou “sai-da-frente-que-atrás-vem-gente”, ou, ainda, “a-fila-anda-rapaz”.

A Itália ficará sem um piloto no grid depois de não sei quantas décadas, vou levantar esse dado. Jarno, 37 anos, era, a exemplo de Rubens, um cara bem visto e querido por todos na categoria. Disputou 252 GPs e venceu um, em Mônaco/2004 com a Renault — corrida em que Montoya e Schumacher se estranharam no Túnel, jogando a vitória no seu colo. Subiu ao pódio 11 vezes e em quase todas elas pode-se dizer que foram troféus marcantes. Com a Prost em Nürburgring em 1999, por exemplo, foi segundo numa corrida vencida por Herbert, com Barrichello em terceiro — ambos da Stewart; e sete pela Toyota, time que defendeu com dignidade por cinco anos, fazendo duas das quatro poles de sua carreira — a última no Bahrein, em 2009.

Minardi, Prost, Jordan, Renault e Toyota foram as equipes de Trulli até os japoneses deixarem a categoria, e sobrou para ele a estreante e incerta Lotus malaia de Tony Fernandes em 2010. Ele foi de mala e cuia, topou o a tarefa ingrata de ajudar a montar um time do zero, correu dois anos se arrastando lá atrás, chegou a andar nos testes de Jerez semana passada e agora está a pé. Sai com um discurso mui civilizado, dizendo que entende a posição da equipe, agradecendo a todo mundo, desejando sorte a quem fica.

E é assim que funciona esta F-1. Agora, em dias de crise na Europa, mais ainda. Talvez nunca a lista de pilotos ditos pagantes tenha sido tão extensa: Bruno, Maldonado, Petrov, Pérez, Grosjean, Karthikeyan, e certamente estou esquecendo de alguém, porque tem uma legião de reservas que também está pingando algum no caixa combalido das equipes menores. É a troca da guarda. As saídas de Trulli e Barrichello são um marco definitivo de uma mudança de gerações.

Curioso é que os velhinhos que restaram, Schumacher e De la Rosa, estão, por assim dizer, recomeçando suas carreiras. Mas são casos particulares. Quem podem ser estudados à luz das mudanças pelas quais passam os quarentões no século 21 — os que não têm medo algum de começar tudo de novo.