Blog do Flavio Gomes
F-1

GILLES (4)

SÃO PAULO (30 anos é redondo, ok?) – Gilles Villeneuve não foi grande coisa como piloto, quando se olha apenas para os números. Fez duas poles e ganhou seis corridas em 67 GPs. Isso aí o Button fez na primeira metade de 2009. Mas era “nosso doido favorito”, como bem definiu o Ivan Capelli em […]

SÃO PAULO (30 anos é redondo, ok?) – Gilles Villeneuve não foi grande coisa como piloto, quando se olha apenas para os números. Fez duas poles e ganhou seis corridas em 67 GPs. Isso aí o Button fez na primeira metade de 2009. Mas era “nosso doido favorito”, como bem definiu o Ivan Capelli em sua coluna de hoje no Grande Prêmio. Bem doido. Por isso acabou como acabou, num acidente besta num treino em Zolder — o texto é de Fagner Morais, nosso estreante no site.

Gilles não virou ídolo por ter morrido num acidente. Virou ídolo porque era um show à parte em qualquer corrida, e por isso as pessoas gostavam dele. Gostamos de malucos, ainda que eles sejam irresponsáveis às vezes. Mas, principalmente, porque malucos não se preocupam com resultados, números, estatísticas, objetivos, foco. Apenas vivem.

Um maluco como Villeneuve, naquela F-1 dos anos 70 e 80, seguia seus instintos e tinha como maior ambição ser amado. Amado pela torcida da Ferrari, amado pelo comendador, amado pelos amantes do automobilismo. Isso foi. Tanto que seus erros todos eram perdoados como perdoamos uma criança que comete alguma travessura. E ele errou muito.

Enzo o adorava de paixão. Foi sua aposta para o lugar de Lauda, foi seu menino. Talvez nenhuma morte tenha sido tão sentida pelo fundador da Ferrari quanto a de Gilles, e daquele jeito, carro de um lado, corpo do outro. O acidente foi, realmente, horroroso.

Gilles deixou de herança Jacques, que na F-1 fez muito mais, mas jamais conquistou o coração dos torcedores como seu pai. Não se deve culpá-lo, no entanto. Quem, hoje, conquista sinceramente o coração de alguém a distância, apenas por guiar um carro de corrida? Quem desperta paixões verdadeiras mesmo sendo apenas um maluco beleza, um perdedor para os padrões atuais?

São poucos, e são poucos e poucas os que se apaixonam verdadeiramente pelos birutas do mundo, e por isso é fácil afirmar que outro Gilles não vai aparecer de novo. Ele seria crucificado pelos idiotas da objetividade antes de terminar de soletrar seu nome.