Blog do Flavio Gomes
F-1

¡PATRIA, SOCIALISMO O MUERTE!

SÃO PAULO (sensacional) – Eu abomino, via de regra, a mistura de patriotismo com esporte. Neste mundo mercantilista que estimula o individualismo e tem como cláusulas pétreas aquelas que fazem parte das sagradas Leis de Mercado, este deus invisível e inatacácel, a maioria das manifestações patrióticas que partem de atletas resvala na demagogia barata. Patriotismo […]

SÃO PAULO (sensacional) – Eu abomino, via de regra, a mistura de patriotismo com esporte. Neste mundo mercantilista que estimula o individualismo e tem como cláusulas pétreas aquelas que fazem parte das sagradas Leis de Mercado, este deus invisível e inatacácel, a maioria das manifestações patrióticas que partem de atletas resvala na demagogia barata.

Patriotismo de verdade não é só aquela babaquice de levantar a bandeira do país para fazer média. Num país como o Brasil, então, o verdadeiro amor à pátria é algo quase extinto, porque talvez nunca tenha havido na nossa história um real sentimento de pátria, de unidade, de querer o bem para todos, sem exceção.

Sejamos sinceros. Um dos esportes nacionais do brasileiro, principalmente o de classe média, é malhar o próprio país, falar mal de tudo e de todos, jogar a culpa de nossas mazelas nos outros, cuidar do próprio umbigo, para dizer só de vez em quando que adora o Brasil, que não existe lugar no mundo como esta terra abençoada etc. E isso, em geral, se diz no Carnaval e nas Copas do Mundo. Ou quando se está terminando uma viagem à Disney ou à Europa, ah, que saudade daquele feijãozinho, de um churrasquinho, de uma brahminha…

Patriotismo de Copa do Mundo em mim não cola, e é esse o que se pratica no Brasil. Portanto, desprezo e ignoro. Não é à toa que entre atletas de países desenvolvidos essas manifestações são bem mais raras, eles sabem separar bem as coisas, compreendem que suas vitórias são, na maioria das vezes, individuais, pessoais, particulares, nada têm a ver com remotos projetos de pátria que foram elaborados ao longo de séculos e estão hoje consolidados, e que cada um trate de fazer o melhor para que as coisas continuem funcionando bem.

Essa coisa sentimentalóide é própria de países mais pobres, que aflora nos raros sucessos que essas nações conseguem lograr diante dos mais fortes e poderosos. Compreensível, pois. Mas, ainda assim, via de regra, acho que a mistura esporte-patriotismo deve ser evitada sempre que possível.

Minhas convicções, no entanto, derretem quando vejo atletas cubanos, jamaicanos, africanos em geral, ou ainda das pequenas repúblicas da ex-URSS, ou da América Central, ou da América do Sul, se emocionarem verdade quando conquistam alguma coisa. Afinal, é a vitória sobre o poderoso, o explorador, o colonizador, o opressor, sim, o discurso é meio panfletário, mas é assim mesmo que são as coisas: os pequenos veem os grandes como seus algozes.

Digo tudo isso para justificar minha emoção ao ver o vídeo acima, enviado pelo impagável Dú Cardim. É de setembro de 2010, quando Maldonado corria na GP2.

Pensem o que quiserem. Mas, para mim, Pastor é um revolucionário autêntico, verdadeiro e sincero. Por isso foi tão legal vê-lo ganhar uma corrida de F-1.

PS: e apesar de tudo, todos notaram que Maldonado era o equilíbrio em pessoa no pódio de Barcelona, sem nenhuma reação extremada, sem estrebuchar em lágrimas. Sem misturar as coisas, como deve ser. Há palcos e palcos para manifestar patriotismo. O do vídeo acima é um deles, uma cerimônia em seu país, para celebrar a política esportiva do Estado. Na Espanha, Maldonado estava feliz por poder devolver à Venezuela (leia-se PDVSA) aquilo que ela deu a ele. Mas sabia, igualmente, o tamanho de seus próprios méritos. E que o pódio de um GP de F-1 não é um palanque. Eu, no seu lugar, subiria de boina vermelha…