Blog do Flavio Gomes
Automobilismo internacional

IS JUST WAITING (3)

LE MANS (vocês estão zoando que o Palmeiras ganhou do Grêmio, né?) – O Grande Prêmio vai cobrir as 24 Horas de Le Mans com a competência de sempre, e fizemos uma divisão justa. Eu entro com as cascatas e a turma do site se vira com o que a gente chama de factual. Como […]

LE MANS (vocês estão zoando que o Palmeiras ganhou do Grêmio, né?) – O Grande Prêmio vai cobrir as 24 Horas de Le Mans com a competência de sempre, e fizemos uma divisão justa. Eu entro com as cascatas e a turma do site se vira com o que a gente chama de factual. Como o treino que definiu o grid ontem à noite, por exemplo. Hoje não teve carro na pista.

Lotterer fez a pole com o e-tron, como se esperava, e o ultra do ano passado ficou em segundo. A Toyota ficou em terceiro apenas 1s055 atrás. Vai dar briga. Tem muito piloto bom na parada. O outro Corollão ficou em quinto. A corrida será entre as duas marcas, para a vitória na geral.. Mas é claro que tem as outras categorias, a LMP2 e as GTs, com 56 carros no grid. Diversão para todos. No total, serão 25 ex-pilotos de F-1 para a corrida, que começa amanhã às 15h daqui, 10h daí.

O Toyotão, assim como o e-tron, é híbrido. Mas não tem tração nas quatro. Os dois usam um motor elétrico alimentado pela energia das freadas. Um Kers com fermento. O motor a combustão dos Audi é o TDI V6 3.7 já usado há algum tempo com sucesso.

Le Mans faz parte do calendário do Mundial de Endurance da FIA, o WEC, que tem oito provas (duas já foram, em Sebring e Spa; deu quatro argolas em ambas), uma delas em Interlagos no dia 15 de setembro. A Audi vai levar dois carros, como Wolfy já avisou aí embaixo. É corrida para encher o autódromo. Se não encher, melhor assumir que brasileiro está cagando para corridas. O promotor é Emerson Fittipaldi, com quem vamos falar amanhã. A prova brasileira terá duração de seis horas.

A pole do Letterer foi a primeira de um híbrido na história de Le Mans. Assim como a primeira de um carro com tração nas quatro rodas, ainda que não seja uma tração permanente, como no meu Niva. O motor dianteiro, elétrico, só funciona de vez em quando.  A tração nas quatro, por exemplo, só rola a partir de 120 km/h e em determinados pontos do circuito. Mas é econômico. São apenas 58 litros de combustível no e-tron e 60 no ultra.

Não sei se vai passar a corrida na TV, mas tem este link aqui para assistir. Outra atração, sem dúvida, é o DeltaWing da Nissan, a segunda marca, depois da Audi, que mais barulho faz em Le Mans. O carrinho preto tem a simpatia do público, mas é hors-concours, corre apenas para desenvolvimento de novas tecnologias e não terá classificação em categoria alguma. O Ricardo Divila está trabalhando nele. Amanhã vou visitá-lo pela manhã nos boxes. Ele acabou de me mandar um e-mail dizendo que já está pra lá de Bagdá, cuidando também de um carro do Pescarolo. Melhor dormir um pouco.

A parada dos pilotos foi hoje no centro da cidade, pequena, típica das pequenas cidades francesas. Choveu muito, mas todos os pilotos desfilaram em carros antigos, abertos ou não, sem se importar com o frio ou com o assédio do público, que não é invasivo, mas é interessado e apaixonado pela corrida. Uma parada até simplória, sem grandes cerimônias. O troféu foi levado num Horch.

A Audi Tradition levou uns DKWezões Horch e Wanderer do pré-Guerra para seus pilotos desfilarem. Gosto da foto aí embaixo, os e-umbrella apertados no banco de trás acenando para o público e dando entrevistas com o carro andando, na buena. Sem frescura nenhuma.

O que adoro na Europa é essa paixão das pessoas por carros e corridas. Paixão verdadeira, autêntica, que leva milhares às ruas num dia frio e chuvoso para ver pilotos em sua maioria desconhecidos desfilando em calhambeques. Afinal, dos 150 e poucos que largarão amanhã, o mais célebre é Tom Kristensen, oito vezes campeão em Le Mans, um cara que a maioria de vocês não reconheceria se cruzasse com ele na avenida Paulista.

Da turma que já esteve na F-1, talvez Fisichella seja o mais famoso. E talvez por isso era o que tinha mais cara de cu no desfile. Os demais, como Bourdais, Gené, Sarrazin, Nakajima, Brundle, Chandhok, McNish, Wurz, Heidfeld, Davidson, Minassian, Montagny, Bouillon, estavam curtindo adoidado aquela coisa de dar autógrafos em folhas de papel molhadas, atirando camisetas, bonés e “cards” para o povo. Eram tratados com a mesma deferência que os gordinhos de cabelos brancos que também correm há anos em Sarthe com seus Porsches, Ferraris e Aston Martins, todos orgulhosíssimos e fazer parte de algo que, afinal, é puro encanto, uma declaração de amor ao automobilismo.

Enfim, uma festaque celebra o automóvel e a velocidade, a tradição (será a 80ª edição) e a coragem desses homens que vão varar a noite e a madrugada acelerando nas míticas retas de Le Mans, um autódromo de verdade, com gente de verdade, muros de verdade, torcedores de verdade, gente acampada por todos os lados e vinda de todos os cantos com seus carros novos ou velhos, trailers, Westfalias, Alfas, MGs, Triumphs, Renaults, Citroëns, Peugeots, Mercedes, BMWs, tem de tudo, uma miscelânea mecânica de todas as épocas e tipos, barracas com bandeiras, churrasqueiras, milhões de hectolitros de cerveja e, sobretudo, olhos brilhando.

Steve, o velho McQueen, sabia do que estava falando.