Blog do Flavio Gomes
F-1

BUDAS & PESTES (2)

SÃO PAULO (linda festa) – Depois do encantamento com a festa de abertura dos Jogos Olímpicos de ontem, como curtir muito um treino de classificação de F-1? Sorry, periferia. Durante Olimpíadas, todos os outros esportes deveriam, por respeito, suspender sas atividades. Em Pequim, quatro anos atrás, só teve corrida no dia do encerramento, aquela porcaria […]

SÃO PAULO (linda festa) – Depois do encantamento com a festa de abertura dos Jogos Olímpicos de ontem, como curtir muito um treino de classificação de F-1?

Sorry, periferia. Durante Olimpíadas, todos os outros esportes deveriam, por respeito, suspender sas atividades. Em Pequim, quatro anos atrás, só teve corrida no dia do encerramento, aquela porcaria de Valência. Que, por sinal, será excluída do calendário do ano que vem, segundo informações que vieram hoje de Budapeste. Ótimo. Bem feito para a Espanha e para a prefeita (acho que era prefeita, não tenho certeza) que torrou as finanças da cidade para fazer essa corrida chinfrim. Entra Nova Jersey.

Outro mistério para mim, essa história de inventar corridas nos EUA o tempo todo. Ah, o mercado americano é muito importante!, dizem todos, o tempo inteiro. Mercado de quê? Para comprar Ferraris? Bonés? Twingos? Pirelli? Que história é essa? Os caras não sabem o que é F-1. Vou repetir bem alto: NÃO SABEM! Os caras não sabem nada, na verdade.

Já foram 62 GPs disputados nos EUA até hoje, incluindo as 500 Milhas de Indianápolis entre 1950 e 1960. Vocês têm ideia do que é isso? Então eu digo. Só dois países tiveram mais corridas de F-1 que os EUA: Itália (88, contando os GPs de San Marino) e Alemanha (73, incluindo GPs da Europa e de Luxemburgo). Já tentaram de tudo na América dos capetas: Sebring, Indianápolis, Riverside, Watkins Glen, Phoenix, Dallas, Detroit, Las Vegas e Long Beach. Neste ano, tem Austin. Se não conseguiram conquistar o maldito mercado americano com tanta corrida e em tantos lugares diferentes, será agora?

Bom, pelo menos aquele lixo novo-rico de Valência vai para a vala da História.

Mas eu falava dos Jogos Olímpicos, e da festa de abertura de ontem. Linda. Bem menos impressionante que Pequim, mas muito mais bonita e humana. Há coisas que nos impressionam. Um prédio de 300 andares, por exemplo, em Dubai. Oh, que grande. Oh, que impressionante. Mas no fundo é uma bosta desnecessária. Aí você vê um predinho de quatro andares em Verona, com delicados toldos verdes na janela, quem sabe um pequeno balcão onde, um dia, uma linda menina passou a noite esperando seu namorado que nunca veio. É muito mais bonito.

Foi uma epifania que tive ontem à noite. Há coisas que nos impressionam, e outras de que gostamos. A festa da China foi tecnicamente impecável, marcante, monumental. Mas meio fake, como produtos chineses. Não curto muito essa China moderna, já deu para perceber. Londres, não. Londres mostrou a história da Inglaterra, que é a nossa. O que seria do mundo sem a Revolução Industrial, Shakespeare, os ônibus de dois andares, os pubs e os Beatles? Seria uma imensa China de merda. Por isso, eles tinham mesmo de mostrar a Inglaterra. A Inglaterra é universal. Mas fiquei com medo de quererem fazer algo tão musical daqui a quatro anos no Brasil. A Inglaterra tem motivos para se orgulhar de sua música. Não teve gerações perdidas, é tudo bom e épico, ao contrário do Brasil. O Brasil tem um bom samba, que é muito local, e a Bossa Nova, essa universal, mas talvez sofisticada demais. E o rock dos anos 80 que foi bom, é bom, mas também não pode ser considerado um fenômeno mundial.

E tem Michel Teló, Ivete Sangalo, Cláudia Leitte, Luan Santana, Restart, Molejo, Sacolejo, Laje no Quintal, Caxinguelê, Calypso, Revelassamba, MC McIntonsh, sei lá, inventei uns nomes (se não existirem, vou registrar), e vai que resolvem colocar essa fauna afetada para cantar, vai ser um desastre colossal. E como deve ser a Globo a dona do evento, corremos risco de ver Zeca Camargo, Fátima Bernardes e, terror dos terrores, Luciano Huck envolvidos.

Mas creio que faremos algo bonito. Tem muita coisa bonita no Brasil. Não temos, é verdade, um Mr. Bean (morri de rir, e acho demais essa capacidade do inglês de rir de si mesmo), uma rainha sonolenta, um James Bond, um Paul McCartney. Mas temos coisas legais, uma história bonita, natureza, ginga, mulheres lindas, alegria, sol, céu azul, mar, areia branca, florestas, tamanduás e ariranhas, além da Suelen, e é só encaixar tudo direitinho, escolher um bom diretor, montar uma Comissão do Bom Gosto e tudo correrá bem.

Faltou falar do treino de Budapeste. Daqui a pouco.