Blog do Flavio Gomes
F-1

BUDAS & PESTES (4)

SÃO PAULO (hoje tem Lusa) – Ah, não gostei não. Não gostei dessa corrida. Gostei do Raikkonen. O cara é o Fodão do Círculo Polar Ártico. Gostei do Bruno Senna, também, que fez uma corrida adulta e sólida. Gostei do Alonso, que de besta não tem nada, somou seus pontinhos e cagou para o resto. […]

SÃO PAULO (hoje tem Lusa) – Ah, não gostei não. Não gostei dessa corrida. Gostei do Raikkonen. O cara é o Fodão do Círculo Polar Ártico. Gostei do Bruno Senna, também, que fez uma corrida adulta e sólida. Gostei do Alonso, que de besta não tem nada, somou seus pontinhos e cagou para o resto. O negócio era ficar na frente do Webber e não muito longe de Vettel, ficou. Gostei do Hamilton, que não se assustou com cara feia de ninguém. Gostei até do Grosjean, que dividiu a curva com Kimi e, se perdeu, foi porque o outro era quem era. Não teve frescura.

Mas não gostei da corrida. Hungaroring de vez em quando nos oferece grandes provas. Mas, na maior parte das vezes, é uma procissão que deixa os pilotos agoniados. Neguinho entra na reta, abre a asa, atocha o dedo no botão do KERS, fica de pau duro e, quando vai passar, acaba a reta e broxa. Ou brocha. É com x ou ch? Não sei, nunca aconteceu comigo.

Nossa, como sou engraçado.

Com sol e calor, sem chuva, esse GP magiar era mesmo previsível. Hamilton, muito melhor que todos nos treinos, só perderia se fizesse alguma cagada. Não fez. Largou bem e só teve alguma preocupação nas voltas finais, com a aproximação de Kimi. Mas eles estavam com os mesmos pneus médios, seria difícil passar. A diferença de ritmo existia, a Lotus estava mais rápida, mas não muito mais.

Um parêntese. Quando a Renault virou Lotus, nas mãos desses cangaceiros do mercado financeiro que não sei direito quem são, achei que estavam vilipendiando o nome. Mas me penitencio. A equipe é legal, moderna, competente. Está honrando o nome. Quando a marca voltou naquele time verde da Malásia, dois anos atrás, Colin Chapman deve ter-se virado na rede de sua fazenda no Mato Grosso, onde vive desde que morreu. Agora deve estar mais tranquilo. Entre um soar e outro do berrante, tenho certeza que Chapman, conhecido como “Chapinha” pelos caboclos daquelas bandas, ergue um brinde com a cachacinha da região para celebrar a dignidade com que essa equipe conduz o nome Lotus, sua maior herança.

A corrida começou com a largada abortada por alguma trapalhada do homem que acende as luzes, mas isso não mudou muito a cotação do forint. O acendedor de luzes deve ter caído na putaria na noite de Budapeste e chegou de ressaca ao autódromo. Algo mais do que perdoável. Mas essa história só estrepou ainda mais Schumacher, que deixou o carro morrer, largou dos boxes, foi punido e danou-se. Webber largou bem, ganhando quatro posições, Senninha também, assim como Button. As posições se estabilizaram e a primeira janela de pit stops ajudou Kimi a passar Alonso — foi a única coisa relevante nas primeiras paradas, além da opção da Lotus por pneus macios com Grosjean e da Red Bull com Vettel, enquanto os demais trocaram pelos médios.

Não resultou em muita coisa, exceto pela pressão de Grosjean sobre Hamilton e de Vettel sobre Button. Pressão, nada mais. Até que Sebastião pediu pelo rádio: “Façam alguma coisa! Estou mais rápido que ele!”. Se fosse eu o engenheiro, mandava o rapaz à merda. Faça você. Mas fizeram. Button parou na 35ª volta e Vettel, quatro voltas depois. Assim, na segunda bateria, passou o bonitão da McLaren. Ambos acabariam parando três vezes. O alemãozinho, com pneus frescos, ainda esboçou um ataque a Grosjean nas voltas finais, 2s mais rápido por volta, e quase chegou. Mas ficou em quarto.

Essa segunda janela de paradas definiu a corrida. Grosjean parou na volta 40. Kimi, na 46. Nesse intervalo, acelerou feito um doente e quando saiu dos boxes, dividiu a curva com o companheiro cabeludo e ficou na frente. De quinto para segundo, depois de uma série de voltas espetaculares com pneus macios estropiados. Pilotaço, esse finlandês.

Pena que foi na Hungria. Em outra pista, ele chegaria e passaria o líder na fase derradeira da prova. No circuito sinuoso, travado e pornográfico de Budapeste, chegou, mas não passou. E ficou nisso: Luís Amílton, Fodão do Círculo Polar, Garibaldo, Sebastião, Fodón de las Astúrias, Bonittão, Primeiro-sobrinho, Canguru Desolado, Massacrado e Rosberguinho nas dez primeiras posições.

Alonso tem 164 pontos agora, contra 124 de Webber, 122 de Vettel, 117 de Hamilton e 116 de Raikkonen, se é que fiz as contas direito. Todo mundo na briga? Todo mundo na briga. Uns mais que os outros. Eu diria que, de todos, agora, pelo que se viu nas últimas corridas, Hamilton está em curva ascendente e pode incomodar Alonso mais que os dois da Red Bull. Os rubrotaurinos estão oscilando demais, inconstantes, irregulares, claudicantes, hesitantes, vacilantes, titubeantes, pendulares, isso aqui é um dicionário de sinônimos, incrível meu vocabulário.

Mas, apesar de me esforçar para mentir para vocês e dizer que o campeonato está abertíssimo, Alonso será o campeão.