Blog do Flavio Gomes
F-1

CHUVASTONE (2)

SÃO PAULO (cinza, cinza, cinza) – Quem não tem medo da chuva? O Raul perdeu. O Alonso não tem. El Fodón de Las Astúrias acabou com  jejum de poles da Ferrari. Foram quase dois anos, desde setembro de 2010, GP de Cingapura. Seca de 31 GPs, e Fernandinho foi para os braços do povo de […]

SÃO PAULO (cinza, cinza, cinza) – Quem não tem medo da chuva? O Raul perdeu. O Alonso não tem. El Fodón de Las Astúrias acabou com  jejum de poles da Ferrari. Foram quase dois anos, desde setembro de 2010, GP de Cingapura. Seca de 31 GPs, e Fernandinho foi para os braços do povo de novo. É a melhor fase de sua carreira. Nunca se viu uma virada de jogo tão forte quanto a que estamos observando neste ano. Quem, em pleno exercício de suas faculdades mentais, olharia para aquele carro vermelho de Melbourne e apostaria uma lira furada que poderia lutar pelo campeonato? Quando muito, para não ser convidado a correr na GP2. Mas brigar para ser campeão?

Nem mesmo Alonso. E hoje ele conseguiu sua 21ª pole, apenas a terceira pela Ferrari. No sábado mais legal do ano, ainda que marcado por um certo exagero na interrupção do treino por uma hora e meia, por causa da chuva, quando estava terminando o Q2. Avaliação por minha conta. A maioria dos pilotos aprovou. Pode parecer um pouco de frescura, mas os carros de F-1 estão cada vez mais delicados e dependentes de certas condições para sair do lugar. Essas condições inexistem em algumas situações, como pistas onduladas ou molhadas demais. Antes, mais toscos, eles andavam em qualquer lugar e de qualquer jeito.

Mas vamos por partes. Tudo começou hoje com pista seca, um espanto depois da chuvarada que atingiu a região nos últimos 500 anos, e no seco Alonso também foi o melhor, com 1min32s167 no terceiro treino livre. Mas veio a chuva, como sempre vem na Inglaterra em algum momento, e o Q1 foi levado na base dos intermediários, pistinha manhosa que degolou os de (quase) sempre e, acreditem se quiserem, Button.

Button tem uma relação curiosa com o GP da Inglaterra, muito parecida com a que tinha Barrichello com o GP do Brasil. Em 13 participações, contando a deste ano, seu melhor grid foi um segundo em 2005, de BAR. Em oito edições, a posição de largada teve dois dígitos. Já em corrida, um quarto lugar em 2004 e outro em 2010 foi o máximo que conseguiu. Nenhum pódio. Barrichello, em Interlagos, chegou a fazer três poles. Mas de suas 11 primeiras provas em casa, abandonou dez. Foi levar um trofeuzinho só na 12ª participação, em 2004, e ficou nisso. Mistérios do automobilismo.

O bonitão da McLaren ainda tem uma explicação razoável para o azar de hoje. Quando vinha para uma volta que o colocaria no Q2, Glock rodou na reta, meteram uma bandeira amarela, ele teve de tirar o pé e dançou, junto com as duplas da Caterham, da Marussia e da HRT. Vettel foi o melhor da primeira parte, com 1min46s279.

Só que a chuva apertou deliciosamente para o Q2, e lá vai a turba com pneus extremos (gosto desse termo, “pneus extremos”). Menos Ferrari e Williams, que acharam que com intermediários ainda dava e tal. Não dava. Os tempos caíram para a casa de 2min. No aguaceiro, rodadas por todos os lados, como de Alonso, Schumacher e Massa. Pérez fez 1min59s092 e aí parou tudo. Bandeira vermelha por excesso de água a 6min19s do fim. Àquela altura, estariam fora Maldonado, Di Resta, Grosjean, Schumacher, Massa, Alonso e Senninha.

Seria difícil virar o jogo com tão pouco tempo de treino, mas a hora e meia de interrupção fez com que a pista melhorasse um pouco, e quando foi tudo liberado, virou corrida. Muita pressa para virar tempo, uma aposta errada, da Sauber, que meteu intermediários em Pérez e Kobayashi, tempos baixando, desespero até no Twitter (da Lotus, a hashtag #GodSaveOurTyres) e, daquela zona total, emerge Hamilton com 1min54s897 em primeiro, Alonso em nono, Vettel em décimo, os dois batendo na trave, e a decapitação de Di Resta, Koba-Mito, Rosberguinho, Ricardão, Senna-sobrinho, Verme e o pobre Chapolin, que estava em primeiro antes da parada e caiu para 17°. Nesses minutinhos, quem rodou foi Grosjean, depois de passar ao Q3, e atolou na brita. A bandeira amarela no local atrapalhou Bruno, que vinha numa volta boa o bastante para passar pela primeira vez no ano à parte final da classificação.

E é o Q3 que costuma separar homens de garotos, como se diz. Com intermediários (menos Schumacher e Raikkonen, que começaram a última parte do treino com biscoitos profundos, mas trocaram depois), os nove mais-mais do dia tentaram o que puderam, e quem pôde mais foi Alonsito, 1min51s746, uma volta estupenda, 0s047 melhor que a de Webber, o segundo colocado, e 0s274 à frente do velhinho Schumi, que tem calado a boca de muitos críticos com atuações bem acima do que se espera de quem não precisa pagar o ônibus e pega fila diferenciada no banco.

Massa fez um bom quinto lugar, sua melhor posição de largada no ano. Vettel foi o quarto e larga na segunda fila ao lado de Schumacher, 50 anos mais velho. Raikkonen, mesmo sem o KERS, ficou em sexto. Maldonado, Hamilton, Hülkenberg e Grosjean fecharam a linha de frente. O alemão da Force India, porém, trocou o câmbio e perdeu cinco posições. Os outros dois punidos do dia foram Kobayashi (+5 no grid) e Vergne (+10) por acidentes causados na corrida de Valência.

Deve chover de novo amanhã. Dependendo da quantidade de água, a cautela vigente pode fazer com que a largada aconteça com safety-car. Ou que várias voltas sejam percorridas atrás dele, como na Coreia em 2010. Ou que haja alguma interrupção para o nível da água baixar. Vai ser uma corrida de sobreviventes, caso se confirmem as previsões. Não há favoritos. Nem mesmo os bons de chuva, como Alonso, Hamilton e Schumacher, estão imunes ao que uma pista molhada pode oferecer.