Blog do Flavio Gomes
F-1

CHUVASTONE (3)

SÃO PAULO (pula-pula) – E o desolado canguru venceu, que coisa bonitinha… É porque não choveu. Incrivelmente não choveu hoje em Silverstone, e no seco ninguém sabia direito o que fazer. Os que optaram pelo clássico, largar com macios, como largariam se tivessem feito a classificação no seco, acabaram se saindo bem. Não foi o […]

SÃO PAULO (pula-pula) – E o desolado canguru venceu, que coisa bonitinha… É porque não choveu. Incrivelmente não choveu hoje em Silverstone, e no seco ninguém sabia direito o que fazer. Os que optaram pelo clássico, largar com macios, como largariam se tivessem feito a classificação no seco, acabaram se saindo bem. Não foi o caso de Alonso, que arriscou o contrário, o que também fazia sentido: largar de duros, com carro pesado, e deixar os macios fresquinhos e bonitinhos para voar nas últimas voltas.

Mas os macios fresquinhos não funcionaram bem na Ferrari, e nas últimas voltas, depois do segundo pit stop, Webber, que ficou só ali quietinho a corrida toda, esperando para dar o bote, deu o bote. Aliás, eu achava que ia passar já na parada de Alonso, que milagrosamente voltou na frente. Mas não aguentou o ritmo mais forte da Red Bull com pneus duros.

Apesar de ter largado na pole, o segundo lugar não foi ruim para o espanhol. Mas o El Fodón de ontem foi apenas um El Fodín hoje… Não precisou fazer nenhum malabarismo para segurar a ponta nas duas primeiras fases da prova, e não tinha muito o que fazer na última para não ser jantado pelo australiano. Os pneus decidiram, num fim de semana em que ninguém sabia o que esperar da borracha. Foram apenas 60 minutos de pista seca, no treino livre de sábado. Esperava-se muita água, e a água não veio justo no domingo.

E Webber, que vence pela segunda vez no ano, nona na carreira, segunda em Silverstone (a outra foi aquela de 2010, nada mau para um segundo piloto), é o cara da Red Bull neste momento. Pelo menos na classificação do campeonato. Tem 116 pontos, contra 129 de Fernandinho. Mas não se iludam. Vettel é o ungido dos rubrotaurinos, aquele que tem uma piscina de energético em casa, sempre geladinha. Aquele que chama o chefe de Didi. Fez uma corrida boa hoje. Perdeu posições no início, é verdade, mas se recuperou nos pit stops e foi ao pódio. Tem 100 pontos, terceiro na tabela. Não fosse a quebra em Valência, estaria bem à frente, à frente até do asturiano. É ele, Vettel, que briga pelo título. Webber é muito cagado, uma hora cai um meteoro na sua cabeça. E, em algum momento, Alonso vai dar uma derrapada.

Ou não vai?

Sei não. Com o segundão de hoje, já são 21 corridas direto nos pontos. A última vez sem marcar nadica de nada foi no Canadá no ano passado. Nessa base, vai acumulando uma gordura que os outros pilotos, mais magros e esbeltos, não têm.

Uma pena, mas acho que a temporada que começou com 30 pilotos sonhando com o título, e que teve pouquíssimos pontos separando os seis, sete primeiros colocados, tem agora um funil por onde não passará mais ninguém além de Alonso e dos dois da Red Bull. Hamilton ficou. Foi oitavo, hoje. Com 92 pontos, está 37 atrás do líder ferrarista, e não dá muita pinta de que vai reagir. E como a McLaren pode achar que vai reagir? Tem um morto, Button, e um agoniado, Hamilton. Já era. Quem mandou não colocar os titulares nos testes de Mugello? Mandaram os estagiários, sifu. Ferrari e Red Bull melhoraram bem depois dos testes pré-temporada europeia. A McLaren, não. Sifu. Não tem acaso na F-1.

Massa fez sua melhor corrida do ano, melhor resultado desde o terceiro na Coreia em 2010.  Terminou em quarto. Por aí se tem uma medida de como vêm sendo difíceis seus últimos dois anos. Mas agora pode reagir, recuperar a autoconfiança e ajudar Alonso. E, sobretudo, convencer a Ferrari a esticar seu contrato por mais um tempinho. Foi bem, Felipe. Ao contrário do companheiro, partiu de macios. Não teve grandes problemas no fim da prova para segurar Raikkonen. Agora, precisa buscar um trofeuzinho.

Não foi a melhor corrida de todos os tempos, esse GP da Inglaterra. Talvez nem do fim de semana. Alguns pilotos tiveram atuações muito apagadas, como Hamilton e Schumacher, por exemplo. A Sauber só fez espuma. Gostei de Grosjean, apesar da largada não muito boa — soube se recuperar. Senninha fez uma largada excelente, deu uma rodadinha, mas também se recuperou, fez boas ultrapassagens e acabou em nono. Precisa disso mesmo, consistência, para se garantir no ano que vem.

E o papelão do dia foi de Maldonado. Deu um chega-pra-lá obsceno em Pérez, o que lhe rendeu todos os impropérios possíveis em espanhol. Cabrón! Boludo! Hijo de puta! Tonto del culo! Pajero! Foi isso que Pérez disse.

Esse rapaz, Maldonado, é ótimo piloto, evidente. Ganhou corrida, vive largando entre os primeiros, mas não goza da simpatia geral. Toda hora arruma uma treta. Algumas vezes, em treinos. Pérez disse que ele é um risco para os demais e que não respeita ninguém. O venezuelano se defendeu, disse que estava com pneus frios e falou que esta cagando y andando para o que diz o Chapolin Colorado. Simpatizo com o bolivariano. Mas alguém precisa falar com ele. A FIA, a Williams e o comandante Chávez.

E foi isso aí, o GP da Inglaterra. Mas, antes de terminar, uma perguntinha… Se fosse Alonso a vencer esta prova, exatamente como Webber venceu, estaríamos todos aqui rasgando a roupa e berrando que o espanhol é o melhor e mais gostoso do mundo. Mas foi o Webber que venceu, e ninguém rasga a roupa por ele, nem diz que ele é gostoso. Pobre Webber. Por que será que a gente é assim?