Blog do Flavio Gomes
F-1

AL DENTE (3)

SÃO PAULO (rabudo) – Sabe o que deve ser triste para quem ganha uma corrida? Ninguém falar de você. E vai ser o caso hoje. Vai todo mundo falar de Pérez e de Alonso. Hamilton, pobrezinho, será esquecido, relegado ao pó da rabiola. Bom, então vou falar do Pérez e do Alonso. O Hamilton fica […]

SÃO PAULO (rabudo) – Sabe o que deve ser triste para quem ganha uma corrida? Ninguém falar de você. E vai ser o caso hoje. Vai todo mundo falar de Pérez e de Alonso. Hamilton, pobrezinho, será esquecido, relegado ao pó da rabiola.

Bom, então vou falar do Pérez e do Alonso. O Hamilton fica para depois.

Pela ordem, o Chapolin Colorado. Corridaça. Saiu de 12° para segundo. Ele só foi parar na volta 30, dez voltas depois do resto. E como largou de pneus duros, teria os médios para as 23 voltas finais da prova. Saiu dos boxes em oitavo, depois de liderar, e foi passando todo mundo com um ritmo de 2 a 3s mais rápido por volta. Se a corrida tivesse mais umas três, passaria o Hamilton também. Consta que Pérez não parou depois da bandeira quadriculada, continua correndo e mandaram um sósia para o pódio para receber o troféu cocozinho. “Vou continuar até passar! Vocês não contam com minha astúcia!”

Segundão em Monza, na frente da cúpula da Ferrari, sei não…

Alonso, agora. Desde ontem, sabia que tinha o melhor carro do fim de semana. Ou, pelo menos, quase isso. Mas tinha feito o melhor tempo em todos os treinos. Deu um azar desgraçado com a barra estabilizadora na classificação e largou em décimo. A chave para o pódio foi o início da prova. Ganhar posições nas primeiras voltas era fundamental. E ele fez isso. Na segunda volta, estava em sexto, tendo passado uns caras difíceis como Di Resta, Rosberg, Kobayashi e Raikkonen. O passão em Schumacher um pouco mais tarde foi lindo: no começo da reta, onde ninguém espera tomar um risco no cockpit. Já estava bom. E como tinha uma corrida inteira pela frente, era só esperar pelo que poderia acontecer com os outros.

E aconteceu bastante coisa. Button, por exemplo, teve problema na bomba de gasolina no final. Um a menos. Vettel foi punido. Dois a menos. Massa estava à sua frente. Três a menos. Seis menos três igual a três. Está explicado o pódio.

Aqui, um parêntese. Punição besta para o Vettel, não? Exagero. Alonso reclamou pelo rádio, Luca de Montezemolo deve ter ido à torre, Enzo Ferrari saiu do túmulo e fez o mesmo. Na Itália, em Monza… Não, não pode fazer nada contra piloto da Ferrari que se dá mal. Tem máfia, Berlusconi, Cicciolina, Mussolini… Eu, hein. E viram que depois mandaram o Vettel parar o carro porque ia estourar o motor? Vocês acham mesmo que foi Christian Horner que falou com ele pelo rádio? Foi Gregorio di Falco, direto do posto da Guarda Costeira de Livorno. Na verdade, ele disse “vada a box, cazzo!”. O que colocaram no ar foi apenas uma tradução. Vettel obedeceu. O problema, esclareceu a Red Bull depois, era no alternador. E o rádio falou do motor! Está na cara que entrou boi nessa linha.

Outro parêntese. Claro, óbvio, evidente que Massa teria de dar a posição a Alonso. Ninguém nem precisaria pedir. E ele faria isso mesmo se já tivesse contrato vitalício com a Ferrari. Nesse caso, F-1 é esporte coletivo, sim. São equipes de dois membros. Um ajuda o outro quando é necessário. Neste ano, é necessário. Não era em 2002, na Áustria. Não era em 2010, em Hockenheim, pelas circunstâncias — Felipe tinha a chance de vencer depois do acidente, estava melhor que Alonso o fim de semana todo, seria ótimo para recuperar a autoconfiança, a decisão foi de uma insensibilidade atroz. Mas, agora, com Massa sem pretensão alguma no campeonato e Alonso lutando pelo título ponto a ponto, não faria o menor sentido Felipe chegar à frente do companheiro de equipe.

Chega de parênteses.

Mercedes, Maldonado e pilotos das nanicas foram os que fizeram dois pit stops numa corrida que a Pirelli já tinha avisado que daria para completar com uma parada só. No caso dos alemães, até que deu mais ou menos certo. Schumacher chegou em sexto e Rosberg, em sétimo. Pontos para eles. A equipe aceitou que o desgaste de seus pneus era maior que nas equipes rivais e não quis correr o risco de fazer as últimas voltas se arrastando. Na Lotus, total discrição para D’Ambrosio e mais uma ótima exibição de Raikkonen, quinto, mais dez pontos na bolsa, 141 no total, terceiro na classificação. Hamilton tem 142. Alonso, 179. O ferrarista saiu de Spa 24 na frente do vice-líder e deixou Monza com 37 de vantagem. E outro vice-líder. Era Vetttel, agora é Hamilton.

E é com Hamilton que ele tem de se preocupar na sete corridas finais. Button, com a quebra, se sonhava com algo, terá de esquecer. Vai trabalhar pelo parceiro, e faz todo o sentido. A McLaren tem o melhor carro para a parte final da temporada. Em duas ou três corridas, contando com um azarzinho ou outro de Alonso, Lewis encosta se mantiver a cabeça no lugar. Hoje, teve. Ganhou com autoridade e competência. No pódio, estava meio contido. As coisas com a equipe andam estranhas, mas nada que umas duas vitórias e um relógio bonito de presente não resolvam. Seria uma burrice da McLaren deixá-lo sair. Não tem ninguém bom o bastante para seu lugar.

Fechando, os brasileiros. Felipe fez uma corrida segura. Nas voltas finais, explicou que estava sem pneus, assim como Alonso — também ultrapassado por Pérez. Dois bons resultados, e pode-se dizer que deu um passo importante na direção da renovação. Senna conseguiu o décimo lugar na última volta, quando acabou a gasolina de Ricciardo. São sete corridas nos pontos, contra apenas duas de Maldonado. Igualmente importante para começar a olhar para o futuro com um pouco mais de otimismo. Mas Bruno continua precisando melhorar muito em classificação. Caso contrário, pode até pontuar com frequência. Mas pega apenas migalhas.

E fim de Europa. Agora a F-1 segue para a Ásia e fecha a temporada nas Américas. O Mundial continua legal. Pena que vai ter de correr naquelas porcarias de circuitos de mentira, como Cingapura e Abu Dhabi. Mas faz parte. Alguém tem de pagar a conta, diria Bernie Ecclestone.

Ah, notaram que os três do pódio de hoje foram vítimas de Grosjean em Spa? Imaginem o que teria sido do GP da Bélgica com todos eles na pista…