Hamilton fez a 24ª pole da carreira e quinta no ano. É evidente que a McLaren é o carro deste fim de temporada, e Alonso que se vire. Ontem eu brinquei que ele tinha arrumado outro adversário, Vettel. Mas na real, mesmo, é com Lewis que o espanhol tem de se preocupar. São 37 pontos de vantagem e sete corridas pela frente. O inglês tem de descontar uma média de 5,3 por etapa. Não é nada impossível, muito pelo contrário. É bastante plausível imaginar, por exemplo, mais de uma prova com Hamilton em primeiro e Alonso em segundo. Só aí são sete pontos. De primeiro para terceiro, dez.
Mas ele não pode se dar o luxo de cometer erros. Nenhum erro. Nada. Não pode fazer mais nada de errado até o fim do ano. Não pode ter unha encravada, dor de barriga, dor de cabeça, dor de dente, dor de corno, brigar com o pai, esquecer de pagar conta, nada. Tem de fazer essa reta final de maneira impecável. Porque se bobear, pode ter certeza que Alonso não bobeia.
Vettel? Acho que, no máximo, pode atrapalhar Hamilton. A Red Bull está inconstante demais. Vai andar bem amanhã, mas em pistas mais velozes tende a ficar para trás.
Hoje Lewis fez a pole cravando uma estaca no peito de todos que pensavam em chegar perto dele. Tanto que o único que se aproximou, mas sem ameaçar, foi Maldonado, que não tem medo de muita coisa na vida. Excepcional a pole, 1min46s362, e excepcional o segundo lugar do bolivariano, a 0s442 do britânico. Tião Alemão foi o terceiro a 0s543, com Button em quarto a 0s577. Alonso fez o que pôde e classificou a Ferrari em quinto, 0s854 atrás de Hamilton. Vai precisar de uma luneta na corrida. Larga ao lado de Resta Um, que confirmou a esquisita boa forma da Force India nessa pista — os forceíndicos, normalmente, andam bem em pistas rápidas, não em circuitos com sequências de esquinas, como o cingapuriano. Webber e Grosjean ficaram com a quarta fila. Todos esses classificaram-se com pneus supermacios, banda vermelha, chiclete puro, que vão aguentar três ou quatro voltas no início e, depois, terão de pensar em trocar. As paradas vão acontecer bem no começo da corrida.
Mas não para a dupla da quinta fila, Schumacher e Rosberguinho. No Q3, eles saíram dos boxes com pneus macios, banda amarela, deram uma voltinha acenando para o público coxinha e nem fecharam o cronômetro. Recolheram e vão apostar nas paradas prematuras dos rivais para assumir a ponta nas primeiras voltas, se largarem bem. É uma tentativa.
Com Maldonado na primeira fila, todo cuidado é pouco para os que o cercam. A Williams deveria conversar longamente com o venezuelano durante a madrugada. Ele tem uma ótima chance de pontuar na noite asiática de amanhã. E precisa. Desde a vitória em Barcelona, são oito corridas no zero. Quem larga em segundo tem a obrigação de fazer algo grande. Que seja minimamente inteligente, o rapaz.
A turma que ficou no Q2 teve algumas decepções, como Hülkenberg em 11° (mas tem chance de fazer boa prova, largando com macios), Raikkonen em 12° (ele também vai escalar o pelotão com macios, e o resultado era meio que esperado; desde ontem a Lotus não vai bem nas ruas de Cingapura), Massa em 13° (“No terceiro setor meus pneus acabaram, foi assim o fim de semana inteiro”, explicou), Pérez em 14° (depois do pódio de Monza, que cazzo aconteceu com a Sauber?) e Senna-sobrinho em 17° (bateu na sexta e bateu hoje de novo, concluindo que seu treino foi “para o beleléu”, expressão rara e precisa; Senninha é ruim demais de classificação, impressionante).
E a turma que empacou no Q1 foi a mesma de sempre, acrescida de Kobayashi, que não anda mitando muito neste campeonato.
Hamilton vai vencer a prova sem muitas dificuldades. É só largar direitinho e torcer para Maldonado não querer vingar nele tudo que os europeus fizeram com a América do Sul desde Colombo. Ano passado, Vettel fez a pole e ganhou com três paradas, a primeira delas na volta 14. Amanhã, três pit stops para todo mundo menos para a Sauber, como de hábito. E a primeira janela de paradas deve se abrir lá pela sétima ou oitava volta, a julgar pelo desgaste dos supermacios nos treinos.
O pole venceu em Cingapura em 2009, 2010 e 2011. E só não ganhou em 2008, primeira prova disputada no país, porque teve toda aquela patacoada da Renault com Nelsinho e Alonso, e a Ferrari esqueceu a mangueira no carro de Massa. Nas quatro edições anteriores dessa prova teve safety-car. É batata que vai ter de novo. Alguém vai estampar algum muro, certamente.
Agora vou dar uma passadinha no Pacaembu.