Apesar disso, a corrida foi boa. Mais pelas boas disputas, menos pela vitória de Button, tranquila demais e preocupante para os adversários. Ele fez tudo aquilo com uma troca de pneus, apenas. Assim como Vettel, o nome da corrida, o cara que fez mais ultrapassagens e mais lutou para apagar a péssima imagem da classificação no sábado. A McLaren fechou bem a primeira parte da temporada, ganhando com Hamilton numa pista lenta como a de Budapeste, e abriu bem a segunda, vencendo fácil num circuito rápido como Spa.
Será o bicho-papão das corridas que vêm por aí, o carro mclariano. Alonso bem que avisou. “O que temos não é suficiente”, falou, com ares de arauto do apocalipse, já na volta das férias. Pela primeira vez no ano deixou de pontuar (aliás, interrompeu a série de 23 provas seguidas nos pontos; poderia igualar Schumacher hoje, que ficou 24 provas consecutivas nos pontos não lembro bem em quais temporadas). Como Vettel terminou em segundo, a diferença dele para o alemão, que era de 42 pontos, caiu para 24. Menos que uma vitória. Campeonato de regularidade é assim: quem não tem o melhor carro, caso do espanhol, não pode escorregar. Deslizes serão cobrados na guilhotina. E o pobre do Alonso não cometeu deslize algum. Foi graças à besta do Grosjean que Vettel chegou. Fernandinho terá, em Monza, uma corrida decisiva. Tião Alemão vem babando. O espanhol que marque o rubrotaurino de perto. Vettel não tem brilhado intensamente neste ano, mas para quem gosta desse tipo de imagem literária, é “insidioso como um escorpião oculto na sola de uma botina velha de couro do Ulster” — parafraseando o clássico autor irlandês de fábulas sobre escorpião Desmond Hogan, que escrevia sob o pseudônimo de Joseph O’Malley; nem adianta buscar a citação no gúgou, porque eu fiz a tradução direto do celta.
A McLaren também ameaça, mas a distância nos pontos para o asturiano ainda é grande. Hamilton estacionou com 117 (47 atrás de Alonso) e Button tem 101 (63 atrás). É duro tirar tudo isso em oito corridas. Já Webber, com 132, está mais para ser ultrapassado por Raikkonen (131) do que para alcançar os que estão à sua frente. Está tudo aberto, é claro. Mas eu diria, neste momento, que Alonso tem de se preocupar mesmo é com Vettel. Pelo menos por enquanto. Ele é “insidioso como uma hiena faminta nas savanas do Quênia” — parafraseando o clássico poeta somali Abdillahi Suldaan Mohammed, que também não adianta buscar no gúgou, já que fiz a tradução direto do oromo.
Sem os cinco alijados da disputa na primeira volta, o GP belga teve ótimas disputas intermediárias e atuações destacadas da dupla da Toro Rosso e do forceíndico Hülkenberg. A zona da largada fez com que muita gente que estava atrás no grid saltasse para as primeiras posições logo de cara. Vejam: Schumacher, de 13° para 5°; Hülkenberg, de 11° para 3°; Di Resta, de 9° para 4°; Senna, de 17° para 8°; Kovalainen, de 18° para 10°. A partir daí cada um cuidou de fazer sua corrida da melhor forma possível.
Dos que arriscaram uma parada, só deu certo mesmo para Button e Vettel. Schumacher e Bruno, por exemplo, ensaiaram fazê-lo, mas no fim tiveram de apelar para o plano B e trocaram seus pneus pela segunda vez. No caso do brasileiro, um furo ajudou a precipitar a decisão. Nem todos aproveitaram aquele delicioso salto da largada. Hülkenberg foi o que se saiu melhor. Massa também largou bem, passou um monte de gente, mas na confusão da primeira curva foi passado pelo mesmo monte de gente e terminou em quinto. Ninguém deve se iludir muito com a posição, embora tenha sido um resultado importante pelos pontos e tal. Felipe mesmo falou: “Foi muito importante para mim”. Só que é preciso lembrar que cinco caras que normalmente chegariam à sua frente se estreparam na largada. Bruno, que andou nos pontos algum tempo, acabou tendo de fazer o segundo pit e terminou fora dos pontos. Liçãozinha de casa para ambos: é preciso melhorar nas classificações para sonhar com alguma coisa em corrida.
Outra presepada do dia foi de Maldonado, evidentemente perturbado pela punição de ontem. Queimou a largada, não? E depois bateu num carro da Marussia, de Glock, e perdeu o bico. Zero ponto de novo. Fiquei com dó da Sauber, que tinha tudo para fazer sua melhor corrida no ano e acabou igualmente zerada graças a… Grosjean, sempre ele. Que anta, esse Grosjean.
Grosjean, aliás, foi suspenso por uma corrida e levou multa de 50 mil euros pelas cagadas que fez. E Maldonado perdeu cinco posições no grid de Monza por queimar a largada e mais cinco por foder a vida do Glock. Vai para a Itália com dez de prejuízo.
Momento bonito da prova: Raikkonen passando Schumacher na Eau Rouge. Kimi ficou em terceiro. Acho que Michael, que fechou seu 300° GP em sétimo, deve ter ficado sem a sexta marcha. Foi o que falou pelo rádio. Pode ter sido ali, porque a impressão que tive foi de que tirou o pé, de tão fácil que o finlandês passou. A beleza da ultrapassagem esteve mais na reação rápida de Raikkonen do que propriamente na manobra de ultrapassagem.
E fim de papo. No mais, um pódio com três campeões mundiais, o que segundo o inefável Capelli é apenas a 13ª na história, desde Adão e Eva, que acontece. E um nome Senna como autor de melhor volta de uma corrida (Bruno cravou), algo que foi registrado pela última vez no GP da Europa de 1993 com Ayrton e Donington. Vale pela curiosidade.
E vamos almoçar, que a carne é fraca. Enquanto isso, comentem aí. Depois vejo as declarações da pilotaiada e volto.