Blog do Flavio Gomes
F-1

SPANTOSAS (4)

SÃO PAULO (muita maionese) – Começando do começo. Alguém pode determinar que Grosjean largue apenas na segunda volta? Inacreditável como esse rapaz faz merda em primeira volta. Hoje, em Spa, simplesmente tirou cinco possíveis protagonistas da corrida: ele próprio, mais Hamilton, Alonso, Pérez e Kobayashi. Cinco caras que poderiam brigar pelo pódio, por vitória, pela […]

SÃO PAULO (muita maionese) – Começando do começo. Alguém pode determinar que Grosjean largue apenas na segunda volta? Inacreditável como esse rapaz faz merda em primeira volta. Hoje, em Spa, simplesmente tirou cinco possíveis protagonistas da corrida: ele próprio, mais Hamilton, Alonso, Pérez e Kobayashi. Cinco caras que poderiam brigar pelo pódio, por vitória, pela puta que pariu. Mas não. Grosjean resolveu decidir a prova antes da primeira curva. Deu em Hamilton, decolou, atropelou Pérez e Alonso, acertou Kobayashi. Uma verdadeira anta. Koba, tadinho, ainda continuou na corrida. Mas seu segundo lugar no grid estava definitivamente estragado pelo estabanado francês da Lotus. Para não dizer estúpido.

Apesar disso, a corrida foi boa. Mais pelas boas disputas, menos pela vitória de Button, tranquila demais e preocupante para os adversários. Ele fez tudo aquilo com uma troca de pneus, apenas. Assim como Vettel, o nome da corrida, o cara que fez mais ultrapassagens e mais lutou para apagar a péssima imagem da classificação no sábado. A McLaren fechou bem a primeira parte da temporada, ganhando com Hamilton numa pista lenta como a de Budapeste, e abriu bem a segunda, vencendo fácil num circuito rápido como Spa.

Será o bicho-papão das corridas que vêm por aí, o carro mclariano. Alonso bem que avisou. “O que temos não é suficiente”, falou, com ares de arauto do apocalipse, já na volta das férias. Pela primeira vez no ano deixou de pontuar (aliás, interrompeu a série de 23 provas seguidas nos pontos; poderia igualar Schumacher hoje, que ficou 24 provas consecutivas nos pontos não lembro bem em quais temporadas). Como Vettel terminou em segundo, a diferença dele para o alemão, que era de 42 pontos, caiu para 24. Menos que uma vitória. Campeonato de regularidade é assim: quem não tem o melhor carro, caso do espanhol, não pode escorregar. Deslizes serão cobrados na guilhotina. E o pobre do Alonso não cometeu deslize algum. Foi graças à besta do Grosjean que Vettel chegou. Fernandinho terá, em Monza, uma corrida decisiva. Tião Alemão vem babando. O espanhol que marque o rubrotaurino de perto. Vettel não tem brilhado intensamente neste ano, mas para quem gosta desse tipo de imagem literária, é “insidioso como um escorpião oculto na sola de uma botina velha de couro do Ulster” — parafraseando o clássico autor irlandês de fábulas sobre escorpião Desmond Hogan, que escrevia sob o pseudônimo de Joseph O’Malley; nem adianta buscar a citação no gúgou, porque eu fiz a tradução direto do celta.

A McLaren também ameaça, mas a distância nos pontos para o asturiano ainda é grande. Hamilton estacionou com 117 (47 atrás de Alonso) e Button tem 101 (63 atrás). É duro tirar tudo isso em oito corridas. Já Webber, com 132, está mais para ser ultrapassado por Raikkonen (131) do que para alcançar os que estão à sua frente. Está tudo aberto, é claro. Mas eu diria, neste momento, que Alonso tem de se preocupar mesmo é com Vettel. Pelo menos por enquanto. Ele é “insidioso como uma hiena faminta nas savanas do Quênia” — parafraseando o clássico poeta somali Abdillahi Suldaan Mohammed, que também não adianta buscar no gúgou, já que fiz a tradução direto do oromo.

Sem os cinco alijados da disputa na primeira volta, o GP belga teve ótimas disputas intermediárias e atuações destacadas da dupla da Toro Rosso e do forceíndico Hülkenberg. A zona da largada fez com que muita gente que estava atrás no grid saltasse para as primeiras posições logo de cara. Vejam: Schumacher, de 13° para 5°; Hülkenberg, de 11° para 3°; Di Resta, de 9° para 4°; Senna, de 17° para 8°; Kovalainen, de 18° para 10°. A partir daí cada um cuidou de fazer sua corrida da melhor forma possível.

Dos que arriscaram uma parada, só deu certo mesmo para Button e Vettel. Schumacher e Bruno, por exemplo, ensaiaram fazê-lo, mas no fim tiveram de apelar para o plano B e trocaram seus pneus pela segunda vez. No caso do brasileiro, um furo ajudou a precipitar a decisão. Nem todos aproveitaram aquele delicioso salto da largada. Hülkenberg foi o que se saiu melhor. Massa também largou bem, passou um monte de gente, mas na confusão da primeira curva foi passado pelo mesmo monte de gente e terminou em quinto. Ninguém deve se iludir muito com a posição, embora tenha sido um resultado importante pelos pontos e tal. Felipe mesmo falou: “Foi muito importante para mim”. Só que é preciso lembrar que cinco caras que normalmente chegariam à sua frente se estreparam na largada. Bruno, que andou nos pontos algum tempo, acabou tendo de fazer o segundo pit e terminou fora dos pontos. Liçãozinha de casa para ambos: é preciso melhorar nas classificações para sonhar com alguma coisa em corrida.

Outra presepada do dia foi de Maldonado, evidentemente perturbado pela punição de ontem. Queimou a largada, não? E depois bateu num carro da Marussia, de Glock, e perdeu o bico. Zero ponto de novo. Fiquei com dó da Sauber, que tinha tudo para fazer sua melhor corrida no ano e acabou igualmente zerada graças a… Grosjean, sempre ele. Que anta, esse Grosjean.

Grosjean, aliás, foi suspenso por uma corrida e levou multa de 50 mil euros pelas cagadas que fez. E Maldonado perdeu cinco posições no grid de Monza por queimar a largada e mais cinco por foder a vida do Glock. Vai para a Itália com dez de prejuízo.

Momento bonito da prova: Raikkonen passando Schumacher na Eau Rouge. Kimi ficou em terceiro. Acho que Michael, que fechou seu 300° GP em sétimo, deve ter ficado sem a sexta marcha. Foi o que falou pelo rádio. Pode ter sido ali, porque a impressão que tive foi de que tirou o pé, de tão fácil que o finlandês passou. A beleza da ultrapassagem esteve mais na reação rápida de Raikkonen do que propriamente na manobra de ultrapassagem.

E fim de papo. No mais, um pódio com três campeões mundiais, o que segundo o inefável Capelli é apenas a 13ª na história, desde Adão e Eva, que acontece. E um nome Senna como autor de melhor volta de uma corrida (Bruno cravou), algo que foi registrado pela última vez no GP da Europa de 1993 com Ayrton e Donington. Vale pela curiosidade.

E vamos almoçar, que a carne é fraca. Enquanto isso, comentem aí. Depois vejo as declarações da pilotaiada e volto.