Blog do Flavio Gomes
F-1

CAMELÓDROMO (4)

SÃO PAULO (vão sifu) – Foram necessárias 4h40 para os comissários da FIA desclassificarem Vettel do grid de Abu Dhabi. Assim que terminou a classificação, o alemão voltava para os boxes quando estacionou o carro entre as curvas 18 e 19 aos gritos de “para essa merda, caralho!” pelo rádio. Porque é assim: quando acaba […]

SÃO PAULO (vão sifu) – Foram necessárias 4h40 para os comissários da FIA desclassificarem Vettel do grid de Abu Dhabi. Assim que terminou a classificação, o alemão voltava para os boxes quando estacionou o carro entre as curvas 18 e 19 aos gritos de “para essa merda, caralho!” pelo rádio. Porque é assim: quando acaba um treino ou corrida, tem de ter pelo menos um litro de gasosa no tanque para que a FIA possa analisar o valioso combustível. Pelos cálculos da Red Bull, não tinha.

Antigamente eram comuns alterações químicas, amostras diferentes das que eram aprovadas no começo do ano, roubalheira geral. Isso acabou.

Hoje, as equipes têm equipamentos que medem com enorme precisão consumo e quantidade de combustível no tanque, porque não vale a pena carregar um grama extra sequer no carro à toa. Piloto não pode nem colocar medalhinha no pescoço, porque pesa. Só que trabalham no limite. Limite extremo, como se diz.

Vettel tinha 850 ml no tanque. A FIA levou quase cinco horas para “descobrir” que isso é irregular e o alemão, que era terceiro no grid, teve seus tempos de classificação desconsiderados. A Red Bull informou que ele parte do pit lane.

A entidade aceitou as explicações para o carro ter parado no meio do caminho, por alegados motivos “de força maior”. Na prática, a Red Bull sabia que se ele chegasse andando, haveria menos gasolina no tanque do que pedem as regras. Apostaram em alguma imprecisão de sua telemetria. Podia ser que restasse um litrinho ali, se Vettel parasse no meio da pista. Aí alegaram que o carro morreu, a bomba de gasolina pifou, por isso não voltou aos boxes. É argumento aceitável. Mas se tivesse menos gasolina, seria fácil pegar. Foi uma tentativa. Tinha menos, babau.

Alonso ganhou uma sobrevida. Mas não tanto assim, porque seu carro continua pior que o da Red Bull. Vai chegar na frente do líder do campeonato e a diferença de 13 pontos vai cair um pouco. Ótimo para o campeonato, esse erro rubrotaurino. Deixa a decisão para a última corrida do ano, em Interlagos, provavelmente. Vettel segue sendo favorito. Agora, é claro que se não fizer uma corrida com a cabeça amanhã, pode por tudo a perder. Vai precisar de uma paciência de Jó para ganhar posições aos poucos. Se quiser resolver tudo na marra, é capaz de se dar mal.

Não há muito o que discutir sobre essa punição. Aconteceu o mesmo com Hamilton na Espanha. Na ocasião, ele largou em último e terminou em oitavo. É mais ou menos aquilo que Sebastian pode fazer, se evitar cagadas, mas com um pouco mais de trabalho, porque Abu Dhabi é ruim de passar. Como seu carro está meio carregado de asa, com velocidades finais baixas em relação à maioria, a tarefa de escalar o pelotão não será das mais simples. Mas como vão tirar o carro do regime de Parque Fechado, vai dar para mexer aqui e ali.

Alonso que aproveite. Ele era sétimo no grid, agora é o sexto. Também vai precisar de muita cautela no início. E uma dose de paciência semelhante à de Vettel.

Falemos do treino, então.

A pole, sexta do ano e 25ª da carreira, foi de Hamilton. A McLaren é a equipe mais sobe-desce do ano. Lewis conseguiu a pole com grande facilidade, 0s348 sobre Webber, o segundo no grid. “Meus décimos extras vieram da minha família!”, disse no comunicado oficial da equipe, e não entendi picas. Lewis anda bem nesse tipo de pista. É o grande favorito à vitória, agora que Vettel foi jogado para o fundão.

O Q3 foi legal para ver como a situação de Alonso só piorava, coitado. Nas duas rodadas de voltas rápidas (só Rosberguinho abriu mão da segunda), todo mundo ia passando o espanhol. E era o normal: as duas McLaren, uma Lotus, uma Williams (aqui, a surpresa; Maldonado foi bem pacas), as duas Red Bull e, no fim das contas, a posição esperada.

Pelo temporal, Hamilton foi o grande destaque. Já tinha sido o mais rápido no Q1 e no Q2, também. Maldonado, quarto tempo, terceiro no grid com a punição, é outro que tem do que se orgulhar. Massa larga em oitavo. O resto foi mais ou menos normal.

Como normal foi o Q2, que limou Force India, Sauber, Schumacher, Senninha e Ricciardo. Como normal foi o Q1, que degolou os seis nanicos e Vergne.

Claro que a punição mudou a história da corrida e pode ter alterado o rumo deste final de temporada, que era bastante previsível. Alonso, que vinha reclamando da falta de sorte, não tem do que se queixar hoje. Vai dormir feliz, com a sensação de que os ventos podem ter mudado de direção.