Kudelski desenvolveu o primeiro gravador portátil de rolo e batizou-o de Nagra — em polonês quer dizer “vai gravar”, como conta Tide Borges neste excepcional artigo no site da Associação Brasileiro de Cinematografia. A vida dos cineastas mudou. E para além da facilidade quase instantânea, comparada com a epopeia dos métodos anteriores, estava a qualidade. Não há nada no mundo como o som de um Nagra. Até hoje, desconfio.
E foi num Nagra que comecei minha carreira no rádio, como contei neste distante post de 2007 aqui. Era com um equipamento desses que o Chico Cocco, mágico de som da ECA (onde a gente produzia nosso “Encontro com a Ciência”), gravava as entrevistas para as pautas malucas que saíamos para fazer por esse Brasilzão afora. Fiquei triste ao revisitar o post e notar que todos os links indicados saíram do ar. Receio que aquelas gravações podem ter-se perdido para todo o sempre, sabe-se lá. Talvez nos arquivos da Rádio Cultura, ou da USP. Jamais saberei.
Mas eu sabia, e bem, editar uma matéria. Na gilete, cortando gaguejadas, suspiros, pausas, limpando perguntas e respostas, tudo isso não num Nagra, que era bom demais para editar, mas num Akai vertical instalado na edícula da casa que nos servia de escritório e redação em Pinheiros. Gilete, a fitinha adesiva para emendar a fita magnética (como chamava essa fitinha, caramba?), o lápis roxo que fazia as marcações, e assim montávamos grandes entrevistas, grandes matérias, que não sei se eram escutadas por muita gente. A Rádio Cultura AM nunca teve lá grande potência e audiência, eu mesmo costumava parar o carro em algum canto quando começava o programa para poder escutar sem grandes interferências.
Pois foi num Nagra que gravei os sons ao redor de mim por dois anos. Creio que isso é, hoje, peça de museu. Como eu, de certa forma.