Blog do Flavio Gomes
F-1

PAGOU, CORREU

SÃO PAULO (eterna polêmica) – A quantidade acima da média de pilotos pagantes na F-1 tem suscitado algumas discussões interessantes e declarações fortes, como este artigo do Américo Teixeira Jr. e esta entrevista de Jarno Trulli. De fato, a coisa parece ter saído do controle. A ponto de, hoje, ser quase irrelevante para algumas equipes […]

F1 Grand Prix - Race" src="https://flaviogomes.grandepremio.com.br/wp-content/uploads/2013/02/Pastor-Maldonado-corrida-Barcelona-2012.jpg" width="930" height="620" srcset="https://flaviogomes.grandepremio.com.br/wp-content/uploads/2013/02/Pastor-Maldonado-corrida-Barcelona-2012.jpg 930w, https://flaviogomes.grandepremio.com.br/wp-content/uploads/2013/02/Pastor-Maldonado-corrida-Barcelona-2012-300x200.jpg 300w" sizes="(max-width: 930px) 100vw, 930px" />SÃO PAULO (eterna polêmica) – A quantidade acima da média de pilotos pagantes na F-1 tem suscitado algumas discussões interessantes e declarações fortes, como este artigo do Américo Teixeira Jr. e esta entrevista de Jarno Trulli.

De fato, a coisa parece ter saído do controle. A ponto de, hoje, ser quase irrelevante para algumas equipes a qualidade e o currículo de quem vai se sentar nos seus carros.

Contribui para isso, creio, o peso cada vez menor do piloto numa mudança real de patamar de uma equipe.

Olhemos a Marussia, por exemplo. Se ela tivesse, imaginemos, uma verba exclusiva para contratar pilotos, mas não pudesse investir nenhum centavo dessa verba no desenvolvimento do carro, na fábrica, em pessoal técnico etc. Digamos: 50 milhões de dólares.

Contrataria Alonso e Vettel — uma ótima dupla, não? Mas o que mudaria em seu destino? Nada. Continuaria andando ali perto da Caterham. Talvez largasse em 19° e 20°. Mas não seria uma equipe de ponta nunca. Dois pilotos fenomenais não seriam capazes de mudar o patamar técnico do time, que continuaria a ser o pior de todos.

Assim, para quê apostar em talentos não pagantes, se o resultado final será o mesmo? Opta-se, desta maneira, por alguém que, pelo menos, ajude a equipe a continuar existindo.

Piloto pagante não é fenômeno recente, muitas equipes pequenas, ao longo da história, se valeram do recurso para sobreviver e/ou nascer. E muitas estrelas da F-1 chegaram à categoria nessa condição, como Alonso e Schumacher. O primeiro foi bancado pela Telefónica na Minardi e o segundo, pela Mercedes na Jordan. Há dezenas de casos.

Mas há uma diferença básica entre o que acontecia e o que acontece atualmente. O caminho era inverso. Empresas e patrocinadores apostavam em pilotos talentosos e davam um empurrãozinho. Ficavam de olho em quem estava surgindo, em quem ganhava nas categorias de base, em quem merecesse um investimento. A Arisco fez isso com Barrichello por anos. E não era por causa de seus belhos olhos, nem por qualquer tipo de relação comercial com a família — os Barrichello vendiam material de construção, não catchup e mostarda. Simplificando a questão: era preciso, antes de qualquer coisa, ser bom, muito bom, para chamar a atenção de algum mecenas disposto a investir, apostar, para auferir algum lucro depois. O que vocês acham que fez o banco Nacional com Senna?

Hoje, não é preciso ser bom, basta saber dirigir um carro. E ter bons relacionamentos comerciais ou ser rico de nascença, mesmo. No lote atual da F-1, há exemplos das duas modalidades. Pérez é um desses. O bilionário Carlos Slim botou dinheiro no moleque porque ele tinha futuro. Para a Sauber, foi o melhor tipo de piloto pagante possível, aquele que traz dinheiro e talento. Pode ser que a fórmula dê certo com Gutiérrez, também. Maldonado é outro exemplo, embora a motivação do investimento, da PDVSA, tenha um componente político que não faz parte da história de Pérez. Mas dá para dizer que deu errado? Se você acha que sim, olhe a foto aí em cima para refrescar sua memória.

Mas há também aqueles que nada têm a apresentar além da possibilidade de patrocínio forte, na maioria das vezes obtido por relações pessoais, mais do que a simples simpatia de uma empresa ou a crença de que está investindo em alguém que pode gerar lucros lá na frente. Van der Garde é herdeiro de uma marca de roupas. A mãe de Charles Pic tem uma frota de seis mil caminhões na França. Luiz Razia tira do bolso da família, até onde se sabe. Bruno Senna tinha Gillette, Embratel e Eike Batista a bancar a brincadeira, e isso só acontecia pelo sobrenome. Petrov atraía patrocinadores de seu país, que em breve receberá uma etapa do Mundial. E por aí vai.

A grande questão não é, pois, se pilotos pagantes deveriam ou não existir. Essa é uma discussão inútil, eles sempre existirão enquanto houver equipes que dependam disso para correr. Aí sim entra a verdadeira discussão: não é frágil demais uma modalidade cujos escolhidos para sua prática são medidos muito mais pela capacidade de trazer dinheiro do que pelo talento que possuem para exercer sua atividade? Não é frágil demais, do ponto de vista esportivo, uma categoria em que ser um Alonso ou um Max Chilton, dependendo do carro em que ele estiver sentado, dá mais ou menos no mesmo?

O formato atual da F-1, com suas exigências financeiras, seus custos assombrosos, a crise econômica na Europa, está fazendo com que ela deixe se ser aquilo que sempre foi: o destino final dos melhores, o campeonato que reúne só os bons, os muito bons, aqueles que foram subindo degrau por degrau colecionando troféus e construindo sua fama, sem espaço para a mediocridade. Essas coisas não importam mais.

Nesta F-1 do século 21, em resumo, qualquer um corre. Claro que isso não vale para os times de ponta, capazes de montar seus orçamentos por outros meios. Ali, naquela turma que tem Ferrari, McLaren, Red Bull e Mercedes (os únicos times sem pilotos pagantes), talento é importante, sim, porque é o que decide na hora de brigar com seus pares igualmente gigantescos. Mas daí para baixo, basta ter uma grana razoável, ou uma forma de obtê-la. Muito mais que um currículo, é preciso ter um bom “business plan”. E muita gente realmente boa acaba ficando de fora da festa.