Blog do Flavio Gomes
F-1

HABEMUS MELBOURNE (4)

SÃO PAULO (ô, horário difícil) – O que é mais engraçado em Raikkonen é como ele reage a uma vitória. Duas frases pinçadas: “O carro é bom”, disse, pelo rádio, enquanto o engenheiro procurava adjetivos para sua pilotagem. “Foi uma das vitórias mais fáceis da minha vida”, depois, quando todos demonstravam espanto por sua atuação […]

SÃO PAULO (ô, horário difícil) – O que é mais engraçado em Raikkonen é como ele reage a uma vitória. Duas frases pinçadas: “O carro é bom”, disse, pelo rádio, enquanto o engenheiro procurava adjetivos para sua pilotagem. “Foi uma das vitórias mais fáceis da minha vida”, depois, quando todos demonstravam espanto por sua atuação segura e precisa.

Do ponto de vista de trabalho para passar muita gente, disputar freadas e tudo mais, de fato não foi tão complicado assim. Basicamente, o GP da Austrália foi vencido na estratégia de duas paradas, contra três de quase todo mundo. Mas tal estratégia só dá certo se o cara guia direito. Kimi guia direito. É um dos grandes.

Gostei da prova. A dúvida sobre a quantidade de pit stops será permanente ao longo do ano. O desenvolvimento dos carros terá de ser feito no sentido de gastar menos borracha. Equilíbrio é a palavra-chave.

Mas vamos começar do começo, a noite de ontem que fechou o grid depois da chuvarada de sábado. A água voltou no domingo, com menos vontade, mas o bastante para deixar a pista molhada. Foi com o asfalto úmido que aconteceram o Q2 e o Q3. Só Pérez e a McLaren acharam que daria para usar slicks. Danaram-se. Ficaram fora na segunda degola Hulk, Sutilezas, Verme, Ricardão, Chapolim e Sapattos. Assim, nenhum estreante passou para o Q3, o que também não é nenhuma grande surpresa.

Aí sim já foi possível usar os supermacios, e Vettel sobrou na turma. Tião Alemão virou uma volta em 1min27s407 e despejou 0s680 sobre o primeiro não-Red Bull do grid, Hamilton, com a Mercedes — gargalhando da McLaren, que se arrastou lá atrás. Massa fez bom treino e conseguiu se classificar em quarto, uma posição à frente de Alonsito.

Vettel e Webber na primeira fila, garantia de dobradinha da Red Bull, não? Ainda mais que a chuva parou, a pista secou…

Não.

Primeiro, porque Webber largou como uma lesma preguiçosa. Caiu para sétimo na primeira volta. Todo mundo passou o Canguru Desolado, menos o carro-médico. Vettel se mandou, como de hábito. Mas logo na quinta volta Button foi para os boxes como se avisasse: esses pneus supermacios dão para a volta de apresentação e olhe lá.

Fato. Até a nona volta, quase todos que tinham largado com a borracha fofinha já haviam trocado para os médios. Menos os mercêdicos Hamilton e Rosberguinho, que assumiram a ponta com Sutil em terceiro, este tendo largado com médios.

Foi assim até a volta 13. O plano A de Hamilton era parar duas vezes. Deu errado, como se verá adiante. Rosberg parou na 14 e depois acabaria abandonando. Estava claro que os demais iriam parar três vezes, certo?

Não.

Raikkonen ia para duas, mas ninguém sabia disso, porque também fez seu pit stop logo no início. Na 20ª Alonso antecipou sua segunda parada. Foi uma jogada decisiva, porque na volta dos boxes ele passou de uma só vez Vettel e Sutil, ganhando as posições dos dois definitivamente. Massa, que vinha andando na frente do companheiro, assumiu a liderança e só parou três voltas depois. Perdeu terreno. Sacanagem ferrarista? Não creio. Inteligência alônsica me parece mais verossímil. Ele sabe ler uma corrida. Até Felipe se espantou. “A gente achou que tinha sido cedo demais, porque os pneus aqui gastam muito e poderia ser um problema para o final”, disse o brasileiro.

Alonso sabe o que faz. Felipe parou e voltou em sétimo, com muita coisa para remar, ainda. E aí, na volta 23, Raikkonen aparecia na liderança com uma parada a menos que seus rivais. Hamilton, que deu uma segurada básica em Alonso, também dava pintas de que faria apenas dois pit stops, mas logo depois do segundo avisou que não ia dar. “Plano B”, informou a Mercedes. “Fodeu”, pensou Lewis.

Para Raikkonen, o Plano A foi suficiente. Parou na 34ª, voltou em quinto e ficou na moita. Àquela altura, estava claro: a Ferrari e a Red Bull são carros de três paradas; a Lotus, de duas; a Mercedes planeja duas e faz três. E a McLaren? Sumiu, ninguém viu. Está fora da briga este ano. Por mais que melhore, vai demorar. E será tarde. E não vale a pena insistir muito neste campeonato, já que o regulamento de 2014 vai ser completamente diferente.

Dos quatro à frente de Kimi, três iriam fazer um último pit stop. Menos Sutil, que não seria presa muito complicada para o finlandês. E assim foi. Na volta 36, Massa no box. Na 37, Vettel. Na 39, Alonso. Na 43, Raikkonen passou Sutil, reassumiu a ponta e bye bye.

Alonso nem ameaçou buscar Raikkonen, apesar de pneus novinhos contra a borracha meia-vida da Lotus. Aliás, nem Kimi percebeu que a borracha estava se acabando, porque ainda cravou a melhor volta no fim. Deu uma banana para os pneus. Alonso cruzou a linha a mais de 12s do gelado finlândico. Vettel fechou o pódio com alguma discrição. Fecharam a zona de pontos Massa, Hamilton, Webber, Sutil, Di Resta, Button e Grosjean.

Enquanto Raikkonen, pelo rádio, ouvia a lista de elogios de seu engenheiro, no rádio de Alonso a frase em italiano: “Ci siamo”. Que é algo como “estamos na briga, óia nóis aqui, eles que se cuida, mano”.

Tem bastante coisa para acontecer neste campeonato. Não há favoritismo claro de ninguém. E eu volto mais tarde para falar do pódio mais importante do fim de semana, o meu ontem em Interlagos.