Blog do Flavio Gomes
Dica do dia

NOSSO JAPONÊS

SÃO PAULO (era bom) – A partir do post de ontem, “Túnel do tempo”, com uma volta por São Paulo em 1988, a blogaiada começou a pesquisar para descobrir o misterioso autor do vídeo. O Marcelo Freire chegou a um nome. Vejam a mensagem dele abaixo: Flavio, esse japa que vocês encontraram aí foi um […]

SÃO PAULO (era bom) – A partir do post de ontem, “Túnel do tempo”, com uma volta por São Paulo em 1988, a blogaiada começou a pesquisar para descobrir o misterioso autor do vídeo. O Marcelo Freire chegou a um nome. Vejam a mensagem dele abaixo:

Flavio, esse japa que vocês encontraram aí foi um achado realmente, hein? Dei uma vasculhada no canal do cara e ele fez vídeos amadores da MotoGP em Goiânia, do Mundial de Motocross em Campos do Jordão em 91 e até do GP Brasil de 90 (nota do blogueiro: é esse vídeo que coloquei aí no alto, precioso). Aparece ele chegando e saindo do autódromo, a muvuca toda, a galera se ajeitando no recém-construído Setor G, com o jeitão improvisado que marcou a estrutura daquela corrida. Ele tem vários outros vídeos de eventos da época.

Seu nome é Kazuhiko Kobayashi e ele trabalhou na Honda antes de se aventurar sozinho com uma oficina de funilaria — até inventou uma máquina de desamassar os carros (olha ele fazendo propaganda aqui).

Descobri alguns detalhes por causa deste vídeo , que é a apresentação da Honda Sahara aos jornalistas em 1989. Nele estão vários colegas com quem hoje convivo quando vou cobrir os eventos pela “Duas Rodas” e gente que atualmente trabalha com automobilismo, como a Meg Cotrim. Wilson Yasuda, que trabalha na Honda desde sempre foi quem lembrou que a gravação foi feita pelo sr. Kobayashi.

Mas nada bate esses vídeos da cidade nos anos 80. Tinha até vaga na rua naquelas vielas da Liberdade! E a cidade não ostentava nada, era tudo muito simples, discreto, mas ao mesmo tempo convidativo, apesar do centro já bem degradado. O cara, conscientemente ou não, filmou nossa história. Vendo aquela cidade, não dá pra imaginar que viraria o que virou.

É, realmente, uma viagem inesperada a uma época em que já existiam, sim, as câmeras de vídeo pessoais, mas ninguém filmava tudo furiosamente como hoje. Éramos mais comedidos. Primeiro, porque as fitas eram caras. Depois, porque não havia como “compartilhar” — exceto quando você convidava os amigos para assistir a essas vídeos em casa. Armazená-los exigia algum espaço em casa. E mais: ninguém editava nada, não havia programas de computador para isso, não havia sequer computadores. Assim, as “filmagens”, como a gente chamava, ficavam longas e, na maioria das vezes, entediantes.

Há milhões de filmagens domésticas esquecidas nos armários e nas gavetas de todo mundo. Festas de casamento, batizados, aniversários, passeios para a praia, viagens despretensiosas, luas-de-mel… As pessoas, nos anos 90, começavam a registrar suas vidas em vídeo, para ver um dia, como se vê um álbum de fotografia. Mas desconfio que quase ninguém se aventura a vê-las, as filmagens e memórias, com muita frequência. Nem aparelhos de videocassete existem mais. Estão condenadas, essas imagens, ao esquecimento. Como os slides, lembram? Meu pai vivia projetando slides. Era um saco. Ao menos eu achava um saco, quando era criança, ficar vendo aquelas fotos projetadas na parede pelo aparelho Cabin. Era Cabin?

Kobayashi, nosso japonês misterioso, resolveu colocar algumas dessas coisas no YouTube. Só temos a agradecer.

A propósito, se ele ainda estiver na mesma oficina que aparece na propaganda, informo que posso vê-la da janela do meu apartamento. Vou passar lá para saber se nosso Koba anda pela área para lhe dar um abraço.