Blog do Flavio Gomes
F-1

SEPÂNGUICAS (3)

SÃO PAULO (ingratas, as horas) – Pode parecer um detalhe besta, e vai alimentar o pachequismo dominante, mas queria dizer a vocês que no press-release da Ferrari de hoje as declarações de Alonso vieram antes que as de Massa. O que isso significa? Provavelmente nada, além da deselegância. Porque é praxe entre quase todas as […]

sepanguicas3SÃO PAULO (ingratas, as horas) – Pode parecer um detalhe besta, e vai alimentar o pachequismo dominante, mas queria dizer a vocês que no press-release da Ferrari de hoje as declarações de Alonso vieram antes que as de Massa.

O que isso significa? Provavelmente nada, além da deselegância. Porque é praxe entre quase todas as equipes, e a Ferrari está incluída, que nesses comunicados de imprensa as declarações do piloto que terminou na frente, seja um treino ou uma corrida, venham antes nas papeletas. Questão de justiça e reconhecimento pelo bom trabalho e tal.

Só que hoje Alonsito ficou em terceiro no grid. E Felipeta, em segundo. Aliás, o brasileiro volta à primeira fila depois de quase três anos — fora segundo também no Bahrein em 2010, sua última largada sem ter de olhar para a asa de nenhum outro carro no grid. Aí chega pelo correio o textinho da Ferrari e lá está El Fodón de Las Astúrias no alto da página deitando falação sobre o terceirinho no grid, “nossa, fazia um tempão que eu não largava em terceiro”, “nossa, dá até pra sonhar com uma vitória”, “nossa, chuva é loteria”.

Depois aparecem as declarações de Massa, mais contidas, até, comentando o acerto na decisão de colocar um novo jogo de intermediários para a volta final que lhe deu o segundo lugar no grid, à frente do espanhol. É a quarta vez seguida que isso acontece, sinal de que a fase é mesmo boa e ele está aproveitando. Em classificações, ao menos.

Isso posto, vamos adiante. Vettel fez a segunda pole no ano e 38ª na carreira, para quem não sabe e não conseguiu acordar às 5 da matina. No molhado. Chuva de fim de tarde em Sepang e tão previsível quanto deslizamentos em Petrópolis ou enchentes em São Paulo no verão. E foi assim hoje. No Q1 e no Q2, aquele calor insuportável e pista seca. No Q3, água.

Do começo, então.

Degola de hábito, caindo os quatro nanicos e dois seminanicos, Sapattos, da Williams, e Verme, da Toro Rosso. A registrar: novamente Jules Branquinho foi o melhor entre os piores de Marussia e Caterham. Em 19°, meteu quase 1s em Pica, 1s2 em Chaton e 1s5 em Van der Lei. E ficou apenas 0s2 atrás da Williams. Podem escrever aí nas suas agendas para, no final do ano, me cobrarem: Bianchi vai estar em equipe boa no ano que vem. Muito boa.

O melhor tempo foi de Sutil.

Quem? Sutil, isso mesmo, conhecido como Fútil pelos mais próximos. A Force India fez um carrinho muito interessante neste ano. Anda o tempo todo entre os primeiros. Capaz de terminar o campeonato na frente da McLaren.

Céu fechando, Q2 começando. Todo mundo com pressa na pista para não ser pego (ou “pégo”, como dizem no Rio) de slicks na mão debaixo d’água. Alguns foram: Grojã, o incrível Hulk, Ricardão, Gutiguti, Resta Um e Maldanado. Todos culparam a hora errada de ir para a pista, os primeiros pingos, o asfalto que molhou, essas coisas. Mas, na verdade, desses aí quem tinha a lamentar eram o francês da Lotus e o escocês da Force India, que têm carros bons o bastante para avançar ao Q3.

A registrar: 1min36s190 para Rosberguinho, melhor volta do fim de semana.

Mas no Q3 só cabem dez carros, como se sabe, e no fim das contas a surpresa foi ver a McLaren colocar os dois ali, algo que não será tão frequente neste ano. A chuva apertou, todo mundo vestiu sapatinhos biscoito (dos intermediários, a água não era para mais do que isso), o tempo foi passando, os carros também, e assim a pista esboçou secar, e os tempos de volta no fim foram bem melhores, ainda que com intermediários. Tião Alemão cravou 1min49s674 e enfiou uma tuba de 0s913 em Massa, o segundo, e 1s053 em Fernandinho. Hamilton, o quarto, terminou 2s025 atrás.

Webber larga em quinto. Desolado, o marsupial choramingou o erro de cálculo rubrotaurino que o impediu de tentar uma nova volta rápida no fim — cruzou a linha com um segundinho de atraso e em vez de ouvir pelo rádio “vai, acelera!”, escutou “acabou, recolhe”. Rosberguinho terminou em sexto e Raikkonen, o Tagarela, em sétimo. Mas como atrapalhou o alemão da Mercedes numa volta rápida, foi indiciado, acusado, detido, julgado e condenado a perder três posições no grid e vai largar em décimo. Sobre a punição, comentou: “É o mesmo para todo mundo”. Mas isso não é a chuva, Kimi, esse negócio de igual para todo mundo? “Ah, é. Então escreve aí que espero repetir o resultado domingo.” Mas isso não é o que você fala quando larga na pole, Kimi? “Ah, vá se foder e não me encha o saco.” É dura a vida de assessor de imprensa da Lotus.

Bonitton herdou o sétimo lugar, com Fútil em oitavo e Chapolim em nono.

No seco, Vettel é favorito, em que pese a alta taxa de desgaste de pneus de todos, até do safety-car, o que sempre compromete essa história de favoritismo. A borracha se desfaz de uma forma lindamente assustadora em Sepang. E como o Q3 aconteceu com chuva, todos vão poder escolher o pneu que quiserem para a largada: médios, faixa branca, ou duros, faixa cenoura. Tangerina. Seleção da Holanda. Laranja. O que indica que teremos estratégias diferentes para o início. Alguns largarão com os pneus de faixa Branco Algodão; outros com pneus de faixa Laranja Tangerina.

A Pirelli acha que três paradas é o que todos farão. Os borracheiros dão até a receita: largar com médio (Branco Nevada), trocar para duro (Laranja Cenoura) na volta 9, de novo duro na 25ª e última parada na 40ª, novamente para colocar pneus duros. Em outras palavras, a Pirelli avisa: nossos pneus Branco Ártico não servem para nada em Sepang. Livrem-se deles o quanto antes.

Alguns pilotos têm jogos de pneus novos para usar na corrida em maior quantidade que o normal, ecnonomizados por causa da chuva em parte do Q2 e no Q3. Ninguém vai precisar, pois, recorrer a pneus “remold”.

E é isso. Preparem-se para uma boa corrida. Em algum momento, vai chover. E na chuva, todos os gatos são pardos e molhados, como diz o ditado.