Blog do Flavio Gomes
Futebol

GIRA MONDO, GIRA

SÃO PAULO (e como gira…) – Morreu Paulo Vanzolini. Sobre ele escreveu tudo que tinha de ser escrito o Kiko Nogueira, aqui. Ou quase. Acrescentaria, apenas para dar um toque pessoal à coisa, que o professor Vanzolini foi uma das pessoas com quem mais conversei nos tempos em que era repórter de ciência nas rádios […]

SÃO PAULO (e como gira…) – Morreu Paulo Vanzolini. Sobre ele escreveu tudo que tinha de ser escrito o Kiko Nogueira, aqui. Ou quase. Acrescentaria, apenas para dar um toque pessoal à coisa, que o professor Vanzolini foi uma das pessoas com quem mais conversei nos tempos em que era repórter de ciência nas rádios Cultura e USP e, depois, na “Folha”. Nunca falamos de música. Ele se considerava um amador no assunto. Era, sim, um cientista. Puro. Uma vez ele implicou que eu sempre o chamava de “professor”. “Mas vou chamar de quê?”, perguntei. “De zoólogo.” Argumentei que numa conversa entre duas pessoas é impossível se dirigir a alguém usando “zoólogo”. “Zoólogo, me fale sobre a diversidade de espécies de sapos na Amazônia.” Não dá.

Continuei chamando de professor.

Morreu também o Sérgio, da Ju-Jovem. Aos 61 anos, jovem demais. Torcedor histórico do querido Juventus, deixa a cidade mais vazia e triste.

Como triste demais está ficando o futebol brasileiro. Sábado inauguraram um estádio construído onde ficava o Maracanã. O mestre-de-cerimônias da entrega daquilo que um dia foi um dos maiores símbolos do Rio foi o carioca de Higienópolis Luciano Huck, usando uma camisa com o logotipo de seu programa e de um quadro em que ele reforma casas de gente miserável que escreve cartas para conseguir umas latas de tinta e uns móveis fajutos.

Gastou-se 1 bilhão de dinheiro público para destruir o Maracanã e fazer outro estádio, e seu primeiro papel foi de cenário para o programa do Luciano Huck, que nunca deve ter entrado no Maraca para ver um jogo na vida. Como o Lúcio de Castro, da ESPN Brasil, também vivi o Maracanã e jamais, jamais vou esquecer o que senti na primeira vez em que passei pelo túnel de acesso à arquibancada e me dei com aquela imensidão.

Isso nunca mais vai acontecer com ninguém. Fizeram um estádio que simplesmente eliminou a mais doce característica do velho Maraca: sua alma, um palco de todos e para todos. Esse estádio novo não é mais o Maracanã, lamento. É uma arena, como gostam de dizer agora, feita no lugar onde ele ficava.

Adeus, Maraca.

Aí, ontem, chovem caxirolas na Fonte Nova. Uma bobagem inventada pelos organizadores da Copa que no fundo não passa de um grande negócio de 3 bilhões de reais que querem nos enfiar goela abaixo como símbolo da felicidade e da musicalidade do povo brasileiro. Bobagem aprovada pelo governo, encampada pela presidenta, que não entende picas de futebol, pelo ministro do Esporte, um deslumbrado, e, claro, pela Globo. Afinal, quem criou essa coisa patética foi um cara contratado da emissora, Carlinhos Brown, que participa de um programa de calouros.

Globo que ficou indignada, oh!, com a chuva de caxirolas. E através de seu apresentador no “Fantástico” deu uma bronca no público, como se o ameaçasse com umas palmadinhas, porque as pessoas desrespeitaram as caxirolas. Como pode? Nã-nã-nã-nã-não. Feios. Comportem-se, meninos!

Agora a Globo quer ensinar as pessoas a torcer e determinar como elas devem se comportar num estádio de futebol. É demais pra mim. A revolta das caxirolas foi uma ótima resposta a essa babaquização que está tomando conta do futebol, ainda que motivada pela raiva da torcida do Bahia com seu time, e não com as caxirolas propriamente ditas. Não acho que se deva jogar nada dentro de um campo de futebol. Pode machucar alguém e atrapalha o jogo. Mas adorei ver a chuva de caxirolas. Foi um ato de resistência, mesmo que simbólico.

Todo desprezo do mundo às caxirolas, ao tatu Fuleco, à bola Cafusa, a essa mercantilização de uma paixão que foi trazido ao Brasil por uma elite europeia e que acabou sendo apropriada pelo povo deste país.

Enfiem no rabo as caxirolas. Deixem-nos em paz.