Blog do Flavio Gomes
Automobilismo internacional

O MAIS LONGO DOS DIAS (2)

SÃO PAULO (nuvens por todos os lados) – Daqui a pouco começa a bagaça. Serão 56 carros a partir das 15h locais (10h daí) para 24 horas de velocidade e resistência. A corrida mais espetacular do mundo está completando 90 anos, mas esta é “apenas” sua 81ª edição — guerras e crises impediram a realização […]

SÃO PAULO (nuvens por todos os lados) – Daqui a pouco começa a bagaça. Serão 56 carros a partir das 15h locais (10h daí) para 24 horas de velocidade e resistência.

A corrida mais espetacular do mundo está completando 90 anos, mas esta é “apenas” sua 81ª edição — guerras e crises impediram a realização da prova em alguns anos.

Audi e Toyota lutarão pela vitória na LMP1, a principal categoria de protótipos, com chances bem maiores para os quatrargólicos do que para os Godzilla japoneses. Até numericamente: são três Audi R18 e-tron contra dois Corollões TS030.

Mesmo assim, como se sabe, Le Mans pode ser cruel. Em 2011, os alemães perderam dois carros no começo da prova e conseguiram bater os leõezinhos da Peugeot por uma margem mínima, num thriller absurdo que poucas vezes o automobilismo viu em sua história.

História feita de recordes e marcas envolvendo marcas e pilotos que merece ser dissecada em alguns números, para quem gosta. A eles:

– Henri Pescarolo, com 33 participações, foi quem mais largou em Le Mans. Hoje ele é dono de equipe, com sua boca torta, barba histórica e respeito eterno. Dessas, ganhou quatro.
– Tom Kristensen, com 8 vitórias, é o cara que mais levantou o troféu de Sarthe: 1997, de 2000 a 2005 e em 2008.
– A Porsche, com 16 vitórias, é a grande papa-24 Horas. Depois vêm a Audi, com 11, a Ferrari, com 9, Jaguar, com 7, e Bentley, com 6.
– Dunlop, com 34 vitórias, é a marca de pneus mais bem-sucedida em Le Mans. Por isso tem até a ponte com o nome dela. A Michelin vem a seguir com 21.
– A chegada mais apertada de todas aconteceu em 1966. Apenas 20 metros separando o Ford GT40 de Amon/McLaren do outro GT40, de Miles/Hulme.
– A maior distância percorrida nas 24 horas da prova foi de 5.410,713 km em 2010, com média de 225,228 km/h, pelo trio Bernhard/Dumas/Rockenfeller, com Audi R15.
– O recorde para a pista atual, que tem 13.629 m de extensão, é de 3min18s513. A volta foi de Stéphane Sarrazin na classificação de 2008, com o Peugeot 908, carro espetacular e inesquecível. A média: 247,160 km/h. Em corrida, 3min19s074 de Loic Duval, com o mesmo Peugeot, em 2010. Média de 246,463 km/h.

São apenas algumas estatísticas que não expressam, sozinhas, o gigantismo desta corrida. Hoje, e nas próximas 24 horas, cerca de 250 mil pessoas deverão passar pelas arquibancadas e acampamentos em torno do circuito que, felizmente, é velhinho, retrô, sem estruturas em aço escovado, coberturas de policarbonato ou vidros espelhados espalhados. É tudo de cimento e tijolo, com grama e lama, pedriscos e poeira.

E alma.

Há uma chance que não é muito pequena de um brasileiro vencer pela primeira vez na geral em Le Mans. Lucas di Grassi é um dos nove pilotos da Audi e larga no carro #3, que não é o favorito, porém. Há uma certa hierarquia no time e o trio do #1, formado por Fassler/Lotterer/Tréluyer, normalmente aparece como candidato mais forte, pela qualidade dos pilotos. Duval/Kristensen/McNish estão no carro #2. Di Grassi terá como companheiros Marc Gené, aquele, e Oliver Jarvis.

Os meninos do #1 têm, juntos, 19 participações e seis vitórias em Le Mans. Os velhinhos do #2 somam 33 largadas e 10 triunfos. A turma do #3 tem 9 largadas (Lucas é estreante) e uma única vitória, de Gené, pela Peugeot.

Experiência conta, claro, numa corrida como essa. Assim, será uma enorme surpresa se o #3 vencer. Minha aposta, inclusive, é no #2. Acho que o velho e bom Kristensen, amanhã, fatura seu nono troféu. O que fará dele um ídolo maior que Laudrup, suponho.

Mas só tem Audi para ganhar? Não. A Toyota tem chances, vai parar menos para abastecer e, se nada de excepcional acontecer, vai ficar na briga até as últimas horas. Na classificação, os Corollões tomaram um couro dos DKWs, mas isso não significa muita coisa. Lapierre/Nakajima/Wurz é o trio do #7. Buemi/Davidson/Sarazin, o time do #8. O chefe dos quatrargólicos, Wolfgang Ullrich, disse que seus carros precisam ser de meio a um segundo mais rápidos por volta que os Toyota

Tem mais uma porção de gente que já foi da F-1 correndo, como Heidfeld, Nakano, Kobayashi, Chandhok, Fisichella, Magnussen, Lamy e Senna. Bruno parte da pole na sua categoria, a GTE Pro, com Aston Martin. Está se divertindo por aqui. É mais relaxado, óbvio, que a F-1, e a corrida tem uma mística difícil de encontrar em qualquer outra. Deve ser uma experiência maravilhosa correr em Le Mans, mágica, mesmo.

Serão longas 24 horas, e ao longo delas volto aqui para pingar novidades e curiosidades. Como, por exemplo, essas fotos das lojinhas que são de matar qualquer um. E do telão passando “Grand Prix”. Dá para ser mais legal que isso?