Blog do Flavio Gomes
F-1

RED BUDDH (5)

SÃO PAULO (simples assim) – Ninguém duvidava que o tetra viria na Índia. Vettel dominou todos os treinos, desde sexta-feira, e qualquer coisa que não fosse mais uma vitória seria uma clamorosa surpresa. E mesmo se não aparecesse no autódromo hoje para correr, depois de, sei lá, passar a noite nos braços de Maya, Alonso […]

SÃO PAULO (simples assim) – Ninguém duvidava que o tetra viria na Índia. Vettel dominou todos os treinos, desde sexta-feira, e qualquer coisa que não fosse mais uma vitória seria uma clamorosa surpresa. E mesmo se não aparecesse no autódromo hoje para correr, depois de, sei lá, passar a noite nos braços de Maya, Alonso preciava ganhar ou chegar em segundo para adiar a bagaça.

Óbvio que não conseguiu.

E Vettel venceu, claro. E comemorou com estilo seu quarto título mundial aos 26 anos da mais tenra idade.

Se por um lado é meio esquisito ver um título sendo comemorado num autódromo quase vazio (só tinha gente na reta dos boxes, uma tristeza) num país sem a menor tradição no automobilismo, ao menos ele veio numa pista boa e depois de uma corrida interessante, a melhor entre as últimas, que foram menos que sofríveis.

Vettel ganhou na base da estratégia, aquela estratégia que só quem está muito confiante consegue levar a cabo. Depois de largar bem e manter a ponta, parou na terceira volta para jogar no lixo os pneus macios e se colocar no meio do pelotão com médios, esperando pelo sofrimento alheio com a borracha.

Alonso também parou no começo, mas por outro motivo. Na largada, bateu rodas com Raikkonen e perdeu um pedaço do bico num toque em Webber. Se suas chances eram apenas retóricas até então, ali passaram a ser inexistentes.

Quem largou bem (eu ia escrever “bonitamente”; não existe, mas vou adotar, porque acho injusto poder escrever “belamente” e não “bonitamente”) foi Massa. Bem mesmo. Passou dois antes de fechar a primeira volta, a dupla da Mercedes, e se estabeleceu em segundo. Quando Sebastião parou, virou líder, algo que não tem sido muito comum nos últimos tempos.

Lá pela volta 8 a turma que largou com pneus macios começou a ir para os boxes dando uma embaralhada na classificação. Webber, que tinha pneus médios, assumiu a ponta e foi assim até a volta 29, quando trocou para os macios só por obrigação, apareceu nos boxes de novo quatro voltas depois, colocou médios outra vez e iria assim até o final se não pifasse seu alternador (por isso gosto de dínamo).

Lá atrás, Alonso se esgoelava, coitado, disputando posições com caras como Gutiérrez, Bottas, Maldonado, Brambilla e De Cesaris. Na verdade, Vettel já disputou a corrida toda como tetracampeão, dada a impossibilidade de Fernandinho de fazer sua parte. Talvez isso tenha tirado toda a dramaticidade da conquista. Ela foi simples e cristalina.

Mais dois pilotos demoraram horrores para fazer seu primeiro pit stop: Ricardão e Sutil. O primeiro fez como Webber, colocou macio, cumpriu o que pede a regra e colocou outro médio. Adrian foi até o fim com seu chiclete por 18 voltas, depois de parar na 42ª. Ambos conseguiram pontos, Sutil em nono, Daniel em décimo. No fim das contas, deu certo.

Mas foram meros coadjuvantes, nem sei porque estou falando deles. A corrida teve alguns com atuações muito boas, excepcionais, em alguns casos. Rosberguinho, o segundo colocado, foi sólido, constante e impecável. Grojã, o terceiro, um assombro. Largou em 17° com pneus macios, colocou médios na 13ª volta e foi até o final com o mesmo jogo, passando gente de baciada, inclusive Raikkonen, que até oito voltas do fim estava todo pimpão em segundo, quando seus pneus acabaram e ele começou a ser passado por todo mundo: Rosberg, Grojã (veja no post abaixo a gritaria pelo rádio; quase bateram), Massa, Pérez, Hamilton e Mahatma Gandhi, este a pé. Na última volta, Kimi parou no box, colocou um pneu novo, fez a melhor volta da prova e terminou em sétimo. Bem também foram Massa, quarto, Pérez, quinto, e Di Resta, oitavo. Hamilton, o sexto, teve um domingo discreto.

E acabou o campeonato. Ou, ao menos, acabaram as disputas por títulos. Entre as equipes, a Red Bull levou a quarta taça seguida ao atingir 470 pontos. A briga pelo vice está boa. A Mercedes voltou a passar a Ferrari e tem 313, contra 309 dos italianos. A Lotus ainda sonha, com 285 — faltam três corridas, não se esqueçam, e cada posição na tabela vale alguns milhões de dinheiros europeus. No Mundial de Pilotos, Tiãozinho bateu em 322 pontos. Alonso estacionou nos 207, Raikkonen foi a 183 e depois aparecem Hamilton (169), Webber (148), Rosberg (144) Grosjean e Massa (ambos com 102, mas Romain leva nos critérios de desempate).

Não esperem muito da próxima corrida, em Abu Dhabi, circuito tão feérico quanto ridículo. As duas últimas provas da temporada, porém, devem ser bem divertidas, porque acontecem em circuitos de verdade. O de Austin é bacana e Interlagos, com toda sua zona atávica, é sempre gostoso de ver e de correr. Com todos relaxados e sem grandes preocupações, quem sabe esses GPs redimam uma temporada que, sendo bem honesto, não foi das melhores. Muito pelo contrário.