Blog do Flavio Gomes
F-1

CONTRA A CAMISA DE FORÇA

SÃO PAULO (soltem a franga) – A última da F-1 é que é possível que no ano que vem fique determinado que serão obrigatórios dois pit stops para todos, e que cada jogo de pneu só possa ser usado da seguinte forma: os duros, por não mais do que 50% da distância da corrida; os […]

SÃO PAULO (soltem a franga) – A última da F-1 é que é possível que no ano que vem fique determinado que serão obrigatórios dois pit stops para todos, e que cada jogo de pneu só possa ser usado da seguinte forma: os duros, por não mais do que 50% da distância da corrida; os macios, por não mais do que 30% da distância total da prova.

Calma, não fiquem nervosos. A primeira impressão que se tem é que, assim, os pilotos só poderão percorrer 80% de um GP, o que significaria que ninguém terminaria uma prova sequer no ano que vem. Afinal, se o cara pode usar pneu duro em 50% e macio em 30%, fazer o que nos 20% faltantes? Correr a pé?

Até que não seria má ideia. Mas suponho que se esteja falando de cada jogo de pneus, e não de cada tipo. Um exemplo: numa prova de 70 voltas, um jogo de duros pode ser usado no máximo por 35 voltas; sendo assim, sobram 35 voltas que devem ser percorridas com dois jogos de pneus macios, mas nenhum deles pode ser usado por mais de 30% do total, ou 21 voltas.

Sendo bem didático: com dois pit stops obrigatórios, cada piloto vai usar três jogos de pneus. Nunca corrida de 70 voltas, ele pode usar o pneu duro em 35 voltas (50%), um jogo de macios por, digamos, 18 voltas (25,7%), e outro por 17 voltas (24,3%). Ou, nos extremos: 35 voltas com um jogo de pneus duros (50%), um macio por 21 voltas (30%) e outro por 14 voltas (20%).

As estratégias, dessa maneira, vão ser bem limitadas pelo número de voltas que cada piloto pode percorrer com cada jogo de pneus e ninguém vai poder brincar muito com táticas diferenciadas (detesto a palavra), do tipo parar uma única vez, ou três.

Não gosto disso, acho mais uma bobagem, até porque hoje em dia, com a esmagadora maioria dos pilotos, as estratégias já são parecidíssimas em todas as corridas, e raramente se vê alguém fazendo algo diferente. Nesta temporada, Sauber, Lotus e Force India tiveram comportamento um pouco fora da curva em uma ou outra pista, mas na média foi tudo mais ou menos a mesma coisa. Para quê, então, tirar das equipes e pilotos uma mínima chance de fazer algo diferente?

Minhas sugestões para melhorar as corridas são menos matemáticas e mais simples e, certamente, efetivas. Eu começaria proibindo o rádio. Comunicação, só por placas de box e, no máximo, um botão para o piloto avisar que na volta seguinte vai para o box trocar pneu — de modo que a equipe possa se preparar no pit-lane. Isso levaria a uma obrigatória simplificação dos comandos no volante e a um maior peso do piloto nas escolhas que deve fazer durante uma corrida, como hora de fazer um pit stop, mudar o mapeamento do motor para economizar combustível, mexer em balanço de freio, sentir o desgaste da borracha para dosar o pé nas saídas de curva etc. e tal.

Só com isso, muita coisa se resolveria. E caberia aos engenheiros a definição de estratégias prévias, o estudo de todos os dados possíveis durante os treinos junto com os pilotos (o rádio seria permitido nos treinos, na minha F-1 ideal, para otimizar o trabalho de acerto dos carros), a eficiência na comunicação via placas de box e estaria garantida uma certa pureza das corridas. Ou, em outras palavras: a partir do apagar das luzes vermelhas, estaria tudo, ou quase tudo, nas mãos dos pilotos.

O problema é que minhas sugestões nunca são aceitas!