Blog do Flavio Gomes
F-1

INTERNADAS (13)

SÃO PAULO (hasta) – Hora de fechar a sala de imprensa, como de hábito. E também uma enroladinha aqui não faz mal nenhum, já que a cada minuto que passa o trânsito lá fora fica menos pior, teoricamente. Como fiz ontem, segue um breve resumo comentado dos fatos do dia em Interlagos e adjacências: 1) […]

nadas3000SÃO PAULO (hasta) – Hora de fechar a sala de imprensa, como de hábito. E também uma enroladinha aqui não faz mal nenhum, já que a cada minuto que passa o trânsito lá fora fica menos pior, teoricamente.

Como fiz ontem, segue um breve resumo comentado dos fatos do dia em Interlagos e adjacências:

1) Sabem aquela frase “ainda bem que é sexta-feira”? Não vale para GP do Brasil. É o pior dia para vir a Interlagos. O trânsito da cidade, que já é uma merda, fica uma merda ao cubo em dias chuvosos. Eu levei uma hora e pouco para vir da comunidade onde moro até aqui, pela manhã. A suprema Evelyn saiu da zona norte, passou pela Paulista e chegou depois de três horas. É um cu. Mas sábado e domingo as coisas sempre funcionam bem para esta corrida, com os ônibus especiais, os bolsões de estacionamento e as faixas para carros de serviço e credenciados que na sexta, dia útil, não podem ser colocadas em operação.

2) Interlagos é incrível, já falei disso, quando se trata de chuva e F-1. Quem vem aqui só para o GP do Brasil deve ter a impressão de que em São Paulo todos os dias são instáveis como hoje, em qualquer época do ano. Mas não é bem assim. A chuva gosta mesmo é da F-1. Corro aqui o ano todo e não chove quase nunca. O engraçado é que esta prova já aconteceu em fevereiro, março, outubro, novembro, e se algum papa resolver mudar o calendário criando o mês de onzembro, vai chover do mesmo jeito.

3) Gostei do russinho Kvyat. Centrado, decidido, seguro, andou na chuva na boa, não fez nenhuma besteira e é capaz de ser a melhor coisa que já passou pela Toro Rosso depois de Vettel. Olho nele.

4) Hoje foi dia de entrevista coletiva com chefes de equipe: Brawn (Mercedes), Domenicali (Ferrari), Boullier (Lotus), Booth (Marussia) e Abiteboul (Caterham). Resumindo, os chefes das nanicas disseram que estão fodidos e sem grana, mas que está tudo bem. Os de Mercedes e Ferrari falaram que dinheiro não é problema, a crise é igual para todos, mas que daria para disputar o Mundial com metade do orçamento se a F-1 não fosse essa coisa perdulária de sempre. Boullier continua esperando o disco-voador que vai trazer a grana do planeta Quantum. Falaram também sobre a possibilidade de, um dia, quando todo mundo for à falência, as equipes terem de usar três carros para encher um grid. Ninguém descartou essa possibilidade.

5) Todos falaram também sobre o GP do Brasil, de como gostam de vir para cá, como a torcida é apaixonada e entusiasmada, como é divertido o chove-para-chove de novo. Ninguém reclamou de falta de espaço e de estrutura precária do autódromo — na verdade, dos boxes e do paddock. Reconhecem que aqui não é um reino feérico como Abu Dhabi, Cingapura ou a Disneylândia, ok — óbvio, e ainda bem. Mas encaram numa boa. Sempre encararam. Para ser honesto, desde que a F-1 voltou a São Paulo, em 1990, alvo de crítica mesmo era a pista muito ondulada. Isso foi resolvido há seis ou sete anos com o último recapeamento. A turma curte esse nosso autódromo velhinho e simpático.

6) Falando nele, o autódromo, hoje fui almoçar meio sem querer numa equipe famosa, na verdade peguei um pratinho de macarrão na porta e entrei para procurar queijo ralado, e acabei me sentando, under request, com uns pilotos que não sei se posso falar que eram o Felipe Massa, o Valdeno Brito e o Popó Bueno, e demos algumas risadas falando mal de uns caras aí. Gosto muito de falar mal das pessoas, e eles também. Mas achei legal saber que todos leem as bobagens que eu escrevo. “Você fala muita merda, mas é engraçado”, é o que o Felipe me diz sempre que nos encontramos, o que tomo como elogio porque também acho ele engraçado, e além disso é mais baixo do que eu. Seria o bastante para não folgar muito, mas ele folga mesmo assim. Mas nesse papo surgiu outro, aquele de um possível aumento do traçado, e pode ser que eles, os pilotos, ajudem. Como já disse, meu único interesse nesse assunto é poder usar melhor a quinta marcha do Meianov, que é subutilizada no traçado atual, e acho mais barato mudar a pista do que trocar o câmbio do meu carro. Vamos ver que bicho que dá.

7) Me ligaram hoje de um portal de internet e o repórter, coitado, queria saber se eu achava que a Lei Seca e sei lá mais o quê que está acontecendo na cidade estavam prejudicando o clima festivo do GP do Brasil, as grandes festas, as bebedeiras e as putarias dos pilotos, e enquanto ele elaborava a pergunta eu o interrompi. Tenho pena desses repórteres mais novos que recebem pautas sem pé nem cabeça e são obrigados a cumpri-las, mas eles poderiam ao menos contestá-las, às vezes. De onde tiraram que os pilotos e as equipes e os mecânicos, ao longo dos anos, saíam pela cidade bebendo e se acabando em festas? Estamos em 2013, piloto de F-1 é mais carola que dom Paulo Evaristo Arns, é da pista para o hotel, do hotel para a pista, quando muito uma churrascaria. Aliás, eu disse a ele: a maior extravagância desse povo da F-1 em São Paulo, e há muito tempo que é assim, é enfiar o pé na jaca no Fogo de Chão e comer picanha, fraldinha e cupim até explodir. Já não existem mais James Hunts, eu disse ao rapaz, e ele então concluiu, e dividiu comigo a conclusão, que os Niki Laudas derrotaram os James Hunts — o que mostra que ele viu o filme, ótimo. E eu disse a ele que sim, e que isso faz mais ou menos uns 30 anos. A última grande putaria coletiva de que me lembro foi quando a GM emprestou aos pilotos uns Chevettes GP para que eles circulasse pela cidade, e parece que um deles nunca voltou. E alguns voltaram arrebentados.

8) E duas coisinhas sobre a sala de imprensa, para terminar: cobrar WiFi hoje em dia de imprensa, em qualquer evento internacional, é um despropósito. Cobrar caro e o WiFi funcionar mal, mais ainda. Algo para se rever urgentemente para o ano que vem. Com atraso, diga-se. Era para ser tudo de graça e de boa qualidade faz tempo. E o sanduba de ontem, de calabresa com queijo cremoso, era bem melhor que o de hoje, de atum sem maionese. Guardem isso, não se esqueçam: calabresa é melhor que atum.

Tchau.