Blog do Flavio Gomes
F-1

INTERNADAS (18)

SÃO PAULO (e no fim, mais do mesmo) – A loucura de sempre e o resultado de sempre. Depois de 45 minutos de espera pelo Q3, Tião, o alemão, encerrou as atividades do sábado em Interlagos com mais uma pole-position. “Olê!”, gritou pelo rádio, com circunflexo no “e”. A exemplo do que acontece pelo mundo […]

nadas5000SÃO PAULO (e no fim, mais do mesmo) – A loucura de sempre e o resultado de sempre. Depois de 45 minutos de espera pelo Q3, Tião, o alemão, encerrou as atividades do sábado em Interlagos com mais uma pole-position.

“Olê!”, gritou pelo rádio, com circunflexo no “e”. A exemplo do que acontece pelo mundo afora, confundiu português com espanhol. Depois, até se desculpou na coletiva. “Misturei as línguas, não sei como se fala isso em português”, disse. Bem, quando a gente consegue uma vitória, aqui por essas bandas, o costume é dizer “chupa”. “Olé” a gente diz quando está ganhando do Corinthians de 4 a 0 e começa a trocar passes no meio campo, de Souza para Gilberto para Bruno Henrique para Valdomiro para Lauro.

Não era o caso, porém, nem de dizer “chupa”. Para usar a expressão, é preciso ter um destinatário. Um vizinho corintiano, por exemplo. Caso contrário, o “chupa” fica no vácuo e o máximo que se consegue é causar u’a má impressão junto à vizinha solteira, jovem e publicitária, dona de um Cinquecento branco com bancos creme, que não liga para futebol.

Em resumo, Vettel não precisava ter dito nada no rádio ao fazer sua 45ª pole, nona no ano, segunda em Interlagos, segunda de hoje — no café da manhã no hotel, foi o primeiro a pegar ovos mexidos, depois de dar um empurrão em Webber, que reclamou com Christian Horner que àquela hora o combinado era Multi 21.

O treino, que não é treino, começou com pista molhada e nas duas horas seguintes a chuva aumentou e diminuiu várias vezes, enlouquecendo pilotos, chefes de equipe e vendedores de capas, que subiam e reduziam o preço de acordo com a intensidade do aguaceiro.

No Q1, intermediários foram os pneus usados, até que a 12 minutos do final a água apertou e dois pilotos ficaram angustiados: Verme e Gutierros, que estavam juntos dos quatro minúsculos, estes já devidamente alinhados para a degola inevitável.

A pista melhorou incrivelmente a dois minutos do fim, tanto que Kovalento pulou para quinto, o que animou os dois condenados. Vergne conseguiu se livrar da guilhotina. Guti-Guti, não. Nessas, quem dançou foi Maldanado.

Interessante, aqui, notar a reação de jornalistas britânicos no Twitter. Certamente ofendidos em sua realeza pelo desabafo do venezuelano na última corrida, que acusou a Williams de prejudicá-lo na classificação, mais de um tuitou (do verbo “tuitar”, eu tuíto, tu tuítas etc.): “Williams sabotou Maldonado mandando a chuva”. Um desagravo à nobilíssima equipe. São muito melindrosos, esses ingleses. Massa que se cuide. Se lhe perguntarem, deve dizer que fish & chips é o melhor prato da culinária universal, que toma chá todos os dias às cinco da tarde, ama os Beatles e os Rolling Stones, acha que Land Rover é o melhor jipe do mundo, torce para o Manchester, gostaria que a rainha Elizabeth fosse sua avó e considera Kate Middleton o modelo ideal de beleza na mulher.

Bem, terminou o Q1 e, pela ordem, formam o último pelotão do grid amanhã em Interlagos Maldanado, Gutierros, Pica, Van der Ley, Branquinho e Chaton. Nada muito comovente. Para registro, o mais veloz no Q1 foi o Comandante Habilton, com 1min25s342. Nunca é demais lembrar que no seco esses carros de F-1 viram na casa de 1min12s.

Veio o Q2 e formou-se uma fila para sair dos boxes, já que ninguém mais confiava nas previsões do tempo passadas pelas equipes, pelas moças da meteorologia, pelos caciques cobra-coral e pelo avô do Rubinho. Na dúvida, faz um tempo e pronto. A chuva ia e vinha, mais forte ou mais fraca, e nessas condições é meio uma questão de sorte pegar um trecho da pista um pouco melhor que o outro. Grojã acabou fazendo o melhor tempo, 1min26s161, e foram decapitados Kovalento (“simplesmente fui lento”, declarou), Resta Um, Sapattos, Maria do Bairro, Bonitton e Fútil.

A carpideira mexicana acabou sendo protagonista da única batida até agora no fim de semana, no último instante do Q2. Depois da curva do Lago, seu carro deu uma chicotada e estampou no muro. “I’m OK”, disse Pérez pelo rádio. “Where are you?”, perguntou a equipe. “At Little Orange”, respondeu. “OK, be careful with the want-wants”, recomendou a equipe.

Assim, passaram ao Q3 os oito carros de Red Bull, Ferrari, Mercedes e Toro Rosso, mais uma Lotus e uma Sauber. Para remover a McLarem desmilinguida de Pérez do local do acidente, a direção de prova atrasou o início da parte final da sessão em dez minutos. Então, a chuva apertou de vez. E só às 15h30, depois de 45 minutos de interrupção, foi autorizado o reinício das atividades. Foi quando a água deu uma acalmada. Porque antes estava ossada de mamute prenha. Poças por todos os lados, cachoeiras, riachos, corredeiras, córregos, regatos, uma lindeza.

E quando avisaram que ia recomeçar, Webber e Vettel foram de imediato para a saída de box onde ficaram esperando o farol abrir (sinal, semáforo, sinaleira) para ver qual era a da pista. Eles e mais sete pilotos calçaram os pneus “fuéts”, conhecidos em inglês também como “full wets”. Só Grojã saiu com os intermediários. Os tempos dos fuéts não foram lá grande coisa, na casa de 1min29s ou 1min30s, com exceção de Vettel, que fez 1min28s830, mas deu para perceber que os intermediários eram mais do que suficientes.

Aqui vale um parêntese. Enquanto o treino que não é treino não recomeçava, a Pirelli deu uma informação pelo Twitter que me deixou estarrecido. Vocês sabiam que um pneu fuét na F-1 dispersa 60 litros de água por segundo em alta velocidade? E que seu pneu de rua, que não é fuét, talvez nem seja Pirelli, pode ser um daqueles remolds vagabundos, dispersa 10 litros de água por segundo? Não é impressionante?

Pois, voltando, todos tiraram os fuéts e colocaram os intermediários, e aí os tempos baixaram bastante, e no fim das contas, com 1min26s479, Tiãozinho fez sua volta, uma só, e não precisou mais, porque Rosberguinho, o segundo, ficou com 1min27s102, e pelas minhas contas isso dá mais de 0s6 e menos de 0s7, e é uma luneta dos infernos. A frase anterior tem 13 vírgulas, nenhuma colocada no lugar errado. Incrível.

São os dois da primeira fila amanhã, Seb e Nico, que serão garbosamente seguidos por El Tercerón, Canguru Aposentado, Comandante Habilton, Grojã, Ricardão, Verme, Massacrado e Heisenberg nas dez primeiras posições.

Vettel se disse surpreso com a pole. Alonso, ao seu lado, esteve a ponto de dar-lhe um sopapo para deixar de ser besta. Mas Nico concordou: “Gap very big”, disse, mas todos nós, que o conhecemos, sabemos que ele estava apenas divagando sobre a nova loja que abriu num shopping chiquérrimo da cidade. Foi, sim, mais uma trolha que o alemão colocou em todos, vibrou como se fosse a primeira, e vai para ganhar a corrida de amanhã porque sabe que os recordes que pode estabelecer, nove vitórias seguidas, absoluto, e 13 na temporada, igualando Schumacher/2004, não são fáceis de repetir.

Espero que chova amanhã de novo. Como já dito, no seco não vai ter graça nenhuma. No molhado, pelo menos, é garantia de corrida divertida e imprevisível.