Blog do Flavio Gomes
F-1

TWILIGHT (4)

SÃO PAULO (truncado) – Como se imaginava, Webber não fez das tripas coração para ganhar a corrida depois de mais uma largada ruim. Incrível como tem problemas para iniciar as provas, nosso marsupial. Neste ano ele só largou bem numa corrida de bicicleta que disputou nas férias na Austrália, contra seus sobrinhos. Nas demais, inclusive […]

twz200SÃO PAULO (truncado) – Como se imaginava, Webber não fez das tripas coração para ganhar a corrida depois de mais uma largada ruim. Incrível como tem problemas para iniciar as provas, nosso marsupial. Neste ano ele só largou bem numa corrida de bicicleta que disputou nas férias na Austrália, contra seus sobrinhos. Nas demais, inclusive no simulador e no PS3, foi ultrapassado até pelo safety-car.

Como largou mal e caiu da pole para terceiro na primeira volta, e como Vettel assumiu a liderança na primeira curva, ali acabou o GP de Abu Dhabi, na linda e chatíssima pista árabe — embora seja justo reconhecer que neste ano a corrida tenha sido um pouquinho melhor que em anos anteriores, com a óbvia exceção de 2010, boa o bastante por ter decidido o título.

Vettel sumiu. Liderou de novo todas as voltas, fez suas duas paradinhas básicas, cruzou a linha com meio minuto de vantagem para Webber, que mesmo de forma preguiçosa e burocrática chegou em segundo sem o menor problema. Dobradinha prevista, dobradinha cumprida. Com Rosberguinho em terceiro depois de mais uma prova sólida e consistente. De bobo não tem nada, esse menino da Mercedes. Mas não ser bobo hoje em dia não é o bastante para conseguir bater a Red Bull. É preciso algo mais.

O início da prova, além do salto de Tião para a ponta, teve na outra extremidade o curioso abandono de Raikkonen. Curioso porque quando visto pela primeira vez deu a impressão de locaute, greve, protesto black bloc. Achei que Raikkonen iria descer do carro com um taco de beisebol e destruí-lo. Depois, tiraria o capacete, colocaria um lenço preto para esconder o rosto, seguiria até os boxes da Lotus com uma garrafa pet cheia de gasolina tampada com estopa, acenderia a tocha e jogaria lá dentro. Na sequência, com uma lata de colorjet, pintaria no chão do box: me paguem, seus viados! Até que chegaria um PM paulista e enfiaria o cassetete nas suas costas, mas levaria de volta um golpe de Hans no meio da fuça, e Kimi fugiria se misturando à multidão, protegido pelos mecânicos das outras equipes e por Max Mosley, que surgiria do nada como ativista que é das liberdades de expressão e sexuais e, vestindo cinta-liga e corpete de couro, estancaria na frente do batalhão de choque gritando abaixo a repressão.

Nada disso, no entanto, ocorreu. Na verdade, Raikkonen levou um toque na sua roda dianteira direita, me pareceu de Charles Pica, e deve ter aberto largo sorriso quando notou que a suspensão quebrou. Parou o carro, entrou numa kombi branca e foi embora para o hotel.

Enquanto isso, Vettel ia abrindo, abrindo, e quando todos começaram a parar, na altura da oitava volta, foi seguindo, seguindo, e fez seu pit stop na volta 14 com uma vantagem tão grande para o segundo colocado que não perdeu a ponta. Na primeira janela de paradas, Webber ganhou a posição de Rosberg. E a corrida foi passando em banho-maria, com boas ultrapassagens, é verdade, mas muitas delas determinadas pelo estado dos pneus de cada um. Sutil e Di Resta, por exemplo, largando mais atrás, partiram para uma única parada. E até que deu certo, ambos pontuaram, e em vários momentos da corrida estiveram à frente de carros mais rápidos, vendendo caro seus lugares.

E não sejamos tão rigororos. Houve bons momentos, sim, como na volta 26. Hamilton passou Sutil, que passou Hamilton, que tomou de Massa. Tudo em poucos metros, valendo a quinta posição. Alonso também vinha lutando bravamente. Seu plano era adiar a segunda parada para as últimas voltas e, assim, colocar pneus macios e tentar algo. Na volta 35 ele chegou em Massa, que fazia uma corrida bem honesta. Felipe parou na 39ª e não foi ultrapassado na pista, porém. Fernandinho foi aos boxes na 45ª e quando saiu do túnel que leva os pilotos de volta à pista, parecia um alucinado cheirado e trabalhado nas drogas mais pesadas jamais criadas por Walter White, por muito pouco não foi atravessado pelo meio por Verme, e parece que estão analisando até agora se ele deve ser punido por ter passado o francês tororrôssico pelas franjas das arquibancadas, ou se deve ser entregue ao DEA através de um telefonema anônimo ao Hank.

Só sei que deu certo e com pneus macios Alonso ainda passou Hamilton e Di Resta e terminou em quinto. À frente dele, Grojã, que fez uma prova discreta mas, novamente, muito correta. Cresceu muito o espantalho francês nesta segunda metade de ano.

Resta Um, com um pit stop, foi o sexto, seguido por Comandante Amilton, Massacrado, Chiquitita e Fútil, este também, como já mencionado, com apenas uma parada. Pérez, o nono, ganhou a posição na última volta e recebeu elogios da McLaren.

Se for punido com 20 segundos em seu tempo final pela saída alucinógena dos boxes, Alonso pode cair de quinto para oitavo. Eu acho sacanagem puni-lo, sério. Talvez enviá-lo para alguma espécie de “rehab” seja mais humano, nessa situação.

(Acabo de ver que não houve punição. Menos mal.)

E o que mais a dizer?

Ah, claro que é engraçado acompanhar a ginástica verbal de todos os integrantes da equipe da emissora oficial para não admitirem que Massa já fechou com a Williams e Maldonado com a Lotus, mesmo isso tendo sido noticiado — vejam bem: noticiamos, não especulamos; não dissemos que “devem”, mas que “estão” — pelo Grande Prêmio, que eles leem, nas últimas duas semanas, com as informações apuradas pelo Américo Teixeira Jr. Não entendo esse joguete. Aulinha de jornalismo a quem não precisa: seus clientes são os telespectadores, não os pilotos, ok, bonitinhos? O que vocês sabem pode ser dito, tá bom, amiguinhos?

E para terminar, gostaria de agradecer as informações sobre sobreviseiras ao longo de toda a corrida, que “concerteza” foram muito úteis. Um dia vou contar quantos “concerteza”, que tenho certeza que são pronunciados assim, como palavra única na novilíngua, são ditos em duas horas. Haveremos de registrar algum recorde mundial.