Gola ligou agora, começo da noite aqui, fim de noite lá. Usou um telefone público e, como de hábito, fez uma chamada a cobrar. Achei estranho, Gola, disse eu. Mas todos os carros estão estranhos, o nosso é o mais normal de todos, respondeu ele. Não achei não, esse bico parece um aspirador de pó, ou a cara de um bagre. Bagre?, perguntou Gola. Nem sei o que é isso. Nosso bico é absolutamente normal e regular. Só que antes da apresentação um segurança gordão sentou sobre ele e afundou um pouco.
Ah, disse eu. Entendi. Mas me diga, Gola, qual foi a grande prioridade neste ano? O Alonso reclamava de falta de grip, começou a responder meu informante, que é versado em assuntos técnicos. Sendo assim, procuramos fazer de tudo para melhorar a pressão aerodinâmica. Para isso, todo mundo sabe, só mesmo otimizando os fluxos de ar. Foi o que fizemos.
Mas e o segurança gordão, não estragou tudo?, perguntei. Não, achamos até que ficou interessante. Colocamos no túnel de vento e pode ser que a gente adote para a temporada toda.
Sei, disse eu, depois de uma pausa refletindo sobre o tema. E o Kimi, gostou?
Bom, continuou Gola, perguntamos a ele, claro, o que tinha achado. Ele riu da história do segurança e falou que achou feio o cocozinho pintado na lateral. Vai ser uma merda que nem esse cocozinho, disse o Kimi, e saiu para beber, gargalhando. O diretor de marketing do banco estava do lado e, agora, estamos tentando salvar o contrato. Fora isso, está tudo bem.
Se está tudo bem, boa sorte para a Ferrari, então. Ah, e notei o preto atrás, na pintura. Bem estranho, mas bonito. Embora os puristas, sempre, reclamem quando o carro não é todo vermelho.