Blog do Flavio Gomes
F-1

QUE FOGO NO BAR, HEIN?

SÃO PAULO (quente) – Marcus Ericsson sacou o celular da sua família e gritou! “Fogo! Fogo!”. Talvez o rádio não estivesse funcionando, e por isso ele usou o aparelho com seu nome. Não precisava tanto, sempre tem bombeiro por perto e o carro da Caterham tem extintor, claro. Por sorte, ontem Kobayashi abasteceu pelas redondezas […]

fogocaterhamSÃO PAULO (quente) – Marcus Ericsson sacou o celular da sua família e gritou! “Fogo! Fogo!”. Talvez o rádio não estivesse funcionando, e por isso ele usou o aparelho com seu nome. Não precisava tanto, sempre tem bombeiro por perto e o carro da Caterham tem extintor, claro. Por sorte, ontem Kobayashi abasteceu pelas redondezas e o frentista perguntou se o extintor dele estava vencido. Koba disse que não, mas frentista que vende extintor é uma das raças mais insistentes do mundo, e ele enfiou a cabeça no cockpit e vibrou: “A-há, tá vencido, sim!”. E nosso mito nipônico não teve outra opção que não trocar.

Foi a sorte.

Quando chegou aos boxes, Ericsson, emburrado, cruzou com Raikkonen. “Fogo, né?”, falou. Marcus, ainda um garoto ingênuo, chegando agora, confirmou. “É, esquentou essa droga de unidade de força, acho que começou no MGU-K e passou para o MGU-H, e então…”, mas Kimi interrompeu o moço, “tô falando de ontem, que fogo no bar, hein?”, gargalhou o ferrarista, e continuou seu caminho, falando sozinho “esse Marbundas nem bebe, coitado”. O apelido foi Raikkonen que criou, e me parece indelicado, é como chamar cuscuz de “bundas-bundas”, típica piadinha sem graça.

A Caterham, como todos sabemos, usa unidades de quebra Renault, e aparentemente o fogo foi lá mesmo, e por superaquecimento. Já tive esse problema — curiosa e coincidentemente, com meu Corcel 1970. O motor é Renault, também. O jeito foi, nas descidas, colocar em ponto-morto e rezar para o vento baixar um pouco a temperatura da água — é o maior charme, o recipiente de expansão é de Pirex®; aprendi a fazer esse ®, agora me aguentem.

Nem é preciso dizer que Ericsson ficou em último, a 7s de Pérez, o mais rápido de hoje no Bahrein. Faltam dois dias para terminar a pré-temporada. A Force India está toda animadjenha, apesar de um de seus sócios ter sido preso por fraude fiscal. Mas dois dias em primeiro, aí é para comemorar, mesmo. Dizem, não consegui confirmar, que Pérez mandou o dedo do meio para o pitwall da McLaren cada vez que passou pela reta dos boxes. Foram 108 dedos.

Button viu alguns deles, porque seu carro teve um problema de câmbio e ficou parado um tempão. “Qualquer coisa ligada às unidades de pane atualmente demora muito para arrumar”, disse o inglês. Segundo ele, a equipe já sabe como usar as traquitanas todas em corrida. “Mas em termos de performance e acerto, ainda falta bastante coisa.”

Incêndio não foi exclusividade da Caterham. Maldonado, quando voltou para os boxes, ouviu de Raikkonen a mesma piadinha. “Fogo, né?”, falou o finlandês, mas o venezuelano não é mais nenhum garoto e, ao contrário de Ericsson, não deu nenhuma explicação para o colega. Antes, ameaçou partir para cima, “¡hijo de puta!”, no que foi contido pelos mecânicos da Lotus. Quando se acalmou, Kimi se dirigiu a ele e disse, colocando a mão sobre seu ombro direito: “Desculpe, Pastor. Não quis ofender. Mas me diga, é verdade que você tem medo de piscina?”. O colega não entendeu direito e, de modo rude, perguntou “¿Que dices?”, e então Raikkonen emendou: “É, você se afoga porque é mal do nado”, e saiu correndo serelepe, deixando o bolivariano espumando.

Pela piada e pelas parcas 31 voltas interrompidas pelo fogo na unidade de queima Renault, claro. Ah, Renault… Pelo menos com Vergne, na Toro Rosso, não quebrou nada. Mas foram só 61 voltas, pouco para quem precisa de milhagem. E ele ficou 4s atrás de Pérez. Melhor sorte teve a matriz. Ricardão fechou 66 voltas e foi até rápido, considerando os tempos de hoje: menos de 0s2 atrás do primeiro colocado. Motivo para festa na Red Bull? Longe disso. Outras equipes já viraram tempos bem melhores do que os registrados hoje. O time aproveitou para treinar pit stops. Tinha mecânico que nunca tinha visto o carro de perto. Amanhã e depois, Vettel deixa as funções de assessor de imprensa e assume o volante.

O alemão esteve na coletiva de Alonso e, segundo testemunhos, estava visivelmente alterado. Quando o espanhol comemorou as 122 voltas dizendo que “mais de 600 km são sempre bem-vindos, mas é difícil saber a posição em que a gente está”, Tião pediu o microfone para fazer uma pergunta e mandou: “E que posição vocês preferem? De quatro? Papai-e-mamãe? Meia…”, aí um segurança da Ferrari arrancou o microfone dele e o arrastou para fora da salinha, mas ele continuou gritando: “Cachorrinho? Boto cor-de-rosa? Canguru perneta?”. Raikkonen acompanhava a entrevista e comentou com um jornalista: “O cara tá mal. Viu ontem, que fogo no bar, hein?”.

Na Mercedes, uma quebra de câmbio tirou Hamilton da última hora e meia de treino. “Noventa minutos! Noventa minutos!”, gritava Paddy Lowe. O resultado não foi grande coisa, mas Lewis disse que o negócio é quebrar tudo agora para funcionar na primeira corrida, em Melbourne. A Sauber não teve problemas com Gutierros, assim como a Marussia, que fez seu melhor teste com Bianchi completando 75 voltas. Por fim, a Williams também fechou o dia aliviada depois que Massa percorreu 103 voltas. “Foi bom ver um sorriso em seu rosto”, falou o meigo Biela Nelson, engenheiro-chefe da equipe de testes.

Amanhã e depois, em pleno Carnaval, todo mundo na pista de novo. Como se sabe, no Bahrein os festejos momescos não são muito animados desde que cancelaram os desfiles na avenida Sheik de Sapucaih, e por isso mesmo corre-se o risco, apenas, de a paz ser perturbada por Vettel. Ele aprendeu uma versão de conhecida marchinha e foi visto, no bar, ensaiando o refrão “atravessamos o deserto na segunda/Renault estava quente/e queimou a nossa bunda”.

Por via das dúvidas, a Red Bull pediu a Ricciardo que fique até domingo na cidade.