Blog do Flavio Gomes
F-1

MEU, BURN! (2)

SÃO PAULO (se amanhecer, fico deprimido) – Algumas coisas se confirmaram depois das duas primeiras sessões de treinos para o GP da Austrália. Outras, nem tanto. Nada é muito conclusivo, claro, afinal foi só o primeiro dia do resto de nossas vidas. Mas me lembro de ter cravado alguns prognósticos bem certeiros, anos atrás, depois […]

meuburn20SÃO PAULO (se amanhecer, fico deprimido) – Algumas coisas se confirmaram depois das duas primeiras sessões de treinos para o GP da Austrália. Outras, nem tanto. Nada é muito conclusivo, claro, afinal foi só o primeiro dia do resto de nossas vidas. Mas me lembro de ter cravado alguns prognósticos bem certeiros, anos atrás, depois da primeira meia hora do primeiro treino livre de Melbourne. Os primeiros minutos de uma temporada podem não nos oferecer conclusões, mas dão muitas pistas.

Puxa, que novidade. Bem, dane-se. É assim que é.

Então vamos lá. O que todo mundo dizia depois da pré-temporada?

– Que a Mercedes era a maior candidata ao título. Podem ticar no quadradinho “acertamos”. Deu Comandante Amilton em primeiro (1min29s625) e Rosberguinho em segundo (a 0s157) no último treino de hoje, que terminou quando você estava no décimo sono e o tonto aqui acordadão vendo tudo e anotando tudo.

– Que a Ferrari estava ali por perto, nada muito brilhante, mas trabalhando na base da confiabilidade de seu equipamento. Podem ticar de novo em “acertamos”. El Fodón de las Astúrias ficou em terceiro, a 0s507 de Hamilton. Raikkonen, discretíssimo, foi apenas o sétimo, a 1s273. Fernandinho tem planos de engolir o finlandês logo. Deu a primeira mordida.

– Que a Red Bull estava fora da briga, iria lutar para passar do Q1 e se bobeasse seria rebaixada para a GP2 no ano que vem. Tiquem aí em “erramos miseravelmente”. Tião Alemão foi quem mais andou de tarde, 41 voltas, e já meteu um quarto lugar. OK, ficou a 0s756 da Mercedes de Lewis. Mas para quem, como eu, achava que o ano estava perdido antes de começar, foi um desempenho mais do que aceitável. Acho que devo rever alguns conceitos. Não se pode subestimar esses caras, enfim. Em todo caso, vou manter meu palpite de que os rubrotaurinos nesta temporada não lutam pelo título. Por enquanto.

– Que a Williams era candidata a vitórias, quiçá ao título. Melhor ticar no quadradinho “talvez tenhamos exagerado, mas ainda é cedo”. De fato, pela manhã a equipe andou bem com seus dois pilotos. De tarde, Sapattos foi o oitavo (a 1s295) e Massacrado, 12° (a 1s494). Pode ser que o time tenha se dedicado mais a “long runs” de tarde, sem muita preocupação com tempos. Mas quão rápido é esse carro bonitão, só saberemos depois da primeira classificação. E o finlandês começou bem no duelo interno com Felipe, embora seja necessário relativizar esses resultados das sextas-feiras. Muitas vezes só nós damos importância a eles.

– Que a Lotus seria a grande decepção de 2014. Ticando no quadradinho “acertamos na mosca”. Grojã foi o penúltimo colocado entre os que conseguiram completar voltas, a mais de 4s de Hamilton. Maldanado nem saiu dos boxes. Está pensando em fazer um protesto amanhã. A equipe, sem grana, começou a pré-temporada depois das outras e o carro é muito complicado. Quando surge algum problema, os caras levam horas para saber o que é. Depois, não sabem consertar.

– Que a Force India seria uma boa surpresa, quem sabe até para brigar por pódios. Tiquem no quadradinho “vocês não aprendem mesmo e vivem superestimando equipe pequena que vai bem em testes”. OK, assumo. Esperava mais. Hulk foi o décimo e Maria do Bairro ficou em 13°.

A destacar do primeiro dia, houve menos quebras do que se imaginava. As duas equipes que realmente tiveram problemas foram Lotus e Caterham. Esta, de tarde, nem saiu dos boxes. Parece que no carro de Koba-mito houve um defeito na bomba de gasolina. Diafragma? No DKW eles costumam romper, quando ressecam. Mandaram algum funcionário procurar nas lojas de autopeças perto de Albert Park. Não encontraram o modelo original. Nem genérico. Resultado: o japonês ficou vendo tudo pela TV, assim como Marcus Celular Sem Chip.

Outro que mitou foi Vijay Mallya, o dono-pop da Force India. Quando uma câmera chegou nele no pitwall, o dirigente não teve a menor dúvida. Com seu vozeirão de Agnaldo Timóteo, disparou: “We need the Formula One noise”. Era a primeira manifestação audível de contrariedade com o ronronar dos novos motores da categoria, que lembram muito o do Gurgel BR-800. Na hora, se o diretor de TV fosse bem-humorado, poderia colocar uma hashtag na telinha assim, ó: #chupaturbo.

Foi engraçada, também, a manifestação da Lotus pelo Twitter quando apareceu uma imagem de Massa passando sobre uma zebra, com seu pneu traseiro chacoalhando loucamente. “Guessing @MassaFelipe19 was shaken, not stirred by that trip on the rocks”, escreveu o inspiradíssimo responsável pelas redes sociais da equipe. Se você não tem ideia do que estamos falando, é só ver o vídeo abaixo.

Sigamos. Nas comunicações de rádio, notei que Rosberguinho passou boa parte da tarde treinando como economizar gasolina. “Banguela aí”, dizia o engenheiro em determinados pontos da pista. “Quanto tá fazendo?”, perguntava Nico. “Dez por litro no álcool”, respondia o mesmo engenheiro. Já na Toro Rosso, o pobre Kvyat ficou tonto com tantas demandas de seu engenheiro. “Esquente os pneus, equalize os freios, mude o mapa do motor, tome água, troque de marcha mais cedo, breque mais tarde, acelere antes, pisque para a câmera, olhe no espelhinho…”, até que Danii-se gritou “chega, não consigo fazer tudo, o que mais você quer de mim?”, e o engenheiro, depois de dar uma titubeada, pediu: “Me explica essa parada da Crimeia”.

Bem, e foi isso aí. A pole amanhã deve ficar nas mãos da Mercedes. Deve, não. Vai ficar. O que não quer dizer muito para a corrida, que será de sobrevivência. Se é verdade que não tivemos muitas quebras hoje, um GP inteiro na pauleira é outra coisa. Podemos ter surpresas. Depois, tem outro negócio. Os carros ficaram muito instáveis nas freadas e nervosinhos nas saídas de curva por causa do torque dos motores turbo. Piloto que não souber como lidar com isso nas 58 voltas da prova de Melbourne não vai muito longe.

E agora vou dormir. Não sem antes deixar a foto exigida pelo nosso novo projeto gráfico. Se quiserem ver mais, vão lá no Grande Prêmio, que eles vão trabalhar mesmo depois que o sol nascer. Eu, não.