Blog do Flavio Gomes
F-1

SE PANGS (5)

SÃO PAULO (café, café, café!) – Foi ruim, a corrida. Porque pela primeira vez desde o dia em que o Infalível escolheu Kuala Lumpur como cenário para o vídeo de Noé no HolyTube, não choveu no horário previsto. E sem chuva, tivemos um dos GPs da Malásia mais chatos de todos os tempos, ou pelo […]

sepangs5SÃO PAULO (café, café, café!) – Foi ruim, a corrida. Porque pela primeira vez desde o dia em que o Infalível escolheu Kuala Lumpur como cenário para o vídeo de Noé no HolyTube, não choveu no horário previsto. E sem chuva, tivemos um dos GPs da Malásia mais chatos de todos os tempos, ou pelo menos dos que me lembro.

OK, não me lembro de muita coisa, já deve ter tido corrida pior em Sepang, mas essa foi ruizinha, mesmo. Andei lendo que Villeneuve fez alguns comentários sobre o atual estado de coisas da F-1 à imprensa italiana, e ele disse que hoje em dia tem corrida nas três primeiras voltas, todo mundo tenta ganhar algumas posições, e depois os pilotos passam o resto da prova economizando gasolina.

Bem, pode ser um pouco exagerado, não sou tão pessimista assim. Acho que erraram a mão no novo regulamento, acho que esses motores complicados são desnecessários, mas continuo achando que o campeonato pode ser bom. Ainda tem espaço de crescimento para equipes como Ferrari, McLaren, Red Bull e até a Williams. O domínio da Mercedes é claro e cristalino, mas nada garante que será assim o ano todo.

Sejamos otimistas.

Mas também não vamos enxergar beleza onde não há. A prova de hoje só foi bonita, mesmo, para os mercêdicos, que fizeram sua primeira dobradinha na F-1 desde 1955, quando Fangio e Taruffi terminaram o GP da Itália nas duas primeiras posições. Mais números, para não deixar passar nada: Hamilton pontuou pela 100ª vez na carreira, ganhou seu 23° GP e empatou com Piquet nas estatísticas e já é um dos 11 maiores vencedores da história. Dedicou o resultado às vítimas do misterioso 777 da Malaysian que desapareceu sem deixar rastros.

Foi uma vitória tranquila e absoluta. Três paradas, melhor volta, pole, e só não liderou de ponta a ponta porque salvo engano Hülkenberg fechou uma voltinha em primeiro, por ter adiado seu primeiro pit stop.

Rosberguinho, que poderia ameaçar o parceiro, não o fez porque Comandante Amilton estava num daqueles dias perfeitos. O alemão largou bem e assumiu a segunda posição já na primeira volta. Mas nunca chegou perto do inglês. O pódio foi fechado por Tião Alemão, distante, também, que teve momentos incríveis na largada: foi ultrapassado por Ricardão e começou a gritar “Multi 21! Multi 21!”, até recuperar o lugar na quarta volta.

Ricardão, coitado, vive dias de inferno astral. Perdeu o segundo lugar da Austrália, perdeu o terceiro lugar para Vettel no início, aprumou-se, estava firme e forte em quarto, mas quando fez seu terceiro pit stop seu mundo desabou. Liberaram o rapaz sem prender direito a roda dianteira esquerda, tiveram de puxar o carro de volta, ele caiu para 14°, quebrou a asa, furou um pneu, pagou um stop & go por ter sido liberado de maneira perigosa, abandonou a quatro voltas do fim e ainda tomou uma punição para o Bahrein, perda de dez posições no grid, por conta do pit stop desastroso da Red Bull.

Mesmo assim, era todo sorrisos nos boxes, porque é um cara do bem. “Sou positivo”, falou. “Adoro o que faço e é um privilégio estar aqui. E é muito legal disputar corridas lá na frente, é um negócio que vicia!” OK, Ricardão, é isso aí, a vida é bela, nada de ficar para baixo.

Outro bafejado pelo infortúnio foi Kevin Magnólia, que tocou em Raikkonen na largada, furou o pneu do finlandês, tomou um stop & go e dois pontos na carteira, precisou trocar o bico… Enfim, um desastre. Mesmo assim, terminou em nono. Mas se odiando. “Não tenho desculpas, lamento pela equipe, meu mau resultado é culpa exclusiva minha”, disse, pedindo desculpas pelo rádio ao time, à Dinamarca e à Escandinávia toda, autoflagelando-se implacavelmente enquanto seu pai Jan tomava uma cerveja e consolava o menino. “A vida é assim, meu filho. Um dia é da caça, outro do caçador, em casa de ferreiro, espeto de pau, água mole em pedra dura tanto bate até que fura, quem tudo quer…”, e parece que está filosofando até agora, para desespero dos convidados da McLaren que não desejam ser deselegantes e por isso ainda não o deixaram falando sozinho.

A corrida foi insuportavelmente chata até pouco depois de sua metade, com posições inalteradas na frente e muito espaço entre todos os pilotos. Até que veio um rádio de Raikkonen: “Está chovendo num lado da pista!”, disse com eloquência o ferrarista, brigando nas últimas posições com carros da Marussia, Caterham,  Ssangyong e Lada. Não tinha chuva nenhuma. Alguém cuspiu da arquibancada, ou atirou um copinho de água para o alto. Era tudo mentira. Só para animar o povo diante da TV.

Vettel chegou a se aproximar de Rosberg e esboçou uma briguinha pelo segundo lugar, mas desistiu antes de tentar. A dez voltas do fim, Massa encostou em Bonitton pela sexta posição, mas o mclariano resistiu. Alonso, em quinto, passou batido por Hulk na volta 53, já que o forceíndico estava com os pneus em frangalhos por ter optado por dois pit stops. Reassumiu o quarto (e discretíssimo) lugar e lá terminou. E tirando a babaquice da Williams com Massa e Bottas, nada mais aconteceu, a ponto de a TV malaia, na última volta, mostrar por longos segundos a emocionante disputa entre Grojã e Raikkonen pelo 11° lugar. Menção honrosa para a Caterham, com Koba-Mito em 13° e Sonyericsson em 14°. Se pans, a equipe marca um pontinho neste ano. Basta se manter na pista e esperar pelas quebras que serão numerosas, ainda, neste início de campeonato.

E fim de papo, com a zona de pontos na Malásia composta por Comandante Amilton, Rosberguinho, Tião Alemão, El Fodón de la Quarta Posición, Incrível Hulk, Bonitton, Massacrado, Sapattos, Magnólia e K-Viado, este pontuando pela segunda vez em seu ano de estreia. É bem espertinho, esse rapaz, e se eu continuar chamando-o de K-Viado posso me dar mal. Rosberg lidera o campeonato com 43 pontos, seguido por Hamilton (25), Alonso (24), Button (23) e Magnussen (20).

Domingo que vem tem Bahrein. A corrida neste ano começa às 18h locais, então vai ter crepúsculo, sol se pondo no deserto, iluminação artificial, o locutor vai dizer “um show de imagens pra você!”, se pans vão aparecer silhuetas de camelos e beduínos, essas coisas das arábias.

Tomara que tenha corrida boa, também. Essa da Malásia ficou devendo.