OK, não me lembro de muita coisa, já deve ter tido corrida pior em Sepang, mas essa foi ruizinha, mesmo. Andei lendo que Villeneuve fez alguns comentários sobre o atual estado de coisas da F-1 à imprensa italiana, e ele disse que hoje em dia tem corrida nas três primeiras voltas, todo mundo tenta ganhar algumas posições, e depois os pilotos passam o resto da prova economizando gasolina.
Bem, pode ser um pouco exagerado, não sou tão pessimista assim. Acho que erraram a mão no novo regulamento, acho que esses motores complicados são desnecessários, mas continuo achando que o campeonato pode ser bom. Ainda tem espaço de crescimento para equipes como Ferrari, McLaren, Red Bull e até a Williams. O domínio da Mercedes é claro e cristalino, mas nada garante que será assim o ano todo.
Sejamos otimistas.
Mas também não vamos enxergar beleza onde não há. A prova de hoje só foi bonita, mesmo, para os mercêdicos, que fizeram sua primeira dobradinha na F-1 desde 1955, quando Fangio e Taruffi terminaram o GP da Itália nas duas primeiras posições. Mais números, para não deixar passar nada: Hamilton pontuou pela 100ª vez na carreira, ganhou seu 23° GP e empatou com Piquet nas estatísticas e já é um dos 11 maiores vencedores da história. Dedicou o resultado às vítimas do misterioso 777 da Malaysian que desapareceu sem deixar rastros.
Foi uma vitória tranquila e absoluta. Três paradas, melhor volta, pole, e só não liderou de ponta a ponta porque salvo engano Hülkenberg fechou uma voltinha em primeiro, por ter adiado seu primeiro pit stop.
Rosberguinho, que poderia ameaçar o parceiro, não o fez porque Comandante Amilton estava num daqueles dias perfeitos. O alemão largou bem e assumiu a segunda posição já na primeira volta. Mas nunca chegou perto do inglês. O pódio foi fechado por Tião Alemão, distante, também, que teve momentos incríveis na largada: foi ultrapassado por Ricardão e começou a gritar “Multi 21! Multi 21!”, até recuperar o lugar na quarta volta.
Ricardão, coitado, vive dias de inferno astral. Perdeu o segundo lugar da Austrália, perdeu o terceiro lugar para Vettel no início, aprumou-se, estava firme e forte em quarto, mas quando fez seu terceiro pit stop seu mundo desabou. Liberaram o rapaz sem prender direito a roda dianteira esquerda, tiveram de puxar o carro de volta, ele caiu para 14°, quebrou a asa, furou um pneu, pagou um stop & go por ter sido liberado de maneira perigosa, abandonou a quatro voltas do fim e ainda tomou uma punição para o Bahrein, perda de dez posições no grid, por conta do pit stop desastroso da Red Bull.
Mesmo assim, era todo sorrisos nos boxes, porque é um cara do bem. “Sou positivo”, falou. “Adoro o que faço e é um privilégio estar aqui. E é muito legal disputar corridas lá na frente, é um negócio que vicia!” OK, Ricardão, é isso aí, a vida é bela, nada de ficar para baixo.
Outro bafejado pelo infortúnio foi Kevin Magnólia, que tocou em Raikkonen na largada, furou o pneu do finlandês, tomou um stop & go e dois pontos na carteira, precisou trocar o bico… Enfim, um desastre. Mesmo assim, terminou em nono. Mas se odiando. “Não tenho desculpas, lamento pela equipe, meu mau resultado é culpa exclusiva minha”, disse, pedindo desculpas pelo rádio ao time, à Dinamarca e à Escandinávia toda, autoflagelando-se implacavelmente enquanto seu pai Jan tomava uma cerveja e consolava o menino. “A vida é assim, meu filho. Um dia é da caça, outro do caçador, em casa de ferreiro, espeto de pau, água mole em pedra dura tanto bate até que fura, quem tudo quer…”, e parece que está filosofando até agora, para desespero dos convidados da McLaren que não desejam ser deselegantes e por isso ainda não o deixaram falando sozinho.
A corrida foi insuportavelmente chata até pouco depois de sua metade, com posições inalteradas na frente e muito espaço entre todos os pilotos. Até que veio um rádio de Raikkonen: “Está chovendo num lado da pista!”, disse com eloquência o ferrarista, brigando nas últimas posições com carros da Marussia, Caterham, Ssangyong e Lada. Não tinha chuva nenhuma. Alguém cuspiu da arquibancada, ou atirou um copinho de água para o alto. Era tudo mentira. Só para animar o povo diante da TV.
Vettel chegou a se aproximar de Rosberg e esboçou uma briguinha pelo segundo lugar, mas desistiu antes de tentar. A dez voltas do fim, Massa encostou em Bonitton pela sexta posição, mas o mclariano resistiu. Alonso, em quinto, passou batido por Hulk na volta 53, já que o forceíndico estava com os pneus em frangalhos por ter optado por dois pit stops. Reassumiu o quarto (e discretíssimo) lugar e lá terminou. E tirando a babaquice da Williams com Massa e Bottas, nada mais aconteceu, a ponto de a TV malaia, na última volta, mostrar por longos segundos a emocionante disputa entre Grojã e Raikkonen pelo 11° lugar. Menção honrosa para a Caterham, com Koba-Mito em 13° e Sonyericsson em 14°. Se pans, a equipe marca um pontinho neste ano. Basta se manter na pista e esperar pelas quebras que serão numerosas, ainda, neste início de campeonato.
E fim de papo, com a zona de pontos na Malásia composta por Comandante Amilton, Rosberguinho, Tião Alemão, El Fodón de la Quarta Posición, Incrível Hulk, Bonitton, Massacrado, Sapattos, Magnólia e K-Viado, este pontuando pela segunda vez em seu ano de estreia. É bem espertinho, esse rapaz, e se eu continuar chamando-o de K-Viado posso me dar mal. Rosberg lidera o campeonato com 43 pontos, seguido por Hamilton (25), Alonso (24), Button (23) e Magnussen (20).
Domingo que vem tem Bahrein. A corrida neste ano começa às 18h locais, então vai ter crepúsculo, sol se pondo no deserto, iluminação artificial, o locutor vai dizer “um show de imagens pra você!”, se pans vão aparecer silhuetas de camelos e beduínos, essas coisas das arábias.
Tomara que tenha corrida boa, também. Essa da Malásia ficou devendo.