Blog do Flavio Gomes
F-1

MANÁ-MANÁ (4)

SÃO PAULO (curti, compartilhei) – Bom, esqueçamos a Mercedes, então, e vamos ao GP dos Outros, que foi melhor ainda, afinal tinha mais carros. No grid, apenas Vettel e Sutil largaram com pneus médios. Os demais encararam o crepúsculo árabe de macios, mesmo. Massacrado foi o nome da primeira volta. Saltou feito um sapo que […]

manamana4SÃO PAULO (curti, compartilhei) – Bom, esqueçamos a Mercedes, então, e vamos ao GP dos Outros, que foi melhor ainda, afinal tinha mais carros.

No grid, apenas Vettel e Sutil largaram com pneus médios. Os demais encararam o crepúsculo árabe de macios, mesmo. Massacrado foi o nome da primeira volta. Saltou feito um sapo que leva uma espetada na bunda e de sétimo apareceu em terceiro na primeira curva. Ali começou a ganhar a corrida de Sapattos, mas não seria fácil. Muito pelo contrário. Bottas ficou nos seus calcanhares até o fim.

(Sacaram? Sapatos, botas, botinas, nos calcanhares? Sou muito gênio.)

Até na hora de entrar no escritório da Williams, já a pé, tenho relatos de que tentou fazer a ultrapassagem, chegou até a abrir a asa, e foi quando notaram que ele esqueceu o desodorante e pediram para abaixar os braços e tomar um banho porque estava osso.

Enquanto Hamilton e Rosberg disparavam lá na frente, aqui atrás a coisa pegava no breu com ótimas brigas caseiras. Para os mercêdicos, as mensagens eram no tom “economize combustível, a gente não sabe o preço da gasolina amanhã”, ou “Nico, você prefere janela ou corredor no voo amanhã?”. Para os demais, “passa, desgraçado, olha para o lado, retardado, cuidado, anta, fecha a porta, joga ele pra fora, não deixa, dá na traseira, dá no meio dele!”.

Logo de cara deu para notar que a Force India seria a grande adversária da Williams na prova. Rápidos, Pérez e Hülkenberg ainda fariam uma parada a menos. O alemão, em 11° no grid, precisava ganhar terreno logo e assim o fez, passando Alonso na quinta volta para assumir o sétimo lugar e entrar na brincadeira. Na 12ª volta, foi a vez de Pérez atropelar Massa. E começaram os pit stops para aqueles que pretendiam trocar os pneus três vezes. Era o caso dos martinianos (vou chamar os pilotos da Williams de martinianos, a partir de agora, acho criativo).

No início da corrida, aqueles que pararam antes que seus companheiros se saíram melhor. Foi o caso de Bottas, que após o primeiro pit stop apareceu em sétimo, com o brasileiro em oitavo. Pérez se estrepou ainda mais e foi parar atrás de Hulk.

Estava engraçado de ver a Ferrari. Todo mundo passava Raikkonen e Alonso. Alguns dromedários foram vistos dando farol para o carro vermelho e lerdo do finlandês. Na reta. Enquanto isso, na Red Bull, Vettel ouviu a mensagem de rádio: “Daniel is quicker than you”. Ninguém se escandalizou. Tião Alemão tinha pneus mais duros. Ricardão, mais moles. Não foi uma ordem. Foi um toque. O australiano, que teve um fim de semana excepcional, passou.

Com pneus algumas voltas mais novos, Massa chegou de novo em Bottinas na volta 23, mas os dois da Force India estavam tão perto que a sensação era de que os quatro, Valtteri, Felipe, Hulk e Maria do Bairro, estavam amarrados com uma corda, em terceiro, quarto, quinto e sexto. Na 25ª volta, a Williams chamou Bottas para a segunda parada. Hulk tentou passar Massa e levou um risco na carenagem de Pérez, que estava endiabrado. O alemão reclamou pelo rádio. “Olha só, ele não me deu espaço!” Do outro lado, o engenheiro de Pérez invadiu a linha e falou: “Mimimi, não enche, franguinha loira!”.

Mais um pouco e o mexicano entubou Felipe para assumir o terceiro lugar. Esses carrinhos da Force India não têm nada de ruins. Ao contrário. Foi a senha para o martiniano do Brasil parar de novo, já sem pneus, na volta 29. Retornou ao leito do autódromo em décimo, 8s atrás de Sapattos, ambos com os mesmos pneus macios.

A sorte de Massa foi que Bottas andou se atrapalhando. Como tinha três paradas, era preciso superar sem titubear os que estavam à frente para dois pit stops, com carros mais lentos e pneus mais gastos. Foi assim que tentou para cima de Raikkonen na volta 31 — logo depois dos camelos, que já haviam feito a ultrapassagem sem muitos problemas. Errou a freada, saiu da pista e quase foi parar na Arábia Saudita. Os 8s para Massa viraram 4s. O finlandês perdeu mais tempo ainda para se aproximar novamente de Kimi e Felipe veio na balada. Ambos passaram também por Ricciardo e foram em frente, um na cola do outro.

Pérez e Hulk faziam uma outra prova, em outro ritmo, com um pit stop a menos. O mexicano veio para o box na volta 35 e o alemão, na 36. Na 39, Massa deu uma de espertinho e parou antes de Bottas para o terceiro pit. Aí veio a monumental cagada de Maldonado, na volta 41, que ao tentar passar Gutierrez por baixo da Sauber do chicano levou o carro suíço a dar uma pirueta, capotar e cair de pé. Até agora, além de um stop & go de dez segundos, o temerário venezuelano levou três pontos na carteira e mais cinco posições no grid de Xangai. Pode ser que perca o passaporte, também.

O safety-car entrou na volta 42 para retirar o zonzo Gutierros da pista e só foi sair na 47. Essa intervenção não ajudou muito a Williams porque seus dois pilotos voltaram atrás de um monte de gente: os dois da Mercedes, Pérez, Hulk, Bonitton, Vettel e Ricardão. Em compensação, transformou as voltas finais num thriller eletrizante (parece chamada de “Sessão da Tarde”, esse negócio de thriller eletrizante) com todos atacando todos, sem que houvesse tempo sequer de os engenheiros dizerem algo pelo rádio.

Na verdade, diziam. Mas a gritaria não foi ao ar. Seria incompreensível. Button, de repente, foi ficando para trás, com problemas de embreagem. Ricciardo se pegou por várias voltas com Kimi e Alonso, passou Vettel sem muita cerimônia (Tião está sentindo falta de Webber e disse pelo rádio para mandarem “um abraço ao Mark, I miss him”) e se tivesse este GP dos Outros mais uma volta, iria ao pódio. Grande prova do australiano.

Massa também tentou algo sobre Sebastian, mas levou o troco. Conseguiu, no entanto, chegar na frente de Bottas, depois de ter largado atrás. É um tijolinho a mais na construção. Como dito ontem, terá de fazer isso o ano todo porque são pilotos que se equivalem.

Fim de papo com Checo em primeiro (as Mercedes não contam), com um sorriso enorme no pódio e a hashtag #chupaMcLaren, seguido por Ricciardo, Hülkenberg, Vettel, Massa, Bottas, Alonso e Raikkonen. A Force India está em segundo no Mundial de Construtores com 44 pontos. Significa.

No pódio, Pérez estava tão feliz que deu um abraço comovente no príncipe e disse a ele: “Alá seja louvado!”. O príncipe ficou tão emocionado que mandou reservar dez virgens de seu harém para o piloto. “Gracias”, agradeceu Checo. “Soy novio.”

Fernando, El Fodón de La Nona Posición, comemorou efusivamente o nono lugar e dois pontos importantíssimos na classificação. “Estamos lutando com Lotus, Marussia e Caterham e eles não pontuaram!”, festejou o espanhol, dando um forte abraço e um beijo na boca de Luca di Montezemolo. Ainda elogiou a loção pós-barba do presidente da Ferrari. “Neste calor e o senhor tão fresquinho!”

Kimi, vendo aquilo, balbuciou: “Ele está ficando doido, coitado”.