Blog do Flavio Gomes
DKW & cia.

DE MONZA PELA BAVÁRIA

SÃO PAULO (mais uma etapa cumprida) – Um dia de sol e calor, quase 30 graus, normalmente não é ideal para sair andando de DKW. Ao menos no Brasil, numa cidade grande como São Paulo. O trânsito não anda, o calor fica insuportável, o carro ferve. Mas na Bavária… Na Bavária, OK. Peter Kober passou […]

SÃO PAULO (mais uma etapa cumprida) – Um dia de sol e calor, quase 30 graus, normalmente não é ideal para sair andando de DKW. Ao menos no Brasil, numa cidade grande como São Paulo. O trânsito não anda, o calor fica insuportável, o carro ferve. Mas na Bavária… Na Bavária, OK.

Peter Kober passou no meu hotel pontualmente às 9h30 ontem, quarta, para o ponto alto, altíssimo, do meu bate-volta na Alemanha. Fomos até a Audi Tradition, onde o Alex, esse rapaz vestido de festa junina numa das fotos abaixo, já tinha preparado o Monza para seu passeio com um brasileiro ao volante.

Sem querer me gabar, é para poucos. Os carros são do museu da Audi, e é óbvio que não é qualquer um que pode dirigi-los. Digamos que seja necessário provar alguma familiaridade com a marca. Mas isso eles já tiveram de mim. Em 2007, ou 2008, não lembro bem, Peter e Ralfie, o Indiana Jones da Audi Tradition, passaram em São Paulo, a caminho do Peru, para conhecer meus carros. Catei os dois com meu 67 e ficamos o dia todo rodando pela cidade dentro dele, num calor dos infernos. Alguns anos depois, o rolê foi de Wartburg.

Portanto, minha superlicença era mais do que suficiente. Alex puxou o carro para fora do galpão com esse carrinho elétrico espetacular, que você enfia debaixo das rodas, aperta um botão, ele ergue o carro um pouquinho e você sai puxando como se fosse um brinquedo. Preciso de um negócio desses.

Peguei a chave, ajeitei o banco, pedi ao Alex para regular o espelhinho no para-lama, dei a partida no botão e… Puta merda. Como é que esses caras mantêm esses DKWs tão perfeitos? Mal dava para escutar o motor. Fumaça, muito pouco. Reguladinho, justinho, tudo funcionando, vamos em frente.

Peter montou um roteiro pelas redondezas, apenas estradas secundárias, cortando lindas cidades como Neuburg (onde fizemos o primeiro pit stop; no fim, foi a única que guardei o nome, estava mais preocupado em dirigir), acompanhando o Danúbio, passando por castelos, vilarejos, aldeias, uma parada para almoçar comida bávara de raiz, outras tantas para tirar fotos, e mais estradas, muita conversa, eu quase flutuando com aquele carrinho nas minhas mãos.

Foram quase cinco horas de passeio, sem pressa alguma, precisamente 148 km rodados e zero, zero de problemas. Simplesmente perfeito, o motorzinho ronronando feliz da vida, porque nem sempre esses carros veem o sol, eles devem falar muito sobre isso entre eles quando estão no silêncio do galpão à espera do próximo evento, do próximo maluco que virá de longe para dar umas bandas por aí.

Seguimos para a casa do Peter em Ingolstadt, café e bolo, a placa de prata que demos a ele em 2008 no Blue Cloud orgulhosamente disposta entre algumas miniaturas e lembranças do Brasil, e no fim da tarde ele me levou até Munique, uns 80 km de distância, nos abraçamos fraternalmente e acabou-se o que era doce.

Foram apenas três dias, nem isso, que valeram por uma vida. Valeram porque lá atrás, anos atrás, quando pela primeira vez ofereci o #96 para a Audi, jamais poderia imaginar que algum tempo depois três DKWs brasileiros seriam comprados por uma das maiores montadoras do mundo para fazer parte de seu acervo. Jamais poderia imaginar que um dia participaria de um passeio com um DKW conversível do museu de Zwickau até Zschpoau, de onde em 1936 saiu a motocicleta que está na minha garagem. Jamais poderia imaginar que a Audi montaria uma exposição com carros brasileiros e que eu cortaria a fita da inauguração. Jamais poderia imaginar que passaria um dia quase inteiro dirigindo uma lenda, o DKW Monza, por estradas da Alemanha.

E jamais poderia imaginar que precisaria até usar gravata para conseguir tudo isso.

LEGENDAS

Aqui tem um álbum completo de fotos da exposição no Audi museum mobile. Selecionei algumas que eu mesmo fiz, e outras que me mandaram: 1) Bundinhas de DKWs no primeiro andar dos três pisos que contêm parte do acervo da Audi Tradition; 2 e 3) Uma linda, divina perua Audi 80 Variant; 4) Alex e Peter tirando o Monza da garagem (os carros não podem ser ligados dentro do galpão); 5) Eu e o Monza num lugar, aquela caverna lá no fundo, onde segundo o Peter foi descoberto um Homem de Neandertal (ele, provavelmente) e surgiu a humanidade; 6) O Monza; 7) Eu ao volante do esportivinho maravilhoso; 8) Posando para foto ao lado do 67 na exposição de DKWs brasileiros no museu da Audi; 9) Com a Leila e a Aline, brasileiras que trabalham em Ingolstadt; 10) Falando umas groselhas sobre a Vemag para a audiência atenta; 11) Preparando a tesoura par cortar a fita antes do alemão; 12) Ao lado do Malzoni restaurado pelo Rodrigo Theise, vendido para a Audi em 2008.