Blog do Flavio Gomes
F-1

MONT & MELÓ (6)

OSASCO (tem trânsito) – Achei genial o estilo radiofônico do post de ontem, mas como não agradou muito, voltemos à vaca fria. Exaltar o domínio da Mercedes a esta altura do campeonato é desnecessário e enfadonho. Então deixemos isso para o fim. Falemos dos grandes destaques e das grandes decepções do GP da Espanha. Começando por […]

hamiltomiroOSASCO (tem trânsito) – Achei genial o estilo radiofônico do post de ontem, mas como não agradou muito, voltemos à vaca fria.

Exaltar o domínio da Mercedes a esta altura do campeonato é desnecessário e enfadonho. Então deixemos isso para o fim. Falemos dos grandes destaques e das grandes decepções do GP da Espanha.

Começando por Vettel, o maior nome da corrida.

Vejamos. O rapaz deu quatro voltas na sexta-feira. Queimou o chicote e o eletricista não conseguiu arrumar a tempo. No sábado, no Q3, Tiãozinho saiu dos boxes e quebrou o câmbio. De décimo no grid, teve de ser deslocado para a 15ª posição.

E foi de lá que partiu para um lindo quarto lugar, parando três vezes, jantando quem visse pela frente quando precisou passar alguém na pista.

É ruim, o moço? Está tomando pau de Ricciardo? Só ganha com o melhor carro?

Não para todas as perguntas. É muito bom, mantém a motivação mesmo sabendo que não tem a menor chance de ganhar um GP neste ano, depois de quatro títulos seguidos, começou pior que seu novo companheiro de equipe (o que é bem diferente de “tomar pau”), está correndo atrás do prejuízo (a expressão é corretíssima; neguinho tem um preju, sai correndo atrás dele, passa por ele, enche ele de porrada, acabou, e quem diz que correr atrás do prejuízo é perseguir o dito cujo para com ele levar um lero não sabe do que está falando; se você corre atrás do prejuízo é porque o prejuízo está na tua frente, te ultrapassou, você está perdendo, sacaram?), e ter o melhor carro, amiguinhos e amiguinhas, é a única forma, nesta F-1, de ganhar com frequência.

Deixemos Vettel em paz, então, e saibamos reconhecer seu valor. Anotem: será ele o terceiro colocado no Mundial.

Como deve-se reconhecer o talento de Ricardão, que subiu ao pódio oficialmente pela primeira vez (na Austrália foi desclassificado, como vocês lembram). Terceiro colocado, o jovem australiano da Red Bull é um sopro de vida na equipe, depois de anos de depressão e mau-humor com Webber. Vai longe, muito longe, e os rubrotaurinos acertaram na mosca ao promovê-lo. Fora que tem o sorriso mais autêntico do esporte a motor.

Grojã é outro que merece respeito pelos primeiros pontos da Lotus no ano, com o oitavo lugar, enquanto Maldanado segue fazendo merda de baciada. Hoje bateu em Sonyericsson no início da prova. Realmente a cada dia que passa é mais inexplicável sua vitória em Barcelona dois anos atrás. A gente costuma dizer que qualquer piloto que vence um GP na F-1 tem enorme valor. Talvez Pastor seja a exceção. Está completamente perdido e transtornado. É fraco, em resumo. Aquele triunfo de 2012 foi, talvez, a maior zebra dos últimos dois séculos na categoria.

Vale uma menção honrosa também para a Force India, que pela quarta vez em cinco corridas colocou seus dois pilotos nos pontos. OK que Maria do Bairro ficou só em nono e Hulk, em décimo. Mas o time sabia que Barcelona não seria a melhor pista do mundo para seus dois pilotos, e foi buscar o que dava. De parabéns, então. Está em quarto entre as equipes, a nove pontos da Ferrari.

E palmas para Bottas, quinto colocado, pontos em todas as corridas do ano — como ele, pontuaram nas cinco provas desta temporada apenas Rosberg, Alonso e Hülkenberg. Elogios que levam, automaticamente, a abrir a seção de fiascos do dia.

Felipe Massa. Um erro na classificação determinou sua má posição de largada. Mas também não era nenhum desastre, o nono lugar. Dali daria para construir algo. Terminou em 13°, sem poder atribuir o mau resultado a nada em especial — batidas, toques, pneus furados, pit stops ruins, problemas de ERS, o que for. O brasileiro fez três paradas, algo que poderia ser considerado um erro — Sapattos teve estratégia diferente, de dois pit stops. OK. Mas Vettel também fez três, largou em 15° e chegou em quarto. Alonso igualmente foi para três trocas de pneus, partiu em sétimo e depois de muita luta chegou em sexto. Viram como dava para fazer algo melhor?

Bottas tem 34 pontos no campeonato, contra 12 de Massa. Que pode, sim, argumentar que na Austrália foi acertado por um Kobayashi desembestado, e que teve um problema com uma epidemia de Mecanicus confusus na China, numa parada que estragou sua corrida. Mas o fato é que Valtteri tem demonstrado um ritmo de corrida muito sólido e competitivo, aproveitando cada chance de marcar pontos, enquanto Felipe patina por motivos diversos. E isso pode minar sua autoconfiança. Pior: pode minar a confiança que a Williams nele depositou quando o contratou.

Massa precisa urgente e desesperadamente de uma boa corrida e de um bom resultado.

Outro fiasco: a McLaren. Depois de um início de campeonato mais do que decente (era líder de Construtores ao final do GP da Austrália), está há três provas zerada. Ocupa o sexto lugar na classificação, agora. Hoje foi superada pela Williams. Button fez uma largada deprimente, caindo de oitavo para 13°. Magnólia foi o cara mais ultrapassado do dia.

Sobre a corrida, não há muito a dizer. Os mercêdicos sumiram na frente na largada, abrindo em média mais de 1s por volta de todo mundo. Deu dó dos outros. Na volta 16, a distância de Hamilton, o líder, para Bottas, o terceiro, era de 21s.

Lewis e Rosberguinho fizeram duas paradas e a única diferença entre os dois é que o inglês deixou para usar os pneus duros no último stint, enquanto Nico o fez no meio da prova. Isso garantiu uma boa disputa nas voltas finais, com o alemão chegando, chegando, chegando, para… não passar, claro. Cruzaram a linha praticamente juntos, mas foi de Hamilton a vitória, quarta no ano e quarta seguida, e agora ele lidera o campeonato com 100 pontos, três na frente de Rosberguinho.

A prova em geral foi meio chatinha, com as maiores emoções reservadas às últimas quatro voltas. Além do pega entre Rosberg e Hamilton pela liderança, Kimi de pneus duros segurou quanto pôde Alonso, de médios, e acabou sucumbindo. Não houve ordem de equipe, até onde se sabe. As táticas eram diferentes, com dois pit stops para o finlandês e três para o espanhol, que na volta 64 ganhou a sexta posição do parceiro tagarela. Bottas e Vettel também travaram bom duelo, em situação idêntica: o piloto da Williams de pneus duros e duas paradas, Tião de médios e três pit stops. Também na reta final da corrida, na mesma volta 64, Vettel passou. Todas as manobras foram lindas e tecnicamente perfeitas.

Amilton, Rosberguinho, Ricardão, Tião, Sapattos, El Fodón de La Sexta Posición (pobrecito, um ano sem ganhar uma corrida; a propósito, leiam o que o Ivan Capelli tem a dizer sobre o assunto), Tagarela, Grojã, Maria do Bairro e Hulk fecharam a zona de pontos. Só os seis primeiros terminaram na mesma volta, o que é um vexame completo para todos os outros.

No pódio, acho que ninguém notou o que eu notei. Rosberg estava com um sorriso cínico no rosto. Na hora do champanhe, tentou matar Hamilton afogado.

Eu vi.