Blog do Flavio Gomes
F-1

NA RUA (7)

RIO DE JANEIRO (pinga colírio) – Ganhou Rosberguinho. Voltou a ser líder do Mundial. Igualou o número de vitórias de papai. Hamilton em segundo com o olho inchado. Não de choro, mas de cisco, mesmo. Bianchi fazendo os primeiros pontos da história das nanicas em nono. Massa em sétimo, apesar de tudo. Aí um resumo […]

naruamonacodomRIO DE JANEIRO (pinga colírio) – Ganhou Rosberguinho. Voltou a ser líder do Mundial. Igualou o número de vitórias de papai. Hamilton em segundo com o olho inchado. Não de choro, mas de cisco, mesmo. Bianchi fazendo os primeiros pontos da história das nanicas em nono. Massa em sétimo, apesar de tudo.

Aí um resumo do GP de Mônaco, cujo relato fui escrevendo durante a corrida porque daqui a pouco tem programa piloto para gravar no IBC da Copa. À corrida, então.

A largada acabou sendo civilizada. Nico partiu bem, com Hamilton atrás. Quem saltou bonito foi Kimi, de sexto para quarto. E aí veio o primeiro safety-car do dia, quando Button deu um totó em Pérez antes da Loews e tirou Maria do Bairro da corrida. Pérez está chorando até agora e jurando vingança, enquanto um conjunto de mariachis canta “Cielito Lindo” no motorhome da Force India. “Hijo de puta, hijo de puta!”

Drama pré-corrida: Maldonado não sai do lugar na volta de apresentação, é levado para os boxes e não consegue largar. Além de meio atrapalhado, tem tido muito azar, o venezuelano. Juntou-se a Pérez para ouvir os mariachis. Ambos planejam encher a cara de tequila esta noite, mas vão levar a garrafa escondida porque tequila, em Mônaco, está os olhos da cara. A ideia era pedir apenas copos com limão e sal, que dá para pagar.

Na relargada, tudo bem, tudo em paz, tudo tranquilo, tudo belezinha. Isso foi na terceira volta. Mas aí pintou um novo pequeno drama, agora de Vettel. O Tião alemãozinho, que tinha largado bem e passado Ricardão, o que lhe fez gritar, berrar, vibrar, socar o ar e quase ter uma ereção, quebrou. O motor começou a perder potência, ele foi ficando, ficando, foi para o rádio, choramingou, lamentou, praguejou, entrou nos boxes, implorou para arrumarem o carro, vejam se não é um fiozinho, um fuzil queimado (“Fusível”, corrigiu o engenheiro), pode ser vela, ingnição (“Ignição”, corrigiu o engenheiro), olha a bateria, pode ser bateria, o fluído de freio (“Fluido, sem acento”, corrigiu o engenheiro)…

Não era nada disso, era o motor mesmo, que pifou.

E a corrida foi seguindo na boa, Nico papeando com seu engenheiro pelo rádio (que já não fala o nome de Hamilton, e o chama de “seu companheiro de equipe”), até que Sutil deu uma estampada de respeito na saída do Túnel. Isso na volta 26. Bandeira amarela de novo e todo mundo no box para a parada única. Ou quase todo mundo. Massa não parou. Saltou de 11° para quinto, isso porque Kimi, que vinha bem em terceiro, teve de parar duas vezes porque na primeira esqueceu de pegar o tíquete de saída do estacionamento.

Hamilton chiou. Parou na mesma hora que o parceiro, teve de esperar Rosberg trocar os pneus e verificar óleo e água, além de pedir para colocar CPF na nota, e quando saiu (os dois tão na frente que voltaram tranquilamente em primeiro e segundo), pelo rádio, ficou perguntando se não tinha algo diferente que pudesse ser feito, quem sabe mantê-lo na pista para tentar algo diferente, ou chamá-lo antes, o que seria ainda melhor (mas como o coitado do engenheiro poderia adivinhar que alguém ia bater?), mas tudo que ouviu foi um cri-cri-cri, enquanto o engenheiro sussurrava para o colega ao lado: “Como é chato, puta que pariu”.

A relargada aconteceu na volta 30. De novo tudo sossegado, exceto Kimi, que despencou para 13° por conta da segunda parada. E houve um leve incidente quando Verme foi liberado pela Toro Rosso na saída do pit stop e quase passou por cima de alguém que não identifiquei — Magnussen, talvez. Tomou um pênalti e estragou uma boa corrida pelos pontos. “Quem foi o verme que acendeu a luz verde?”, gritou o piloto pelo rádio. Ficou sem resposta.

Os mercêdicos seguiram solenemente enrabando todo mundo e dispararam à razão de 1s por volta mais rápidos que os demais depois da bandeira verde, fazendo a corrida particular deles. Hamilton sempre a décimos de segundo de Rosberg, e não é fácil estar na frente nessa situação. Qualquer errinho, tchau. O de trás janta sem dó. Mas Nico não cometia erro algum e Lewis ficava ali, só na espreita.

Massa, em quinto, se segurava com os mesmos pneus do início, numa esquisita estratégia da Williams chamada “quanto mais pra trás, melhor”. Quando parou, na volta 46, acabou perdendo várias posições e despencou para 11°. Pontos, só se alguém quebrasse ou batesse.

(Dramas ainda não relatados: as quebras dos motores de K-Viado, logo no início, e mais tarde de Vergne. Os dois tororrôssicos, que tinham uma ótima perspectiva de pontos, os dois largando entre os dez primeiros e tal, desperdiçaram o domingo.)

E alguém quebrou. Justo seu companheiro Sapattos, na volta 57, na Loews. Primeiro motor Mercedes a ir para o saco neste ano, salvo engano. Bom, pelo menos visualmente, com fumaça e tudo, foi o primeiro. Um guindaste tirou o carro rapidinho do local e o atirou no mar, sem o piloto. Assim, não foi necessária mais uma intervenção do safety-car. Felipe, por consequência, entrou na zona de pontuação e a Williams festejou a tática “menos é mais” (menos ousadia, mais pontos).

Na volta 61, o momento mais emocionante da corrida. Gutierros, que estava em oitavo, lambeu o guard-rail na Rascasse e rodou. O acidente em si não teve nada demais, além de incluir o mexicano no grupo noturno da tequila. Mas com esse abandono, Bianchi entrou na zona de pontos! Décimo lugar, chance de primeiro pontinho de uma nanica desde a chegada delas à F-1, em 2010! A Marussia fazendo um ponto, quem diria que viveríamos para ver isso? Legal demais. Era só aguentar mais umas voltinhas.

Na volta 66, certa agitação nos boxes. De repente, mecânicos da Mercedes se preparam para um pit stop! Como assim? Aparece alguém com um bico, uma asa, um motor e um câmbio. Outro carrega uma caixinha com um olho de vidro dentro. Quem vai parar? O que está acontecendo? Que olho é esse?

Nada. Deu pinta de treinamento, tipo aquelas simulações de incêndio nos prédios, em que todo mundo tem de largar o que está fazendo e descer de escada em calma, sem pânico, puto da vida porque o papo estava bom no Facebook.

Mas algo se passava com Hamilton. A diferença de tempo dele para Rosberguinho, inferior a 1s até a volta 60, começou a aumentar. Passou para 1s2, 3s3, quase seis segundos na volta 70. Alguma coisa estranha estava acontecendo. Lewis tinha um cisco no olho. Problemas no olho, isso mesmo, o olho esquerdo. Avisou pelo rádio. “Quem não tem colírio usa viseira escura”, cantarolou seu engenheiro mostrando erudição musical e citando Raul. “O quê?”, replicou Hamilton. “Nada, vai tocando, se a gente achar um olho aqui eu te aviso”, respondeu o engenheiro. “Como?”, desesperou-se o inglês. “Chato pra caralho”, cochichou o engenheiro com o mesmo amigo ao lado, aparentemente o cara que arrumou o olho de vidro, que na prática não teria grande serventia porque uma cirurgia ocular àquela altura não faria muito sentido.

A Red Bull soube do drama oftalmológico dos rivais, evidentemente — até eu soube — , e mandou Ricardão acelerar com uma estranha mensagem cifrada pelo rádio: “Dani, em terra de cego, quem tem um olho é rei. Em terra de príncipe, quem tem dois pode chegar em segundo”.

Hamilton, caolho, ficou lento. Ricciardo entendeu o recado e a diferença de mais de 9s despencou para menos de 2s em poucas voltas. Desapareceu a três voltas do final. “Tá no visual”, avisou o engenheiro de Hamilton. “Eu não tô vendo!”, berrou Lewis. “Eu sei”, devolveu o engenheiro, já de saco cheio de seu piloto. “Se precisar a gente arruma um olho.” Ele falou isso com o rádio desligado, certeza.

Mas precisava passar, ainda. Mais para trás, Magnussen e Raikkonen se tocaram. Massa e Bianchi subiram no pelotão: sétimo e oitavo. Oitavo para a Marussia! Inacreditável. Só que faltava muito pouco. Mesmo com um olho só, Comandante Amilton se segurou na frente de Ricardão. E a nova dobradinha da Mercedes se confirmou, com o australiano da Red Bull fechando o pódio, novamente.

Pódio frio. Hamilton não olhou na cara de Rosberg, que não olhou na cara de Hamilton e nenhum dos dois olhou na cara de Ricciardo, que distribuiu seus sorrisos para quem quisesse ver. Lewis sequer cumprimentou o colega. Assumiu a guerra mesmo, ele adora um dramalhão. Acabar uma amizade assim é algo deprimente.

Festa na Marussia!

Foi a quinta vitória da carreira de Nico, que empata com o pai, Keke. E a segunda seguida em Monte Carlo. Agora está 4 x 2 para Hamilton em vitórias neste ano, mas o alemão volta à liderança do Mundial com 122 pontos, contra 118 do ex-companheiro. Pela ordem, os dez primeiros: Rosberguinho, Comandante Amilton, Ricardão, El Fodón de la Cuarta Posición, Hulk (espetacular corrida), Bonitton, Massacrado (no fim, foi bem melhor que a encomenda), Grojã, Bianchi, ele mesmo, nono (chegou em oitavo, na real, mas levou 5s de punição por uma irregularidade durante um período de safety-car), lindo, demais!, e Magnólia.

Apenas os quatro primeiros terminaram na mesma volta, e 14 carros foram até a bandeira quadriculada. Não foi um baita GP, mas teve lá sua graça. Graça que o campeonato terá até o fim por conta da hostilidade oficial assumida entre os dois pilotos da Mercedes.

Fiquem ligados no Grande Prêmio. A entrevista coletiva pós-GP promete.