Blog do Flavio Gomes
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SEI COMO É…

SÃO PAULO (ele é foda) – Já disse aqui milhares de vezes que Jason Vôngoli (o verdadeiro nome do jornalista Jason Vogel, de “O Globo”) é o cara que melhor escreve sobre carros neste planeta. E aquele com quem mais me identifico no estranho gosto por coisas esquisitas sobre rodas. Virou um de meus melhores amigos […]

dojasondemaisSÃO PAULO (ele é foda) – Já disse aqui milhares de vezes que Jason Vôngoli (o verdadeiro nome do jornalista Jason Vogel, de “O Globo”) é o cara que melhor escreve sobre carros neste planeta. E aquele com quem mais me identifico no estranho gosto por coisas esquisitas sobre rodas. Virou um de meus melhores amigos e parceiros, embora a gente se veja pouquíssimo, por razões óbvias: eu moro em São Paulo às voltas com uma agenda maluca, ele no Rio e no mundo caçando grandes histórias. Quando dá a gente se encontra em algum boteco ou em alguma estrada por aí. Digamos que uma de minhas maiores aventuras rodoviárias foi vivida ao lado do Jason, desde distantes terras sulinas até a grande metrópole em um ano que já nem sei qual foi, embora tenha sido outro dia.

Pois que abro o Facebook e me dou com essas duas fotos e a história a seguir, que reproduzo na íntegra:

Meu primeiro carro foi um VW Notchback comprado em 1988 e vendido em 1991. Azul, servia como casa de mendigo na Siqueira Campos até que o levei para a Rua Edmundo Lins, também em Copacabana.

Era um escombro mas tinha seu charme. Foi o que deu para comprar com minhas economias de garoto de 18 anos e carteira recém-tirada… O tempo passou, vendi o carro para um vizinho (o Miguel, pai do Alexandre), que o repassou a outro vizinho (seu Sinfrônio, um veterano da FEB).

Por algum tempo acompanhei a lenta decadência do Notchback, que continuava a dormir na Edmundo Lins. Amassados, lanternas quebradas, a suspensão em petição de miséria… Na última vez em que o vi, estava batido de frente, pronto para o ferro-velho.

E assim se passaram mais de 20 anos. Nesse tempo, volta e meia via os outros dois Notchback do Rio: um verde impecável (do Sérgio Fortes) e um vermelho e branco todo esbodegado (de uma moça em Santa Teresa). O azulzinho havia sumido, provavelmente tragado por algum alto forno de Volta Redonda.

Eis que, no domingo passado, dei de cara com um Notchback vermelho e branco, todo reformadinho, no encontro de carros antigos de São Cristóvão. Impressionado com seu bom estado puxei assunto com o dono:

– Parabéns, jurava que esse Notchback de Santa Teresa já não tinha jeito. Você conseguiu!

Ao que o sujeito respondeu:

– Mas este não é o de Santa Teresa… Comprei em Copacabana faz um tempão. Era azul.

Na longa conversa que veio a seguir, todos os detalhes coincidiram: seu Sinfrônio, a pancada de frente, uma antiga adaptação de motor com ventoinha alta (em vez do “motor plano” de Variant)…

E aí está: meu primeiro carro, que julgava destruído, ainda existe. Muita coisa já não é original, a placa mudou, a pintura deixou de ser azul, mas o “meu” velho Notchback parece bastante bem para seus 49 anos de fabricação. Foi quase como rever um parente há muito desaparecido.