Blog do Flavio Gomes
F-1

UNGARIA (3)

SÃO PAULO (melhor que a encomenda) – Vamos listar, primeiro, os desafortunados. Pela ordem, Hamilton, Raikkonen e Massa. Prefiro falar da desgraça antes do júbilo. É mais legal tripudiar dos estropiados do que exaltar os vitoriosos. O grid do GP da Hungria terá uma Mercedes na ponta, a de Rosberg, e outra provavelmente largando dos […]

puskas3SÃO PAULO (melhor que a encomenda) – Vamos listar, primeiro, os desafortunados. Pela ordem, Hamilton, Raikkonen e Massa. Prefiro falar da desgraça antes do júbilo. É mais legal tripudiar dos estropiados do que exaltar os vitoriosos.

O grid do GP da Hungria terá uma Mercedes na ponta, a de Rosberg, e outra provavelmente largando dos boxes, a de Hamilton.

O inglês está subindo nas tamancas. Pela segunda corrida seguida, teve problema na classificação. Sábado passado foi o disco de freio que quebrou. Largou lá atrás e conseguiu terminar no pódio. Mas era Hockenheim, onde, apesar das mudanças de traçado, passar é bico. Hoje, seu carro pegou fogo no início do Q1, como se fosse uma Kombi velha de feirante com gasolina vazando por todos os lados. E parecia mesmo. E Lewis, como se fosse o motorista da Kombi sendo consumida pelas chamas procurando um lugar para estacionar, tentou levar o carro até o pit lane. Tive a impressão de que ele queria parar dentro da garagem, perto dos galões de gasolina, com as labaredas lambendo paredes e teto dos boxes até explodir a merda toda e morrer todo mundo.

Mas não deu tempo. Na entrada dos pits ele teve de pular do cockpit para não chamuscar o rabo, os comissários vieram com seus extintores e apagaram tudo. Ninguém tinha tempo ainda, ou pelo menos nada de muito significativo. Comandante Amilton deixou o carro de cabeça baixa, nem tirou o capacete. Depois do treino, disse que “é algo que vai além do azar” o que acontece com ele. No caso específico de hoje, foi vazamento de gasolina, mesmo. Um perigo, isso. Erro de montagem de alguma mangueirinha? Borracha do bocal deformada? Frentista que na hora de encher o tanque quis arredondar o valor e colocou mais do que devia?

Lewis insinua que algo pode estar sendo feito de propósito quando diz que “é mais do que azar”. Ou, no mínimo, insinua que a equipe não tem com ele os mesmos cuidados que dedica ao companheiro platinado, Rosberguinho, que cravou sua sexta pole no ano, a quinta nas últimas seis corridas. É favoritaço à vitória amanhã. Mas depois falamos dele. Sigamos com os desgraçados e furibundos. Raikkonen, agora.

Com Hamilton degolado e incinerado no Q1, mais Maldonado igualmente fora, porque saiu dos boxes e quebrou, a primeira leva de eliminados estava definida, certo? Os quatro das nanicas, Bianchi, Chilton, Ericsson e Kobayashi, mais os dois desafortunados.

Nada. No finalzinho do Q1, Raikkonen era o 16°. A diferença de tempo para os nanicos era razoavelmente segura. A Ferrari nem mandou o finlandês de volta para a pista com os pneus mais macios. Ah, não precisa! Imagina se essas geringonças horrorosas serão capazes de bater nossa flamejante “rossa”… Bem, uma delas bateu a flamejante, sim. E foi, ironicamente, Jules Bianchi, que é uma espécie de estagiário da Ferrari. Passou para o Q2 e mandou Kimi para a degola, numa das maiores cagadas de uma equipe grande nos últimos tempos. Cagada e vergonha. Raikkonen, se pudesse, pegava o boné agora e se mandava para os puteiros de Budapeste, para aparecer de novo só depois das férias.

Falta falar do último exânime, Massa, mas isso só mais para a frente, na hora do Q3. Antes, registre-se apenas que o Q2 foi bem “standard”, sem maiores surpresas ou danos, eliminando Kvyat, Sutil, Pérez, Gutiérrez, Grosjean e Bianchi.

Agora sim, Felipe. O Q3 começou, acreditem, com chuva. Mas uma daquelas chuvas que duram segundos e molham apenas alguns centímetros do chão. Como se alguém jogasse um balde d’água pela janela, nada mais. Mas como começou a pingar, a pilotaiada ficou com medo de que algum dilúvio comunista desabasse sobre Hungaroring e saíram rapidinho dos boxes. Rosberguinho foi o primeiro, seguido por Magnólia Assustada, da McLaren. Ao abrir a volta, Nico escorregou no fim da reta, onde estava molhado — e só lá, porque a chuva parou e o sol começou a abrir. Matou a volta, mas nem teve tempo de lamentar. Atrás dele Magnussen deslizou no mesmo ponto e estabacou-se na barreira de pneus. O impacto foi muito forte, mas Kevin saiu ileso. Bandeira vermelha.

Na prática, o Q3 só iria começar mesmo quando liberassem a pista. Ninguém tinha feito tempo e faltavam 10 minutos para o fim quando Magnólia bateu. Na volta, todos tatearam pelo asfalto, sem saber se estava molhado ou seco. As primeiras voltas tiveram tempos altos. Mas quando todos notaram que tinha menos água que no sistema Cantareira, trataram de enfiar o pé.

E nessas de baixar o sapato, com todo respeito e desculpas antecipadas pelo trocadilho idiota, Massa levou mais uma sapatada. Foram duas rodadas de voltas rápidas e nelas Rosberg, claro, reinou absoluto e enfiou uma trolha de 0s486 em Vettel, que ficou em segundo. E Bottas ficou em terceiro, um brilhante terceiro. Até porque se sabia que a Red Bull tinha mais chances de andar melhor na travada pista magiar, assim como, possivelmente, a Ferrari — que, no entanto, ficou para trás com Alonso, apenas quinto, atrás ainda de Ricardão; é um vexame atrás do outro. E Massa ficou apenas em sexto, mais de 0s8 atrás de seu parceiro que está cada vez mais forte, confiante, bonito e gostoso. Ui ui ui. Bonitton, Verme, Hulk e Magnólia fecharam os dez primeiros.

Na boa, esse Bottas é bom mesmo. E a melhor coisa para Massa agora é que a F-1 para por um mês depois da Hungria. Hora de juntar os cacos e tentar entender o que está acontecendo. Porque um ser melhor que o outro é normal. Isso acontece em qualquer equipe, e Valtteri tem sido melhor que Felipe. Mas esse caminhão de tempo e esses massacres semanais não estavam nos planos de ninguém, nem da Williams. Que precisa, inclusive, que o brasileiro dê a volta por cima para brigar pelo terceiro lugar no Mundial de Construtores com a Ferrari. Vale grana, muita grana. “Ah, mas o assoalho dele é diferente do Bottas!”, dirá Pacheco com muito orgulho e muito amor, para justificar o que aconteceu hoje. Não sabe nada, inocente, direi eu. A coisa está feia mesmo. Massa precisa melhorar e ponto. Nem mais, nem menos.

Parêntese. A Globo não passou Q1 e Q2, e será assim daqui em diante, mas colocou em seu site um vídeo (que será apagado logo, então procurem ver; ou então tentem aqui) do começo da sessão sem narração. E com a turma lá de Budapeste testando o áudio. “Alô, alô, testando” e tal. Lá pelas tantas, antes de entrar no ar, Galvão Bueno diz: “Não vamos especificar tempo, porque na verdade ele tá tomando meio segundo desde ontem”. Falava de Massa, claro. Vazou. Não sei se no ar, mas na internet. Felipe não precisa ninguém para protegê-lo, é bem grandinho e cuida de sua própria vida. Mas, como em quase todos os esportes e em todas suas transmissões, a Globo trata o telespectador como um retardado que deve ser ludibriado o tempo todo. Se Massa está tomando meio segundo desde ontem, “não vamos especificar tempo”. Aí as pessoas não entendem por que a imagem dos pilotos brasileiros é tão… confusa para o grande público. Se está tomando meio segundo desde ontem, amigos, está tomando meio segundo e pronto. Não é mais simples?

Voltando à Ferrari, Kimi Dera Eu Nunca Tivesse Assinado soltou os cães em finlandês. Disse que perguntou três vezes se a equipe tinha certeza que não precisaria sair com os pneus médios, e ouviu pelo rádio “sim, 100%, fica tranquilo, vai na nossa”. Já há quem aposte seriamente em nova rescisão de contrato no final do ano. Raikkonen não tem paciência para andar tão atrás, sem chance de fazer nada, muito menos para conviver com tanta burrice.

Quanto a Hamilton, desolado, deprimido, inconsolável, prostrado, esmorecido, cabisbaixo, aviltado e desacorçoado, as perspectivas são péssimas. “Se eu chegar entre os dez primeiros já é muito”, exagerou. Fará pontos, sim, e novamente vai precisar de muita paciência para escalar o pelotão. Pódio é, de fato, um sonho mais distante. O pessoal de trás vai precisar colaborar nas ultrapassagens que são muito difíceis em Hungaroring, como se sabe. Lá pela metade da prova Lewis estará entre os seis primeiros. É onde deve chegar, se nada de anormal acontecer. Mas vai sair da Hungria mais atrás do que chegou. O negócio é começar a fazer contas pensando na pontuação dobrada da última etapa do Mundial. É uma aberração, mas começa a surgir, no horizonte, como uma chance palpável para Lewis compensar os azares de que tem sido vítima.