Blog do Flavio Gomes
F-1

UNGARIA (4)

SÃO PAULO (quem diria…) – Agradeçam a uma pessoa em especial pela grande corrida de hoje na Hungria: Marquito Sonyericsson, que na oitava volta deu uma panca no guard-rail sozinho, sem mais nem menos, e permitiu que toda aquela gentalha fosse para os boxes colocar pneus slicks com a entrada do safety-car. Na mesma hora. […]

puskas4SÃO PAULO (quem diria…) – Agradeçam a uma pessoa em especial pela grande corrida de hoje na Hungria: Marquito Sonyericsson, que na oitava volta deu uma panca no guard-rail sozinho, sem mais nem menos, e permitiu que toda aquela gentalha fosse para os boxes colocar pneus slicks com a entrada do safety-car. Na mesma hora. Entraram todos correndo desesperados, como se tivessem aberto as portas das Casas Bahia em dia de liquidação de máquina de lavar e tanquinho. Gentalha, sim, porque a elite da corrida até aquele momento, Rosberg, Bottas, Vettel e Alonso, como sempre acontece com os bons, que não se misturam, ficaram na pista.

Bem, é uma meia-verdade dizer que ficaram por conta própria. É que eles passaram pela entrada dos boxes antes do safety-car, e quando foram perceber o que estava acontecendo, Inês era morta. Os quatro primeiros colocados até então tiveram de esperar mais uma volta para jogar fora os pneus intermediários e quando voltaram à pista estavam no meio da patuleia entusiasmada. Teriam um dia difícil pela frente.

E sabem quem emergiu dos pit stops em primeiro? Ricardão Sorrisão. E sabem quem venceu a corrida? Ricardão Sorrisão.

Pois é. Digam o que quiserem, revejam a prova da maneira que melhor lhes aprouver, mas o fato é que Ricciardo venceu o GP da Hungria nesse exato momento, quando apareceu em primeiro depois do primeiro pit stop. Claro que teria bastante trabalho nas idas e vindas das 70 voltas de uma corrida que teve muita coisa legal, a começar pela chuva que desabou sobre Hungaroring 45 minutos antes da largada. Chuva rara por ali, que obrigou o povo a largar de pneus intermediários. Mas que passou, como tudo passa, e na hora em que Sonyericsson destruiu seu Caterham a prova começou de verdade com as figuras embaralhadas pela entrada do safety-car.

Quem gostou da confusão foi Hamilton. Depois do incêndio de ontem, trocaram tudo no carro e ele teve de largar dos boxes, assim como Magnussen. Na hora da batida, já estava em 13°. Quando a relargada seria autorizada, na volta 11, Grojã também rodou e bateu, e o safety-car ficou por ali mais um pouquinho, até a volta 13. Button e Magnólia, da McLaren, foram os únicos que apostaram que a chuva voltaria. Mantiveram pneus intermediários. Uma aposta equivocada. Chegaram a fazer uma ou outra ultrapassagem, mas o asfalto secou de vez.

Na volta 15, Comandante Amilton, que na primeira volta já tinha rodado sozinho, estava em nono. E Rosberguinho em sétimo! Entre eles, Vettel. Era o melhor dos cenários para o inglês. O companheiro, afinal, tinha largado na pole. Ele, Lewis, em último. A corrida ficou muito interessante e virou uma espécie de jogo de xadrez no qual só eram permitidos lances ousados. Tipo o peão comer a rainha na frente do rei e xingar o bispo. Por jogo de xadrez, entenda-se: quantas vezes parar, quando, quantas voltas percorrer com um jogo de pneus, como negociar ultrapassagens sobre carros mais lentos numa pista tão complicada.

O primeiro bom trenzinho da prova se formou a partir da 16ª volta, com Alonsito, Verme, Rosberguinho, Tião Alemão e Comandante Amilton a partir da terceira posição. Massa era o segundo, creiam. Foi, como o líder Ricardão, um dos que aproveitaram bem o safety-car. E o pau comendo com classe, Alonso chegando no brasileiro, Hamilton tentando passar Vettel loucamente,  até que Pérez, a Maria do Bairro, entrou na reta dos boxes, escorregou com a traseira e espetou o carro no muro, espalhando pedaços indianos por todo o império austro-húngaro. Fez-se necessária nova intervenção do safety-car.

Então as estratégias começaram a variar. Ricardão e Massa foram para o box e voltaram em sexto e sétimo. Sapattos, que era oitavo, fez o mesmo e voltou em 13°. Os dois da Williams colocaram pneus médios. Iriam até o fim da corrida? Não, baby. Estávamos apenas na volta 24. Fazer 46 voltas com um só jogo de pneus, mesmo se eles forem de titânio, não dá. Fechada a janela e reiniciada a prova três voltas depois, Alonso, Vergne, Rosberg, Vettel, Hamilton, Ricciardo e Massa eram os sete primeiros. E só esses dois, Ricardão e Massacrado, com duas paradas. A coisa podia ficar boa para eles. O resto da gentalha teria de ir aos boxes de novo.

E isso começou na volta 32, com Rosberguinho trocando seus pneus. De terceiro, caiu para 13°. Voltar no tráfego foi um problema recorrente para os mais rápidos depois dos pit stops. Na mesma volta, Vettel rodou na reta dos boxes, não bateu em nada, mas perdeu três posições. Àquela altura, Hamilton era o terceiro. Passou Vergne e tentou acelerar o máximo para, depois de sua parada, poder se posicionar na frente de Rosberg. Por que não sonhar, uai?

E na volta 39 foi Alonso quem parou, e Lewis se viu em primeiro, gloriosamente. O cara tinha largado dos boxes, não esqueçam. A alegria durou uma volta. Na 40ª, Hamilton fez sua última troca em voltou em quinto. Na ponta apareceu novamente Ricardão, com Massa em segundo e Raikkonen, ele mesmo, em terceiro. Mas com parada a menos. O australiano da Red Bull tinha mais de 13s para Felipe. De pneu novo, Alonso veio babando e espumando para cima do brasileiro. E aí a Williams chamou Felipe para sua terceira parada. E colocou pneus médios de novo. Faltando 24 voltas, pessoal, dava para colocar um maciozinho aí, dava não? Dava. Massa reclamou, no fim da corrida. “De pneus mais duros, o carro estava muito lento”, disse. Às vezes a gente não entende bem a Williams.

Rosberg e Hamilton se encontraram ali pela volta 47. O alemão de pneus macios, o inglês de médios. Rolou um rádio meio bobo, Nico perguntando por que Hamilton não deixava ele passar, já que teria mais uma parada. Lewis manteve-se em silêncio e na frente. O platinado falava, mas não tentava nada. Depois da prova, o britânico ficou bem puto com a ordem para deixar o tedesco passar. O ambiente não anda lá muito amistoso entre os dois. Faz tempo.

E chegamos à fase final da contenda com as paradas de Ricciardo na volta 55 (voltando em quinto) e Rosberg na 57 (voltando em sétimo). Alonso era o líder novamente. O espanhol tinha tarefa bem complicada. Chegar ao final da corrida sem trocar pneu de novo. Ele tinha colocado seu último jogo na volta 39, lembrem-se. Voando, espumando, babando e atropelando todo mundo, Rosberg ganhou as posições de Bottas (que parou nos boxes), Raikkonen (passou por cima) e Massa (idem). Colocou-se em quarto com um carro cerca de 3s por volta mais rápido que os três ponteiros — Alonso, Hamilton e Ricardão. Estava mais de 20s atrás.

Fernandinho, com seus pneus numa merda federal, se segurava aos trancos e barrancos. Na volta 61, ele tinha 0s6 para Lewis, que tinha 0s5 para Ricardão. Os dois primeiros com duas paradas. Daniel, com três. E Rosberg vinha lá de quarto, descontando mais segundos por volta do que gostariam os adversários. Na volta 66, a diferença tinha caído para 11s. Na 67ª, alertado pela Red Bull de que um foguete prateado estava se aproximando sem dó, nem piedade, Ricciardo fez uma ultrapassagem espetacular sobre Hamilton. Como o rubrotaurino tinha pneus em bom estado, Alonso não ofereceria muita resistência com seus macios estropiados. Na volta seguinte, ele passou o espanhol. Rosberg já estava a menos de 2s de Lewis. Oh, que final!

E foi bom mesmo. Alonso, coitado, teve de se conformar com a derrota a duas voltas da quadriculada. Seria um milagre, sua vitória. Quase conseguiu e saiu de Budapeste com a certeza da missão cumprida. Hamilton deu apenas um chega-pra-lá em Rosberg numa tentativa meio tímida do alemão, como se dissesse “não fode, bicho, ralei pacas, não vou te deixar passar, não, quero esse troféu, que não tem forma de cocozinho”. Para Nico, cuja corrida foi muito atrapalhada pelo primeiro safety-car, estava OK. Terceiro e quarto, a diferença de pontos caiu de 14 para 11, não foi uma desgraça completa. Mas ele também saiu putcheenho do autódromo. Afinal, tinha largado na pole, e na Hungria. O normal, nessas condições, é vencer.

Ricardão, El Fodón e Comandante Amilton foram para o pódio e ganharam taças bonitas. Foi a segunda do australopiteco, o único, neste ano, a derrotar a Mercedes. A outra foi no Canadá. Abriu seu sorriso com mais dentes do que toda a humanidade e foi para as férias como o grande cara da primeira metade da temporada, terceiro no Mundial com 131 pontos, atrás apenas dos imbatíveis mercêdicos. Rosberguinho, quarto colocado, foi a 202 (Hamilton tem 191). Fecharam a zona de pontuação Massa, Raikkonen (sua melhor corrida no ano), Vettel (anda apagadinho…), Bottas (deu azar no primeiro safety-car, também), Vergne (lutou muito, mereceu) e Button (a aposta errada nos pneus custou caro).

E, agora, vão todos curtir o verão europeu. Faz calor, lá. Faz um frio danado, aqui.