Blog do Flavio Gomes
F-1

MOULES-FRITES (3)

LONDRINA (no gás) – Vitória do Ricardão, segundo de Rosberguinho, novo pódio para Sapattos, bela prova de Kimi, tragédia para Hamilton. É um bom resumo do GP da Bélgica, que acabou de terminar (e escrevi durante a corrida, porque quem corre daqui a meia hora sou eu). Vamos aos fatos. Começou com sol e com […]

moulesfrites003LONDRINA (no gás) – Vitória do Ricardão, segundo de Rosberguinho, novo pódio para Sapattos, bela prova de Kimi, tragédia para Hamilton. É um bom resumo do GP da Bélgica, que acabou de terminar (e escrevi durante a corrida, porque quem corre daqui a meia hora sou eu). Vamos aos fatos.

Começou com sol e com Alonso dando um susto, empacado antes da volta de apresentação. “A chave, esqueci a chave!”, gritava pelo rádio. “Onde está?”, perguntava o novo diretor Machu-Pichu. “Na mochila, no zíper pequeno!”. Os mecânicos deram um jeito, pegou no tranco e o espanhol foi para sua posição no grid. Só que, logo depois, tomou uma punição porque ficaram mexendo no carro além do tempo permitido antes de autorizada a volta de apresentação.

A largada foi curiosa: Rosberguinho patinou, Vettel passou por ele, Hamilton assumiu a ponta. Mas Tião exagerou na tentativa de passar o inglês e foi para a área de escape cheia de lombadas. Caiu para terceiro.

O lance da corrida aconteceu na segunda volta. Rosberguinho, já segundo, foi para a ultrapassagem sobre Hamilton. Colocou de lado. Lewis manteve a trajetória, Nico recolheu, mas houve um toque. A asa dianteira de Rosberg raspou no pneu traseiro esquerdo do Comandante Amilton. Pneu furou. Uma desgraça para o britânico, que depois dessa nunca mais olha na cara do companheiro.

Mas querem saber? Toque de corrida. Nada demais. Azar desgraçado de Lewis, que caiu para penúltimo, tendo de dar uma volta quase inteira com o pneu furado. Teria de se recuperar loucamente, já com pneus duros. Era impossível.

Na sétima volta, Vettel perdeu a segunda posição para Ricciardo, depois de uma espalhada incompreensível. Ricardão surpreendia, porque a Red Bull optou por andar quase sem asa em Spa, para compensar a falta de velocidade de reta — os motores Renault da F-1 são muito parecidos com o 1.2 do meu Twingo.

Rosberg estava com problemas lá na frente. Na nona volta, fez seu primeiro pit stop e trocou o bico, também. Voltou em 15°. Um pouco mais tarde um chumaço de serpentina, ou rabiola de papagaio, enroscou numa das antenas do carro de Nico. Oh dia, oh vida… Surgiu uma informação no Twitter de que podiam ser restos mortais do pneu furado de Hamilton. Só faltava. Mas não pude confirmar até o fechamento desta edição. Depois saberemos direito o que era.

Demoraram bastante para anunciar a punição a Alonso. Leve, diga-se, porque hoje pode-se pagar esse tipo de pênalti num pit stop convencional. O prejuízo poderia ser bem maior. Sua parada, com a punição, foi apenas 1s mais lenta que a de Rosberg, que teve de trocar o bico.

Ricardão e Raikkonen, após a primeira bateria de pit stops, eram os que mais se destacavam. O australiano, com os infortúnios e erros dos ponteiros, apareceu na liderança e foi ficando, com bons tempos de volta e uma pilotagem consistente. Kimi, que sempre anda bem em Spa, surgiu em segundo. Vettel era o terceiro, com Rosberg em quarto, meio atrapalhado para passar o rubrotaurino. Isso na altura na volta 15. Na 17ª, se atrapalhou tanto que Bottas veio e jantou o mercêdico. E partiu para cima de Sebastião.

Hamilton, coitado, se arrastava lá atrás sem chances de fazer muita coisa. Parou para trocar pneus de novo na volta 18 e retornou ao leito do circuito belga em 17°. Oh dia, oh vida. Na altura da volta 20 abriu-se a segunda janela de pit stops para aqueles que não tiveram problemas prematuros. Rosberguinho foi e colocou macios. A vitória, àquela altura, já era um sonho distante. Restava fazer o máximo de pontos que pudesse e torcer para o parceiro desafortunado continuar lá atrás. Depois de um incrível (e previsível) domínio em todos os treinos, a Mercedes entrou em “mode minimize the preju”.

Raikkonen parou e voltou em oitavo. Seguia na briga. Massa, sumido, parou pela segunda vez e a Williams informou que detritos prejudicavam a aerodinâmica de seu carro. Um pedaço de pneu ficou preso no assoalho. O carro foi lavado, polido e aspirado e Felipe voltou com um bom ritmo, mas já era tarde.

Bottas, segundo colocado, começou a ficar sem pneu. Nico, na dele, resolveu acelerar. O “minimize the preju” poderia resultar num pódio, o que estaria melhor que a encomenda depois de um bico trocado e da serpentina na antena. Se bobeasse, dependendo do ritmo de Ricardão, até uma vitória — esperada, mas mais difícil do que de costume. O australiano parou pela segunda vez e voltou em segundo. Sapattos assumiu a ponta. Por pouco tempo. Na volta 29, parou pela segunda vez. Voltou em sexto.

Volta 30, duas paradas para todo mundo, Ricardão tinha pouco mais de 3s de vantagem sobre Rosberg. Raikkonen vinha em terceiro, em sua melhor prova pela Ferrari no ano. Na 31ª, voando, Bottas jantou Vettel lá no alto da colina, depois da Radillon. Uma ultrapassagem de gente grande. A meta do finlandês passou a ser Kimi.

No fundão, Lewis estava abatido e fora de prumo. Parou pela terceira vez na volta 32. O carro pode ser bom, o piloto também, mas não tem milagre na F-1. Aquela volta inteira de pneu furado no início acabou com sua corrida.

A situação mudou pouco na frente, no que diz respeito a Ricciardo e Rosberg. Diferença estável na casa dos 3s, faltando dez voltas para o fim. Raikkonen se deparava com a perigosa aproximação de Bottas. A fase final da prova passou a ser uma questão de pneus. Quem tivesse borracha em melhores condições, levaria. Então, Nico arriscou: foi para uma terceira parada e colocou pneus macios. Voltou em quarto, a 22s de Ricardão. Teria nove voltas para voar baixo, passar quem estivesse pela frente e chegar no rubrotaurino. Este, por sua vez, tinha um ponto de interrogação na testa: será que esse cara chega?

Pode-se acusar a Mercedes de qualquer coisa, menos de falta de ousadia, neste caso. O segundo estava garantido, sem parada. O terceiro pit stop abria uma nova chance. Quem sabe?

Em uma volta, Rosberg passou Bottas e Kimi, reassumindo a segunda posição. Seu ritmo era de 3s mais rápido por volta que o australiano. Mas ninguém vira um monte de voltas 3s mais rápido que ninguém. O pneu, em algum momento, perderia rendimento. Enquanto isso, em 16°, Hamilton implorava para abandonar a prova, pelo rádio. Queria enfiar a cabeça dentro de um buraco. A equipe, sádica, dizia para ele ficar.

Na volta 39, a diferença de Ricciardo para Nico caíra para pouco mais de 15s. A briga mais interessante passou a ser pelo terceiro lugar. Kimi se segurava, com Bottas em seus calcanhares. Drama paralelo, o rádio pediu, finalmente, para Hamilton recolher. Oh dia, oh vida. Zero ponto, numa corrida relativamente fácil. A aposta de Lewis passou a ser, mais do que nunca, a pontuação dobrada de Abu Dhabi.

Voltando à pista, volta 40. Bottas passa Kimi e assume o terceiro lugar. Saía atrás de seu quarto pódio no ano. Três voltas para o fim, 9s3 era a vantagem de Ricciardo. Já era. Valeu a tentativa.

Fim de prova, Ricardão venceu pela terceira vez no ano, uma enorme façanha num campeonato que tem um time tão dominante, como é a Mercedes. E a segunda seguida, para quem não se lembra. Venceu na Hungria, pista de baixa, e agora Spa, de alta. Esse rapaz, olha… Rosberguinho terminou em segundo 3s3 atrás, com Bottas em terceiro e Kimi em quarto. Ainda deu tempo, nas últimas duas voltas, de um divertidíssimo pega do quinto ao oitavo, entre Magnussen, Alonso, Vettel e Button. No fim, depois de intensa troca de posições e xingamentos, chegaram Vettel, Magnussen, Button e Alonso. Mas os malas dos comissários da FIA puniram o pobre Magnólia com 20 segundos sendo acrescidos ao seu tempo total de corrida, e ele perdeu o sexto lugar. Acabou sendo classificado em 12°. Os dez primeiros, para não errar: Ricciardo, Rosberg, Bottas, Raikkonen, Vettel, Button, Alonso, Pérez, Kvyat e Hülkenberg.

A diferença na classificação entre Rosberg e Hamilton pulou para 29 pontos. O campeonato está aberto? Está. Uma corrida com vitória de Lewis e abandono do alemão, por exemplo, é o bastante para empatar a contenda. Mas a vantagem de Nico não é apenas numérica. Do ponto de vista emocional, ele é uma fortaleza diante do pudim que Hamilton tem se mostrado neste ano. E podem ter certeza: este GP segue nas próximas horas. O inglês vai soltar os cães, creio. Mas insisto: achei que o toque foi normalíssimo. Ninguém tentou tirar ninguém da corrida.

Mas vai dizer isso para Lewis…