Blog do Flavio Gomes
Automobilismo internacional

DEU MEDO

MONTE VERDE (sim, eu vi) – A capotagem de Nick Heidfeld na abertura da Fórmula E em Pequim foi apavorante. Felizmente ninguém se machucou. Na última volta da corrida, o alemão tentou passar Nicolas Prost, que por acaso corre com ele na Rebellion no WEC. Levou uma fechada de porta, as rodas se tocaram, Heidfeld […]


MONTE VERDE (sim, eu vi) – A capotagem de Nick Heidfeld na abertura da Fórmula E em Pequim foi apavorante. Felizmente ninguém se machucou. Na última volta da corrida, o alemão tentou passar Nicolas Prost, que por acaso corre com ele na Rebellion no WEC. Levou uma fechada de porta, as rodas se tocaram, Heidfeld perdeu o controle, decolou nas zebras e catapof.

nicolasdesculpaProst pediu desculpas ao amigo. Mil desculpas. Pelo Twitter, só faltou cometer harakiri. Era quase para isso. O risco de matar seu parceiro foi enorme. Ele sabe disso. Nicolas não viu Heidfeld, óbvio. E não ouviu. Aí que está o negócio. Os pilotos da E terão de aprender isso, também. A guiar sem escutar o carro do adversário.

Lucas di Grassi era o terceiro colocado e acabou vencendo. É histórico, claro. E Lucas merecia, por sua dedicação à nova série. Fiquei feliz por ele. O relato da prova está aqui. Alguns problemas técnicos tiraram Bruno Senna e Jarno Trulli da contenda logo no início. O brasileiro arrebentou a suspensão numa zebra. Faz parte. É tudo muito novo. Nelsinho Piquet terminou em nono. A corrida em si até que foi legal. Mas não gostei da pista. Sei lá. Larga demais, ondulada, pouco criativa. Esse será um desafio dos organizadores. Fazer traçados de rua interessantes.

Também achei que tinha pouca gente vendo. Mas é Pequim, uma cidade esquisita. Nada de diagnósticos definitivos. Não ainda.

E os carros? Bem, não são muito velozes. Mas a sensação de velocidade, dependendo da câmera, é OK. E o ruído é esquisito, futurista, intrigante. Não sei direito ainda se gosto, ou não. Os pneus cantando me deixaram meio agoniado. Parecia que iam bater em todas as curvas. Claro que, como todos aqui e lá, sou formado na escola do barulho, dos cheiros e da fumaça. Nada se compara, por exemplo, ao ronco de um V10 da F-1 de tempos recentes, ou ao odor ácido de gasolina de avião da mesma F-1 de tempos um pouco menos recentes, mas que peguei. Ou ainda à fumacinha de um dois tempos com óleo de rícino no tanque (pesquisem, tenho de acender a lareira).

Só que, como diz meu amigo Crispim, é assim. E pronto. Uma coisa não vai substituir a outra. Ainda. Mas pode ser que num futuro que não sei quando será os carros sejam todos elétricos. Ou movidos a nitrogênio líquido, ou a energia eólica gerada por borboletas e mariposas criadas em cativeiro. Quando isso acontecer, não haverá mais barulho, nem cheiro de gasolina, nem fumaça de nenhuma espécie. Também não haverá mais eu, portanto não me importo.