Blog do Flavio Gomes
F-1

NA BOTA (3)

SÃO PAULO (e sair) – Alguém há de dizer que os erros de Rosberguinho hoje em Monza evitaram o inevitável: um encontro na pista com Hamilton, que poderia gerar mais faíscas, atritos, tragédia e morte. Bem, houve quase isso. O encontro se deu no campo psicológico. Nico cometeu dois erros na freada para a primeira […]

nabota3SÃO PAULO (e sair) – Alguém há de dizer que os erros de Rosberguinho hoje em Monza evitaram o inevitável: um encontro na pista com Hamilton, que poderia gerar mais faíscas, atritos, tragédia e morte.

Bem, houve quase isso. O encontro se deu no campo psicológico. Nico cometeu dois erros na freada para a primeira chicane porque estava sendo pressionado por um Hamilton muito disposto a vencer. Ainda mais depois da porcaria de largada que fez, caindo da pole para o quarto lugar.

Foi ele mesmo que admitiu. “Lewis estava muito rápido atrás, então eu precisava melhorar meu ritmo e, como resultado, cometi um erro. É muito ruim. Perdi a liderança. Então, deste ponto de vista, foi bem decepcionante.” Dada a explicação.

O primeiro erro rosberguiano aconteceu já no início da prova, na nona volta, quando Hamilton ainda estava em terceiro. A corrida começou com o alemão assumindo a ponta após a vacilada do inglês. Outro que largou mal pacas foi Bottas, caindo de terceiro para décimo — o que foi ótimo, pois permitiu ao finlandês fazer uma de suas melhores corridas, dando um lindo espetáculo de ultrapassagens de todos os tipos; o repertório bottaniano é vasto.

Entre os que partiram bem estavam Massa, pulando para terceiro, e Magnussen, que apareceu em segundo como um foguete. Os dois brigaram até a quinta volta e o brasileiro, finalmente, passou, trazendo junto Hamilton. Pelo rádio, Rosberg ia sendo informado por seu engenheiro da posição do companheiro de equipe. “O outro carro está em terceiro”, avisou o indigitado. Outro carro é foda.

Quando Nico escapou na volta 9, o prejuízo não foi grande, porque Massa estava longe. Ele voltou à pista, desviando dos blocos de isopor, ainda em primeiro. Foi só um susto. Mas na décima volta, sem grande dificuldade, Hamilton passou o brasileiro e colocou-se em segundo, a 2s3 do líder do Mundial. Os três — Rosberguinho, Comandante Amilton e Massacrado — sumiram do resto. Lá atrás, Sapattos vinha escalando o pelotão para recuperar o que perdera na largada. Na volta 16, depois de passar Alonso como se cortasse manteiga com uma faca quente, já era sétimo. Na 18ª, atropelou Button e foi para sexto. É um puta carro, esse da Williams. E um puta piloto, esse da Williams.

O primeiro a parar para trocar pneus foi Vettel, na volta 19. Rosberg, lá na ponta, já via Hamilton pelo retrovisor: 1s4 na volta 16, 1s2 na 20, e de décimo em décimo, como se sabe, o piloto enche o papo. Bottas, na 21ª, se colocou onde deveria, dada a relação de forças de Monza, com Mercedes e Williams mais rápidas que todos: passou Magnólia Arrependida e foi para quarto.

Monza é corrida de um pit stop, como se sabe, e se Vettel parou cedo (pagaria por isso no final), foi quase na metade da prova que a turma começou a trocar pneus. Massa parou na 24ª e voltou em quinto. Rosberg foi para os boxes na 25ª, junto com Bottas. O alemão retornou atrás de Lewis, mas foi só por uma volta, porque o inglês fez o mesmo na 26ª. Bottas, no entanto, se deu mal. Voltou no tráfego e caiu para nono. Outro que se atrapalhou foi Ricciardo. Em terceiro, sem parar, voltou no meio de um enorme congestionamento, em 12°. A exemplo do finlandês da Williams, teve de remar muito e aproveitou para mostrar todo seu estoque de criatividade nas ultrapassagens. É bom demais, esse australiano. Ele e Sapattos serão os grandes nomes dos próximos anos.

Fechada a janela de paradas, Rosberg liderava com 1s2 para Hamilton, que ficava só ali, ciscando e pressionando. Massa já estava 12s atrás, em terceiro, e tinha mais de 13s para o quarto colocado — Kvyat, que largou em 21° e adiou sua parada até a volta 31; fez bela corrida, o pequeno soviético, até ficar sem freio no fim e quase estampar o Duomo de Milão. Mas conseguiu terminar em 11°, com ótima atuação.

Na 29ª, a pressão de Lewis se acentuou (como estou escrevendo bem, hoje). Ele fez a melhor volta da prova, passou na linha de chegada a 0s6 do líder, garras de fora, dentes cerrados, cara de mau. Rosberg se apavorou, gritou, agitou os braços, agora não, aqui não! E perdeu o ponto de frenagem de novo na mesma chicane. Perdeu o ponto, a liderança, o ânimo, a autoestima. Hamilton líder, e foi assim até o fim da prova.

Parênteses. Nesse momento, Alonso abandona melancolicamente a corrida. Problema no ERS. Ele, que tinha pontuado em todas as etapas do ano — a única coisa que a Ferrari tinha a comemorar em 2014 –, parou no fim da reta. Estava em décimo, coitado. Desolador. Me pergunto o que um piloto desse porte faz num time tão destrambelhado. Parênteses fechados.

Depois que passou Rosberg, Hamilton foi embora. Abriu mais de 2s6 em uma volta e tchau. Trabalho mesmo tinha Bottas. Voltou a se aproximar de algo digno do carro que tinha nas mãos na volta 36, quando passou Magnussen e assumiu o quinto lugar. Nessa disputa, o mclariano, de acordo com a direção de prova, forçou a barra. Tomou um stop & go de 5 segundos, aqueles mandraques, que podem ser cumpridos em troca de pneus. Se não para para trocar pneus, o piloto tem 5 segundos acrescidos ao seu tempo total de prova. Claro que Kevin, que é moleque, mas não é bobo, não cumpriu. Terminaria a prova em sétimo, e com os 5 segundos a mais foi classificado em décimo. Achei a punição babaca. Magnussen não fez nada demais. Por isso achei legal que a pena tenha sido cumprida de um jeito igualmente babaca.

Bottas reassumiria o quarto lugar na volta 40, ao passar Vettel. Legal mesmo estava a briga do sétimo ao nono, com Pérez, Button e Ricciardo. O rubrotaurino passou os dois. Bonitton e Maria do Bairro quase desceram de seus carros para trocar sopapos. No fim, o mexicano chegou na frente. Foi bem divertido. Ricardão ainda passaria Magnólia e Vettel, que tinha pneus em petição de miséria. Terminou em quinto.

Nova dobradinha da Mercedes, sem tentativa de recuperação de Rosberg, com Williams em terceiro e quarto. Resultado previsível, construído de forma não muito linear, porém. Hamilton teve de se recuperar da má largada e contou com o erro de Nico. Massa fez uma boa largada e uma corrida muito consistente, voltando ao pódio depois de mais de um ano. O último fora na Espanha em 2013, com a Ferrari. Legal para o brasileiro, que precisava muito de um bom resultado. Bottas soube reconquistar o que perdera no início, mas não teve a menor chance de se aproximar do pódio. Depois de Ricardão, o quinto, fecharam os pontos Vettel, Pérez, Button, Raikkonen e Magnussen, com seus 5 segundos de pena.

Na classificação, Hamilton descontou sete pontos de Nico. A vantagem do alemão caiu de 29 para 22 (238 a 216). Foi a 13ª etapa do Mundial. Faltam seis, ainda, e a última tem pontuação dobrada. Está tudo aberto e Lewis, claro, muito vivo na disputa. No pódio, Rosberguinho foi vaiado. “Não é legal, mas o que posso fazer? O que aconteceu em Spa já passou para mim. Eu me desculpei. Só espero que, com o tempo, as pessoas perdoem e esqueçam. Isso seria ótimo. Eu pedi desculpas, não posso fazer mais que isso”, disse. É isso aí.

Trágico, mesmo, é o momento da Ferrari. Com o resultado de hoje, a Williams assumiu o terceiro lugar entre os construtores, com 177 pontos. Os italianos permanecem com 162. É quase uma vergonha. Ainda no quesito números, foi a 28ª vitória da carreira de Hamilton, deixando para trás Jackie Stewart nas estatísticas. É o sétimo maior vencedor da história. Foi a sexta vitória no ano, contra quatro de Rosberg.

No pódio, depois das vaias, Hamilton foi perguntado por Jean Alesi, o mestre de cerimônias, se ele e Nico eram amigos. “Claro, somos companheiros de equipe”, respondeu o inglês.

Gozada essa gangorra de 2014. Agora, o momento psicológico é melhor para Hamilton. Dá até para tirar uma onda.