Blog do Flavio Gomes
F-1

IMAGENS DO JAPÃO (5)

SÃO PAULO – No momento em que escrevo, Jules Bianchi é atendido no Hospital Universitário Mie, em Tsu, a cerca de 15 km de Suzuka, para onde foi levado inconsciente de ambulância, e não de helicóptero. Este primeiro parágrafo será atualizado assim que novas notícias surgirem. O Grande Prêmio está de plantão permanente acompanhando a […]

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SÃO PAULO – No momento em que escrevo, Jules Bianchi é atendido no Hospital Universitário Mie, em Tsu, a cerca de 15 km de Suzuka, para onde foi levado inconsciente de ambulância, e não de helicóptero. Este primeiro parágrafo será atualizado assim que novas notícias surgirem. O Grande Prêmio está de plantão permanente acompanhando a situação do piloto da Marussia.

Para quem não sabe, na 42ª volta do GP do Japão, já com chuva mais forte do que a que caiu durante a maior parte da corrida, Adrian Sutil aquaplanou, rodou e bateu na curva 7. Logo depois Bianchi, 25 anos e 34 GPs disputados, escapou no mesmo lugar e seu carro entrou debaixo do trator que estava removendo o Sauber do alemão. Não há imagens da batida. Melhor dizendo: claro que há, sempre há imagens de tudo, mas certamente elas foram vetadas pela chefia da categoria.

O safety-car foi acionado. O carro médico foi para a pista, assim como uma ambulância. Na volta 46, foi dada bandeira vermelha. Como já estava ficando escuro e chovia demais, em poucos minutos a direção de prova decretou o fim da corrida. Hamilton venceu, com Rosberg em segundo, na previsível dobradinha da Mercedes. Vettel fechou o pódio. Valeram as posições da volta 44.

Já no pitlane Hamilton foi avisado da gravidade do acidente. Ele, Nico e Sebastian foram receber seus troféus numa cerimônia absolutamente dispensável diante da apreensão e das notícias nada boas que vinham do centro médico, de onde Jules era levado por terra para o hospital em Tsu.

Há duas versões para a não utilização do helicóptero, que chegou a ser ligado e, por algumas fotos que recebi, decolou, inclusive — por quê, não sei. A primeira, de que por causa da chuva não era seguro o voo; a segunda, de que foi uma opção médica, mesmo. E também aqui, duas versões: a ambulância seria mais bem equipada tecnicamente para monitorar o estado da vítima; ou o estado de Bianchi não recomendava voo, algo que acontece em casos de lesões que levam a aumento de pressão intracraniana.

Quanto à corrida, discordo dos que acharam uma aberração ela ter acontecido. Choveu, está certo, mas não muito mais do que em muitas provas que já vimos na história distante e recente da F-1.

O tufão Phanfone, que atingiu a costa leste japonesa, fez virar o tempo, como era previsível, e com bastante chuva e muita água na pista a corrida começou atrás do safety-car. Depois de duas voltas, pilotos berrando pelo rádio que não dava para enxergar nada, bandeira vermelha e todo mundo de volta para o grid para esperar a chuva diminuir.

Isso aconteceu e cerca de meia hora depois a direção autorizou o reinício da prova, novamente atrás do safety-car. Nessa, Alonso ficou, com pane elétrica. Foi só na décima volta que, agora com pilotos berrando para começar logo aquela droga, o safety-car se mandou e o GP do Japão começou para valer.

Estavam todos com pneus para chuva forte, os “wets”, mas um piloto, logo de cara, foi para os boxes colocar intermediários: Jenson Button, da McLaren. Na volta seguinte, a 12ª, nada menos do que 13 pilotos seguiram a dica do inglês e se dirigiram ao mesmo tempo para os boxes, numa zona danada. Na passagem seguinte, pararam os demais, exceção feita à dupla da Mercedes, Rosberg e Hamilton, que lideravam a corrida com folga.

Nico faria seu pit stop na volta 14. Lewis, na 15ª. Quando ambos voltaram à pista, mantiveram as colocações, com o espertinho Button em terceiro — por ter parado antes que todo mundo, Jenson ganhou cinco posições. Bottas, Massa, Vettel e Ricciardo vinham atrás. Na 16ª, Sebastian passou lindamente pelo brasileiro. Ricciardo fez o mesmo na volta seguinte. A Red Bull tinha apostado na chuva e acertado seus carros para o molhado — comprometendo a classificação, mas levando vantagem na corrida. Nas voltas 18 e 19, Vettel e Ricciardo passaram Bottas, também em manobras muito bonitas.

Lá na frente, Rosberg e Hamilton seguiam juntinhos, com a diferença entre ambos raramente resvalando nos 2s. Para Button, o terceiro, uma enormidade: quase 20s. Na volta 24, com a chuva dando uma trégua, foi liberado o uso da asa-móvel. Então, Lewis apertou o ritmo para atacar Rosberg de verdade. Na volta 29, depois de ensaiar algumas vezes, foi para cima do rival na reta dos boxes e, no final dela, a mais de 330 km/h, assumiu a liderança numa belíssima ultrapassagem. E foi embora.

Na volta 30, Vettel abriu a segunda janela de troca de pneus — ou terceira, considerando que na primeira bandeira vermelha, lá no comecinho da corrida, todo mundo que quis colocou pneu novo, também. Button também antecipou sua parada, foi para os boxes na 32ª, mas se atrapalhou para engatar a primeira marcha e voltou atrás do alemão da Red Bull. Ricciardo assumiu a terceira posição.

Rosberg parou na volta 34, Hamilton foi para sua troca na 36, Ricciardo também parou, voltou atrás de Button, os dois travaram um belo duelo, a chuva apertou e alguns começaram a colocar pneus “wet” novamente. Quando a turma da frente começava a pensar no que fazer para encarar o aguaceiro na fase final do GP, aconteceu a batida de Sutil, e depois de Bianchi, e aí a bandeira vermelha e fim de papo.

Sutil, a testemunha ocular do acidente, se recusou a descrever o que viu em detalhes. Falou apenas que Bianchi escapou no mesmo lugar que ele e bateu de lado no trator. Sua aparência era de grande consternação. Criticou o fato de o safety-car não ter sido acionado na hora da sua batida. No local foram mostradas apenas bandeiras amarelas, enquanto o guindaste retirava seu carro. Somente quando Bianchi bateu a direção mandou o safety-car para a pista.

Massa, amigo de Jules de longa data (o menino faz parte do programa de desenvolvimento de talentos da Ferrari), falou duro sobre as condições da pista. “Eu fiquei gritando feito louco pelo rádio por cinco voltas antes do safety-car, porque tinha muita água e estava muito perigoso”, desabafou.

Foi a oitava vitória de Hamilton no ano, 30ª na carreira. Os três pontos que tinha sobre Rosberg na classificação viraram 10: 266 x 256. Depois da dupla da Mercedes chegaram, na zona de pontos, Vettel, Ricciardo, Button, Bottas, Massa, Hülkenberg, Vergne e Pérez.  No Mundial de Construtores, a Williams se distanciou da Ferrari na briga pelo terceiro lugar (201 x 178), já que o time vermelho zerou em Suzuka. A luta pela quinta posição está boa, com a Force India apenas um ponto à frente da McLaren (122 x 121).

Isso, no entanto, não tem a menor importância nesta hora.