Blog do Flavio Gomes
F-1

S DA SALVELINA (5)

SÃO PAULO (tem de ver isso aí…) – Alguma coisa está muito errada numa categoria em que um piloto de 17 anos que hoje fez seu terceiro treino de verdade na F-1 consegue marcar um tempo de volta apenas 0s085 pior que o de outro de 33 anos e 14 temporadas nas costas. Max Verstappen andou […]

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SÃO PAULO (tem de ver isso aí…) – Alguma coisa está muito errada numa categoria em que um piloto de 17 anos que hoje fez seu terceiro treino de verdade na F-1 consegue marcar um tempo de volta apenas 0s085 pior que o de outro de 33 anos e 14 temporadas nas costas.

Max Verstappen andou nas sextas-feiras de Suzuka e Austin e, agora há pouco, terminou na sexta colocação o primeiro treino livre para o GP do Brasil. Cada sessão dessas tem 90 minutos de duração. Max não ficou rodando esse tempo todo, claro. Foram 26 voltas, o que dá mais ou menos meia hora andando, efetivamente. Na prática, sua experiência dirigindo um carro da categoria se limita a pouco mais de uma hora e meia, contando os três treinos que fez.

O jovem holandês, confirmado pela Toro Rosso como titular no ano que vem, virou sua melhor volta em 1min13s827.

Fernando Alonso é bicampeão mundial, estreou em 2001, disputou 232 GPs, ganhou 32 deles, fez 22 poles e defendeu Minardi, Renault, McLaren e, agora, Ferrari. Seu melhor tempo em Interlagos hoje, na primeira prática, foi de 1min13s742.

Um de Toro Rosso, 17 anos, nem tem pelo no sovaco. O outro de Ferrari, 33 anos, rosto já marcado pelo tempo, considerado um dos três melhores pilotos da atualidade — para muitos, o melhor –, quinto maior vencedor da história. E a diferença entre eles no treino que acabou de acabar foi de 0s085.

Não, Alonso não é apenas 0s085 melhor que Verstappen. Não tem cabimento. Como não tem cabimento ver na tabela de tempos Kvyat, 20 anos, igualmente de Toro Rosso, 0s019 à frente do espanhol. Que diabo de Fórmula 1 é essa?

A tabela de tempos de Interlagos diz muito sobre o rumo que a F-1 está tomando, e é um desastre. Os carros não são fáceis de pilotar, ao contrário do que muita gente imagina, mas possuem uma característica curiosa. Qualquer piloto minimamente preparado consegue extrair deles quase 100% daquilo que podem render. Porque sua tarefa é uma só: dirigir. Melhorar o carro, entender o que acontece numa curva, numa freada, numa mudança brusca de direção, o que se passa com os pneus, quando a temperatura dos freios é ideal, quando é preciso mexer numa asa, na suspensão, nas molas, nada disso um piloto precisa perceber. Os engenheiros, lendo em seus computadores tudo que os sensores instalados em cada centímetro quadrado do carro enviam de informações, se encarregam disso.

Assim, cabe ao piloto unicamente ter bolas para fazer aquilo que os computadores indicam que é possível fazer. E a maioria tem. Aquilo que a gente chama de diferencial, o talento específico para uma determinada tarefa, tem cada vez menos peso no resultado final.

Essa descrição acima está longe de ser uma novidade. Desde os fim dos anos 80, quando a eletrônica invadiu a categoria, que se fala nisso. Que na F-1 o piloto tem cada vez menos importância, que é muito fácil guiar os carros, que os engenheiros comandam tudo de dentro dos boxes, que um dia veríamos carros andando sozinhos na pista e pilotos com joy-sticks na mureta dos boxes.

O que sucede atualmente é que tem gente do lado de fora do carro que sabe muito mais do que está acontecendo dentro dele que o pobre diabo encarregado de pilotá-lo. Este está virando, cada vez mais, um cumpridor de ordens. Se cumprir direitinho, nem é preciso ser tão talentoso assim. Vai se aproximar, de uma forma ou de outra, daqueles que realmente têm qualidades especiais. Verstappen a 0s085 de Alonso. É isso que quero dizer.

Feita a digressão, vamos ao primeiro treino.

A Mercedes dominou amplamente, óbvio, com Rosberguinho em primeiro, 1min12s764. Seu tempo foi cerca de 1min02s melhor que o do Meianov em seus melhores momentos na Classic Cup. Pelo que custa meu carro, nada mal. Para mim, claro. Hamilton ficou em segundo a 0s221. Kvyat, o terceiro, fechou sua melhor volta a 0s959 de distância.

Na boa, tomar um segundo em Interlagos na F-1, pistinha curta e de voltas muito rápidas, as mais rápidas da F-1 (não em velocidade média, em tempo de volta, mesmo, pouco mais de 1min), é feio. E a Mercedes está mostrando como o resto está feio. Alonso foi o quarto, Massa terminou em quinto e Nasr foi o 12°, tendo completado 22 voltas.

Não choveu até agora, o dia está nublado, o sol aparece de vez em quando e o público, como sempre às sextas, é reduzido. A sessão teve uma ou outra rodada e apenas uma batida, do espanhol Daniel Juncadella, que tem feito uns treininhos pela Force India de vez em quando. Ele escapou no Laranjinha e causou a primeira bandeira vermelha do fim de semana. A panca não foi muito violenta, mas deu uma arrebentada básica em seu carro.

Já voltamos, para falar do baixo astral da F-1. Cada vez mais baixo, porque acabamos de saber que a Marussia fechou as portas de vez.