Blog do Flavio Gomes
#69

PAPEL E PISTA

SÃO PAULO (é bom, sim) – Vocês se lembram do Daniel Massa, certamente. Semana passada postei aqui um Ciferal da Itapemirim que ele fez, de papel, e na cara dura pedi para ele me dar de presente. Como ser cara-de-pau vale a pena, às vezes, ganhei o ônibus. Ainda não chegou, mas o Daniel já colocou […]

SÃO PAULO (é bom, sim) – Vocês se lembram do Daniel Massa, certamente. Semana passada postei aqui um Ciferal da Itapemirim que ele fez, de papel, e na cara dura pedi para ele me dar de presente. Como ser cara-de-pau vale a pena, às vezes, ganhei o ônibus. Ainda não chegou, mas o Daniel já colocou no correio.

Aí estava eu feliz da vida ontem à noite, esperando o Sedex chegar, quando recebo um e-mail. Nele, um link e as fotos.

Já viram? Pois é. O Meianov de papel. Perfeito. Até a fitinha amarela para centralizar o volante. Até o adesivo da empresa do Dú Cardim. Até os logotipos retrô que comprei em Le Mans. Até os adesivos dentro do carro!

Daniel, com o perdão da expressão pouco delicada, é um puta artista. Fiquei  curiosíssimo para saber de onde vinha tanto talento, o que ele faz da vida, onde mora e tal. Mandei um e-mail agradecendo a deferência ao glorioso soviético e enchi o cara de perguntas, também, sobre o método de produção dessas miniaturas de papel — que considero espantosas.

Aí a resposta da figura…

A criação do carro é em cima de um “blueprint”, que é um tipo de planta do carro em ângulos retos sem perspectiva. Isso é usado para modelagem 3D também. Mas como não sei nada de modelagem eu faço tudo em 2D, direto no CorelDraw, que é um software de desenho vetorial. É uma prancheta com efeitos no computador. Vou desenhando sobre o blueprint e montando as peças com a imaginação. Como sou muuuito experiente (ah, tá!) em criação já tô conseguindo montar mais rápido um modelo como esse seu Meianov sem fazer muita cagada. Mas ainda assim sai cagada. Então volto ao Corel e redesenho a peça.

As logomarcas são basicamente achadas no Google. Algumas mais difíceis, como seu nome na janela lateral, eu peguei uma fonte parecida com a que você usa no carro. Não é idêntica, mas engana. A arte gráfica do carro eu desenhei na “muqueta” mesmo. O padrão vermelho e branco usado eu não encontrei pra copiar, mas percebi que é formado apenas por bolinhas. Então eu “roubei” a arte do cara que criou e fiz igual. Tem que ser assim. Se não acha pra copiar, tem que desenhar.

A parte de dentro, como bancos, extintor, cinto e toda essa parafernália, eu vou na observação de fotos. Tento copiar o máximo possível de detalhes para chamar bem a atenção e desviar a atenção dos defeitinhos. Levo a um bureau de impressão, que é feita a laser em papel couchê 170 gr/m² ou 210 gr/m², dependendo do tamanho do modelo. A montagem é feita com recorte por bisturi, tesoura, cola branca, Super Bonder (qualquer outra genérica aporcalha tudo). A gaiola de proteção foi feita com fio rígido de 1,5mm. As janelas são de transparência para retroprojetor. O resto é paciência e capricho

Quanto a mim, moro na Bahia há 9 anos. Tenho 39 anos e vim do interior de São Paulo para morar com minha esposa, natural daqui de Ilhéus. Eu sou um apaixonado por automobilismo e que tem alguma habilidade com as mãos. Por não ter grana pra comprar modelos de carros de corridas, descobri o papercraft, que é uma forma de modelismo em papel. Quase ou mais detalhado que o plastimodelismo, dependendo do projeto.

Meu pai era pintor de automóveis e trabalhou um tempo numa oficina de um cara que tinha uma equipe na Divisão 3. Ele pintava um dos Fuscas da equipe, do Carlos Manzetti (Fusca esse que está no meu blog), e me levava às vezes para a oficina. Eu ficava babando no carro, o dia todo. E um dia ele me levou a Interlagos (acho que era 1984) e fui ver aquele Fusca se estapeando com Opalas e Fiats 147 na reta. Sinto o cheiro daquele lugar até hoje, acredite!

Não tenho formação acadêmica, mas sou técnico em informática, já trabalhei um pouco como arte finalista em um jornal, gerente de farmácia, gerente de restaurante… Não nego desafios. Hoje sou motorista particular de uma família. Meu escritório é um Corolla 2009 (eu sei que torceu o nariz agora… hahaha), até encontrar algo mais apropriado pra fazer. Quem fica parado é poste.

É isso, qualquer coisa me pergunte que estou à disposição para responder. E feliz que tenha gostado.

Abração!

Daniel Massa

Bom, o Daniel é dos nossos. Mora em Ilhéus, o que é de matar de inveja este velho blogueiro apaixonado pelo Nordeste. Acho que entendi como fazer as miniaturas, embora para mim seja algo próximo do impossível. Nem preciso dizer que ficou espetacular. E é claro que autorizei a disponibilizar o download, é uma grande honra, na verdade.

E a história de vida do nosso artista é muito bacana. Essas lembranças de Interlagos calam na alma. Daniel, meu brother, venha a São Paulo um dia ver nossas corridas de perto. Dê um jeito. Fica em casa, tem lugar. Pode trazer a família toda. Convite feito, recusas não serão aceitas.

Falando nelas, as corridas, teremos a primeira etapa da Classic Cup no outro sábado, dia 24, em Interlagos. Clubes e federação negociaram com a SPTuris e vai dar para fazer essa prova antes do fechamento definitivo do autódromo para as reformas. Estão todos convidados também. Aliás, Daniel, se quiser tentar (sei que está meio em cima da hora), óbvio que a convocação vale para essa corrida. Com Meianov na pista, desfilando toda sua elegância russa.

ATUALIZANDO…

Convenci o Daniel a aceitar encomendas. Ele, a princípio, faz qualquer coisa de papel. Quem quiser pedir algo deve escrever para elvismassa2@gmail.com e combinar tudo — modelo, cor, tamanho, preço, frete.