Blog do Flavio Gomes
F-1

BUMERANGUES (5)

SÃO PAULO (comentem aí!) – A abertura da temporada 2015 da F-1 da Depressão teve 11 carros chegando ao final. Onze. E 15 largando. Quinze. E tem gente que acha que estou exagerando. Que sou saudosista. Que não aceito os novos tempos. Que sou refratário à beleza da tecnologia aplicada à categoria. Que fico implicando com […]

boooooo4SÃO PAULO (comentem aí!) – A abertura da temporada 2015 da F-1 da Depressão teve 11 carros chegando ao final. Onze. E 15 largando. Quinze. E tem gente que acha que estou exagerando. Que sou saudosista. Que não aceito os novos tempos. Que sou refratário à beleza da tecnologia aplicada à categoria. Que fico implicando com o barulho dos carros.

Bonitões, implico com o mau espetáculo. Com a escassez de carros. Com a falta de empolgação. Com a ausência de disputas. Com a previsibilidade do resultado. Com o tédio da madrugada.

Bem, vamos ao GP da Austrália. Com pouca gente na pista, a largada foi razoavelmente tranquila. Mas o safety-car já foi acionado na primeira volta. Maldonado foi tocado por Nasr (que fora espremido por Raikkonen) e acabou no muro. O brasileiro da Sauber largou muito bem, diga-se. Apareceu em sexto logo de cara. Lá na frente, todo mundo se manteve onde estava: Comandante Amilton na ponta, Rosberguinho atrás, Massa na sequência.

Mas o grid ficava cada vez mais magro. Só para lembrar, deveriam ser 18 largando. Acontece que Bottas, que comeu tatu na véspera, não pôde correr, vetado pelos médicos. No caminho para o grid Kvyat quebrou o câmbio e Magnussen explodiu seu motor. Prontos para largar, mesmo, 15 carros. Com a batida de Maldonado logo na largada, sobraram 14. No fim da primeira volta, Grojã abandonou com problemas elétricos. Ficaram 13.

E foi com esses 13 gatos-pingados que na terceira volta houve a relargada e a prova começou para valer. Nasr passou Sainz Idade rapidinho e assumiu o quinto lugar. A Mercedes sumiu na frente.

Aí a corrida ficou um tempão sem que nada relevante acontecesse. Assim, dá tempo de falar um pouquinho sobre as novidades da TV Globo…

Algum gênio na emissora, por esses dias, teve a ideia de… inovar. Vamos inovar! Vamos revolucionar! Vamos quebrar tudo! Como? Ora, ora, é fácil! Só chamar uns atores, usar o estúdio da Fátima Bernardes, chamar um DJ (putz, tem até um que foi piloto, olha só que gênio eu sou!), colocar algum atleta ou ex-atleta de outro esporte e chamar alguma mulher gostosa (putz, tem até uma que pilota carros de corrida, olha só que gênio em dobro eu sou!). Faremos uma espécie de “Esquenta” (Regina Casé não deve ser descartada) ou “Corujão”, ou “Caldeirão”! Só precisa pedir para o Luciano tomar cuidado com as camisetas…

E foi mais ou menos isso que fizeram. Enfiaram uma multidão no estúdio, o trio responsável pela transmissão, mais a pilota, os atores, o ex-jogador de vôlei, o ex-piloto que virou DJ. Não sei se tinha mais alguém, num determinado momento abaixei o som e fiquei apenas com as imagens, porque, sinceramente, não dava.

Nas redes sociais, a Grande Inovação virou a “balada vip do Galvão”. O horror, o horror. O cara do vôlei, não sei direito quem era, veio com o indefectível “eu gostava muito quando tinha o Senna, mas depois que ele morreu não acompanhei mais”. As opiniões dos atores, sério… O que esses caras têm de realmente importante para falar numa transmissão de F-1? Cadê as informações que realmente importavam, tipo caso Van der Garde, ausência de Bottas, problemas da McLaren, impossibilidade da Marussia de ligar os carros, estreia do Nasr, estado de saúde de Alonso, primeira corrida de Vettel na Ferrari? Assunto, jovens, não faltava.

Mas que nada, dane-se isso tudo, o negócio é ver o Boesel colocar uns discos na picape, os atores darem seus palpites, depois mostrar os “bastidores” da transmissão com o narrador e os dois comentaristas diante de telas de TV com microfones na mão. Isso sim é legal. Afinal, a F-1 precisa seduzir um público novo!, bradou o Grande Gênio que concebeu a Grande Inovação.

Gente, se essa patacoada seduziu alguém que nunca tinha visto uma corrida na vida, corto os pulsos — para não dizer outra coisa. Esse festival de bobagem não atrai ninguém e só deixa aqueles que gostam do negócio com raiva, muita raiva de ser tratado como um débil mental. Foi, disparado, a coisa mais ridícula que a emissora oficial fez desde que começou a transmitir corridas, na década de 70.

Mas vai ter gente lá que achou genial, certeza.

Bem, voltemos à corrida. Ali pela volta 13, momento ternura de Button, se defendendo de Pérez. Isso, claro, na briga para não ficar em último — no caso, em 13º, lembrem-se que era isso que tínhamos na pista, 13 carros. Se tocaram, claro. Pérez se saiu pior. O esforço de Jenson para não ser ultrapassado foi comovente, de verdade.

Com 17 voltas, Raikkonen foi aos boxes abrindo a primeira janela de pit stops. Na verdade, sua primeira janela. Parou cedo, colocou pneus macios e indicou que faria outra parada — a maioria partiu para um pit stop, apenas. Era o sexto. Voltou em 11º, na frente de Button. O pneu traseiro esquerdo meio que se recusou a participar da prova, mas acabou sendo convencido pelos mecânicos de que era legal e tal. A demora acabou jogando o finlandês lá para trás.

E a corrida se arrastava previsivelmente sem emoções, com pouquíssima gente na pista, todos espalhados pelos mais de 5 km do Parque Alberto. Uma tristeza. Hamilton e Rosberg desapareceram de todos, mas Nico, em nenhum momento, esboçou algum ataque. Outra tristeza.

Na volta 22, box para Massa, que colocou pneus médios. De terceiro, caiu para sexto. Sua briga era com Vettel, o quarto colocado, que o escoltava desde o início — também sem tentar ataque nenhum. Tião Italiano foi para o box na volta 25. E a Ferrari fez a lição de casa direitinho, devolvendo-o à frente de Felipe, o da Williams, que perdeu tempo atrás de Ricciardo quando voltou do pit stop. Na 26ª, Hamilton fez sua troca. Tudo tranquilo no quartel alemão, zero susto. Rosberg veio na sequência e, igualmente, tomou um cafezinho e voltou onde estava.

Kimi era o único com estratégia para duas paradas, entre aqueles que estavam brigando por alguma coisa. Por isso, tinha de abrir uma boa vantagem para Nasr e Ricciardo, com quem teoricamente brigaria no fim. Nasr era o sétimo, atrás de Verstappinho, que ainda não tinha parado.

E depois dos pit stops a prova seguiu num ritmo sonolento, esperando apenas pela segunda visita de Raikkonen aos boxes, que poderia mudar algo. Na volta 34, o jovem Max estourou o motor, deixando a corrida com 12 na pista. Doze carros, pouco depois da metade da prova. De chorar.

Lá pela volta 40, Ricardão encostou em Felipe II. Raikkonen parou na volta 41 para seu segundo pit stop. Voltou em quinto. Nasr seguia em sexto, na boa, segurando o sorridente australiano da Red Bull. Mas foi só sair do box e Raikkonen parou. A roda traseira esquerda, a mesma que atrasou sua primeira parada, não foi devidamente presa. E o time avisou o finlandês pelo rádio. Um abandono deprimente para o piloto, que fazia uma boa corrida.

Bom para Nasr, que recuperou o quinto lugar. E foi assim até o final, sem que Ricardão conseguisse se aproximar do brasileiro do Banco do Brasil.

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Hamilton ganhou, claro, sem suar o macacão. “Não precisei andar muito rápido”, disse, depois da prova. Nico foi o segundo, sem ter tido, em nenhum momento, uma atitude que indicasse que queria lutar pela vitória. Vettel fechou o pódio, começando bem sua trajetória na Ferrari. E na sequência vieram os dois Felipes, Massa e Nasr. Para o primeiro, o resultado não foi excepcional. Um pódio era o que ele esperava, mas quando ficou atrás de Sebastian, ali permaneceu. O segundo, da Sauber, tinha muito a comemorar. O quinto lugar representou a melhor estreia de um brasileiro na história da F-1 — antes dele, Wilson Fittipaldi fora sétimo na Espanha, em 1972, e Chico Serra conseguira também um sétimo no GP dos EUA/Oeste de 1981, em Long Beach. Fecharam a zona de pontos Ricciardo em sexto, Hülkenberg em sétimo, Ericsson em oitavo (acabou indo muito bem, a Sauber), Sainz Jr. em nono (também estreando com pontos) e Pérez em décimo. Button foi o único que terminou sem pontuar. Onze viram a quadriculada. Onze.

(Parêntese. Ao ver Jenson receber a bandeirada em 11°, Alonso, deitado na enorme cama king size da maior suíte de sua bela casa na Espanha, tocou o sininho para chamar a governanta e pedir o café da manhã. A estratégia estava traçada desde as primeiras voltas da corrida, quando Magnussen abandonou em meio a um denso fumacê. Assim que a governanta entrou, Fernando a chamou de Stefano Domenicali. Mas señor Fernando, yo soy Magdalena!, disse a governanta. Alonso continuou: Stefano, querido, vamos falar sobre meu contrato? Magdalena imediatamente telefonou para os médicos, que neste momento estão com o piloto na enorme suíte escutando uma estranha cantilena, Fernando dizendo que se chama Adrilles e que só fala com o Bial no confessionário. Um dos médicos já ligou para Ron Dennis avisando que talvez para o GP da Hungria dê para contar com ele.)

Nasr foi um destaque, sem dúvida. Mas é bom ir devagar com o andor antes de elevá-lo à condição de novo Senna, ou algo parecido — o que será feito nos telejornais, naturalmente. Foi uma corrida sem carros, praticamente. Dois que chegariam à sua frente, Raikkonen e Bottas, não chegaram porque o primeiro ficou com a roda solta e o segundo, nem correu. A Lotus igualmente não participou da corrida — Maldonado bateu e Grosjean quebrou na primeira volta. Ericsson também pontuou em oitavo, o que mostra como esse GP da Austrália foi fraco. E a Sauber aproveitou as circunstâncias para pontuar bem com seus dois carros.

Felipe II começou com o pé direito, claro, e mostrando serviço — o que é essencial para qualquer piloto. Largou muito bem, o que definiu seu resultado, e teve segurança e firmeza para andar na frente de Ricciardo quando houve uma ameaça de briga. Está de parabéns. Mas a moleza de Melbourne não será o padrão da temporada toda. De qualquer forma, conseguiu algo que nenhum brasileiro tinha conseguido até hoje, um quinto lugar na estreia. Não é pouco.