Blog do Flavio Gomes
F-1

CRIANÇAS OU AVÓS?

SÃO PAULO (o passado, lamento, era melhor) – A discussão sobre qual F-1 é mais legal, a de hoje ou a de tempos distantes, não chega a ser nova. Imagino que nos anos 90 se tinha saudade dos 60. Imagino, não. Tínhamos, sim. É normal. Mas o saudosismo e a nostalgia não devem ser predominantes […]

SÃO PAULO (o passado, lamento, era melhor) – A discussão sobre qual F-1 é mais legal, a de hoje ou a de tempos distantes, não chega a ser nova. Imagino que nos anos 90 se tinha saudade dos 60. Imagino, não. Tínhamos, sim. É normal.

Mas o saudosismo e a nostalgia não devem ser predominantes nessa discussão. A questão é: antes era bom e hoje é ruim? Sem saudosimo, sim. Antes era bom, e hoje é ruim.

O que não quer dizer que a F-1 deva necessariamente voltar à Idade da Pedra. Mas pode, claro, olhar para trás e tentar reaproveitar o que de melhor existia quando viveu o auge de sua popularidade.

Não gosto de posturas anti-passado, como a de Pat Symonds, da Williams. “Precisamos fazer uma F-1 que as crianças gostem, não os avós”, diz ele. Depois, acrescenta: “Não quero corridas-retrô”.

Bem, eu poderia dizer ao indigitado que no passado ninguém mandava neguinho bater o carro de propósito. Mas vamos olhar as coisas de outra maneira. O que se quer é uma F-1 antiquada? Claro que não. Mas é óbvio que se quer algo mais compreensível, divertido, numeroso e colorido do que essa porcaria de 20 carros de hoje.

Puxa, mas nos anos 80 e 90 era exatamente assim!

Pois é. E também havia tecnologia, e também era caro e tudo mais. Só que era mais humano, os pilotos eram mais interessantes, havia mais equipes, mais patrocinadores, mais tudo. E o público curtia. Muito. Ninguém ficava reclamando de chatice nenhuma. Vejam a foto (mais uma das que eu mesmo tirei em 1991 — está é de Magny-Cours, provavelmente uma sexta-feira de treino) aí embaixo. Quem está puxando a fila? Quem está atrás dele? Quantas equipes disputavam o Mundial? Onde estão Ligier, Gitanes, Goodyear, Minardi, Larousse, Tyrrell, Jordan, Brabham, Camel, onde está todo mundo?

Achar que é boa esta F-1 de 2015 com 20 carros, alguns sem patrocínios, correndo sabe-se lá com dinheiro de onde, muitos sem chance nenhuma de nada, disputada em lugares hiper-apaixonados por corridas como Bahrein, Abu Dhabi e Cingapura, é viver em algum mundo paralelo.

Está ruim. Precisa melhorar. Se for necessário olhar para o passado, que se olhe. Essa arrogância de achar que tudo que existe hoje é melhor do que o que existia ontem enche por demais meu saco.

E Pat Symonds não é exatamente nenhum garoto para ficar posando de moderninho.