Blog do Flavio Gomes
F-1

CHINATOWN (3)

SÃO PAULO (a gente se esforça…) – Bom, ao final da primeira volta, as posições em Xangai eram: Hamilton, Rosberg, Vettel, Raikkonen, Massa, Bottas, Grosjean, Nasr, Ericsson e Maldonado. Ao final das 56, com o safety-car puxando o pelotão enquanto chineses enlouquecidos tentavam tirar o carro de Verstappinho, quebrado, da reta dos boxes (não conseguiram […]

ct0000055566SÃO PAULO (a gente se esforça…) – Bom, ao final da primeira volta, as posições em Xangai eram: Hamilton, Rosberg, Vettel, Raikkonen, Massa, Bottas, Grosjean, Nasr, Ericsson e Maldonado. Ao final das 56, com o safety-car puxando o pelotão enquanto chineses enlouquecidos tentavam tirar o carro de Verstappinho, quebrado, da reta dos boxes (não conseguiram encaixar no buraco da mureta), as oito primeiras posições eram exatamente as mesmas do fim da primeira volta. Ericsson caiu para décimo. Em nono, apareceu Ricciardo, que empacou na largada e foi o único piloto que teve trabalho de verdade para ganhar posições, depois de despencar para 16° — sofreu com Sonyericsson e entreteve por alguns minutos quem se manteve acordado.

E teve Maldonado, que foi divertido, errando até na hora de entrar nos boxes.

E acabou. Sim, pessoal, sim, gente, sim, amigos, sim, senhoras e senhores, sim, meninos e meninas.

Foi a pior corrida de todos os tempos desde que me lembre, embora minha memória nunca vá muito longe em alguns assuntos. Nada mais tendo a dizer, firmo e dou fé.

E eu poderia ir dormir agora, mas serei legal com vocês e seguirei com uma ou outra consideração.

O GP da China terminou como começou porque assim será a F-1 nesta temporada. “Não, não temos um campeonato”, lembram? Foi o que eu falei depois de Sepang, apesar do entusiasmo juvenil (e, no caso de alguns jornalistas — estou a fim de dar porrada, hoje —, mentira mesmo) de alguns com a vitória de Tião Italiano.

Na largada, tirando Ricardão, que ficou parado, destaquem-se Raikkonen e Bottas, que (também como escrevi ontem) partiram para cima de Massa e passaram. Felipe se recuperou em cima de seu companheiro de equipe. E o que se viu depois disso foi um desfile monótono, pouco criativo, sonolento, aborrecido, indigesto, enfadonho, maçante, enfastioso, tedioso, fatigante, soporífero, monocórdio, desagradável, enjoativo, cansativo, árido, insípido, chato pra caralho.

Nada mais de relevante aconteceu. Duas paradas para todo mundo, quase todos deixando os pneus médios para o stint final. Fumacê no carro de Kvyat, motor estourado gloriosamente, para desespero da Renault, que só leva lambada da Red Bull. McLaren se arrastando e tomando volta. Manor Marussia idem, sem brigar sequer com a McLaren! Maldonado chegou a disputar posição com Button. Os dois se esfregaram, o venezuelano abandonou, Alonso passou ambos. E a duas voltas da bandeirada, como que para colaborar com o gran finale para um espetáculo deprimente, Verstappen quebra o motor, encosta na mureta da reta dos boxes, o safety-car vai para a pista e enquanto os chineses tentavam acertar o buraco a corrida chegava, felizmente, ao final.

Comandante Amilton chegou à sua segunda vitória no ano, quarta na China, 35ª na carreira. Rosberguinho, sorridente, recebeu seu troféu e tomou banho de champanhe alegremente, enquanto Tião Italiano festejava, igualmente, afinal subiu ao pódio pela terceira vez em três corridas — esse trio, aliás, repetiu-se em todas as corridas; só Hamilton, Rosberg e Vettel levaram taças para casa em 2015.

Não dá para dizer muito dos brasileiros, exceto reforçar que ambos chegaram nos pontos, o que vai acontecer quase o ano todo. No caso de Felipe I, porque a Williams é a terceira força do campeonato. É só não quebrar e não fazer besteira para chegar ali entre os seis primeiros. No caso de Felipe II, porque na prática é um Mundial de 16 carros (McLaren e Marussia não contam), e por isso não é preciso se esforçar muito para pontuar num regulamento que distribui suas migalhas aos dez primeiros colocados. É só não quebrar e não fazer besteira, também. E torcer para uma quebra ou outra de Toro Rosso e Force India. Serão muitos pontinhos e aquele oba-oba de sempre porque o menino logo na temporada de estreia, vejam só, está lá todo pimpão na classificação.

Não se iludam, rapazes,não se iludam.

Mas, Gomes, por que é que a Ferrari não ameaçou a Mercedes como na Malásia? Bom, primeiro porque a temperatura em Sepang era de 33 graus na largada, com 60 no asfalto. E porque lá a equipe alemã fez burrada no pit stop. Na China, 21 agradáveis graus, com 33 no asfalto. Situação que não atrapalha os mercêdicos no que se refere aos pneus. Não há dois GPs da Malásia o calendário. Aquelas condições de temperatura e pressão não mais se repetirão. Esqueçam, a Mercedes só não ganha tudo se relaxar. Hoje, Hamilton tinha aberto mais de 8s sobre Rosberg e desfilava a mais de 20s de Vettel antes do safety-car. Não há competição.

A coisa boa do domingo chinês foi ver Alonso cada vez melhor, depois do acidente de Barcelona que por pouco não abreviou sua carreira. Terminou em 12° e exultou: “Estamos batendo na trave! Este resultado é pra todo o pessoal de Faenza e da Brigdestone. Conseguir terminar uma prova longa como essa com apenas uma parada é uma grande proeza!”. Alguém o lembrou de que foram duas paradas, e Fernandinho piscou para a repórter: “Não conta pra ninguém, eu entrei sem querer para reabastecer e esqueci que não precisava, nosso motor é muito mais econômico que o da Simtek”. No meio da entrevista passou Grosjean ao seu lado com o macacão preto e dourado da Lotus, e Fernandinho deu-lhe um tapinha nas costas dizendo “parabéns, Emerson, mas esse cabelo loiro não ficou bom, preferia as costeletas”, e assim que avistou Lauda, gritou “hei, Niki, quando é que você volta? Minha avó mandou eu te dar o nome de uma pomada que só vende lá em Oviedo”.

Tem Bahrein semana que vem. É um pouquinho mais quente. Bem mais quente. Mas mudaram a largada dessa corrida para o fim da tarde, para que os fotógrafos possam fazer umas imagens do pôr-do-sol. Portanto, teremos mais do mesmo. Só que de noite.